Alguns filmes conseguem ser tão contundentes com suas histórias que ficamos literalmente em cima do muro para decidir se gostamos ou não do que vimos, pois como vamos dizer que gostamos da história real de um assassino contratado para dar fim de pessoas por dinheiro para poder sobreviver, ou ter uma vida melhor num país aonde a Justiça também é corrupta? Pois bem, o longa "O Nome da Morte" brinca com esses conceitos morais, e trabalha muito essa discussão de podermos gostar visualmente e até mesmo com a ideia do longa como uma ficção, mas se pararmos para discutir a realidade do fato de alguém ter feito disso uma "profissão" para ter uma vida melhor no país, aí já entramos num conceito de imoralidade e ninguém mais gosta do que é mostrado, alguns vão embora durante a sessão, e até mesmo nós ficamos pensando se gostamos mesmo do que passou na telona, ou seja, um filme que levanta tantas frentes, que causa um certo estranhar, mas que analisando friamente apenas como cinema, foi bem trabalhado, o ator entregou uma personalidade incrível cheia de bons trejeitos, e principalmente tivemos uma produção cheia de detalhes, porém acredito que quiseram ficar com algo mais próximo do real, e com isso a ficção ficou fraca, pois poderiam sim ter trabalhado apenas como baseado em fatos reais, e criado um super assassino envolvido em uma suposta corporação criminosa que teríamos um longa incrível, bem encorpado e que todos adorariam sem sequer pensar no rapaz como um assassino humanizado, como acabou acontecendo.
A sinopse nos conta Júlio Santana é um pai de família, um homem caridoso, um exemplo para sua família e um orgulho para os seus pais. No entanto, ele esconde outra identidade sob essa fachada: na verdade, ele é um assassino profissional responsável por 492 mortes. Entre a cruz e a espada, entre a lei e o crime, Júlio precisa descobrir uma forma de enfrentar os seus demônios.
O diretor e roteirista Henrique Goldman gosta de trabalhar com histórias reais, e geralmente consegue adaptar bem as tramas que lhe são entregues para que o filme fique num misto bem crível entre realidade e ficção, porém ainda falta para ele como disse acima saber tornar essas tramas policiais que anda pegando em algo mais voltado para a ficção, de modo que o público não recaia tanto para o lado humano de um personagem, pois volto a frisar a história aqui vista por um personagem estrangeiro seria linda e muitos se emocionariam, mas como é um brasileiro que se não fizer dessa forma para ganhar dinheiro "ilicitamente", o povo já cai matando. Mas tirando essa essência que acaba recaindo mais entre moral ou não, a grande falha da execução foi humanizar demais o personagem, pois sabemos que pistoleiros em sua maioria não possui muito coração e está lá pelo dinheiro ou por alguma vontade própria, e independente de sua situação ou não, vão fundo no que fazem, sem pensar muito, e aqui quiseram deixar ele quase como um galã, pegando um ator bonitinho, uma forma familiar, muita religião envolvida, e assim sendo o longa funciona bem como produção, com visual seco, com tiros fortes e precisos, uma sonoridade dura e barulhenta para nossos ouvidos, mas não empolga, nem engana muito como história.
No conceito das interpretações, basicamente o longa fica voltado quase que inteiramente para o trabalho de Marco Pigossi que nos entrega um Júlio completo de trejeitos, de desenvolvimento de olhares, que conseguiu transmitir diversas sensações em um único personagem multifacetado, e isso mostra o tremendo ator que ele é, pois o filme poderia ser completamente errôneo caso não conseguisse passar isso, e podemos dizer com toda certeza, se o filme foi bem entregue, isso se deve quase a 100% por parte de Marco. Fabiula Nascimento é daquelas atrizes que entregam expressões contundentes, mas que forçam em diversos momentos para dar certo, e aqui sua Maria é bem colocada em diversos momentos, e entrega boas dinâmicas para a trama, porém algumas cenas suas poderiam ter dado mais impacto contrário para o protagonista ao invés de recair para o tradicional, que não costuma funcionar tanto, e embora tenha até agradado, foi usada sempre em segundo lance. O que não aconteceu com as cenas fortes de André Mattos com seu Cícero, que conseguiu entregar praticamente da mesma forma que trabalha com personagens corruptos em tantos outros longas nacionais, aqui com alguém mais coloquial, como o famoso tio que insere alguém no meio, mas ainda leva uns trocados por fora, e com trejeitos bem colocados o ator acaba agradando e sendo coerente no que faz. Dos demais temos ótimas participações em diversas cenas, todos se colocando para encaixar bem com o protagonista, passando desde as caras de despreocupado ao máximo de Gillray Coutinho como Cabo Santos, até o maluco interpretado por Matheus Nachtergaele.
Agora ao mesmo tempo que temos algo muito bom que foi o desenvolvimento da produção para cenas fortes de tiros quase a queima-roupa, dando o ótimo impacto cênico, o longa se passa por vários anos, afinal temos desde o jovem começando sua carreira, tendo um filho, o garoto com quase 10 anos, mais um filho e tudo mais, e com isso dá para colocar que o longa se passa há vários anos atrás, mas nesses meados aparecem carros atuais demais, o que dá um contraste de erros, que não chegam a atrapalhar a qualidade da produção, mas que poderiam ter tido um cuidado melhor, com certeza poderiam. A parte de maquiagem/figurino também brincou muito com a barba do protagonista, exagerando em certos momentos (como no final) e indo para uma cena no miolo que nos deixa até perdido no espaço-tempo do longa, pois o jovem aparece brigando com o tio após a primeira morte, ou sabe-se lá qual, mas aparenta estar bem mais novo do que quando é "recrutado" para o serviço, ou seja, poderiam ter tido um pouco mais de cuidado com isso também. A fotografia é ousada, trabalhando tons fortes, misturando com luzes estourando na tela para ter uma brincadeira quase de nuances junto com os sons fortes de tiros, fazendo quase um reverbe no nosso ouvido assim como a morte reflete no protagonista, num contraste bem interessante de ser acompanhado.
Enfim, é um filme polêmico que funciona e que vai ter diversas opiniões para que cada um discuta da sua forma, mas que certamente poderia ter sido mais caprichado para não ter tantos defeitos técnicos, e como disse no começo ter assumido de cara ser uma ficção, pois a realidade funciona quando ela é bonitinha, quando temos a história de um "vilão" necessitado, o público acaba mais fugindo do que se envolvendo com ela. Ou seja, até recomendo o longa, mas tente não ir a fundo com um olhar crítico para tudo o que é mostrado, senão a chance de só reclamar, e não gostar do resultado, é bem alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto na quarta com o primeiro longa do Festival de Animes que teremos aqui nos próximos meses, então abraços e até mais.
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