Fazia tempo que não via nos cinemas o famoso docudrama, ou seja, a mistura de documentário com cenas interpretadas para dar um ritmo mais emocionante para determinado tema, e o mais interessante é que conseguimos enxergar o longa "Querido Embaixador" como uma ótima pesquisa de documentário, da qual diria que 90% ou mais da população sequer soube da existência de um embaixador brasileiro que liberava vistos diplomáticos para diversos judeus fugirem da guerra para o Brasil, e que ainda por cima tinha uma vida cheia de regalias em Paris, com lindas mulheres, casamentos arranjados e muito mais, ou seja, poderiam se quisessem fazer até um longa completo ficcional que acabaríamos nos divertindo com todas as situações e ainda não acreditaríamos no que estaríamos vendo, e assim, com certeza preferiram fazer um docudrama, para provar que essas loucuras foram reais, misturando imagens de arquivos bem ruins, junto com interpretações digamos também um pouco abaixo da qualidade, mas que no geral acaba sendo um longa interessantíssimo para conhecermos um pouco do lado brasileiro no entre-guerras e, principalmente, na Segunda Guerra Mundial, pelo menos no lado diplomático da coisa. Diria que o filme funciona de modo geral, mas tem tantas falhas técnicas, que em diversos momentos fiquei pensando que a obra seria uma dessas apresentações que vejo nas faculdades de cinema, mas pelo contrário leva o selo de grandes empresas, e certamente quando for passar na TV devem ter de dar um trato melhor na qualidade, principalmente no quesito sonoro, que temos uma trilha incidental altíssima, que some com uma quantidade imensa das falas dos personagens e dos entrevistados.
A trama que é baseada em fatos reais recentemente descobertos e apoiado por depoimentos e imagens de arquivo, nos conta a história de Luiz de Souza Dantas, embaixador brasileiro que, na Segunda Guerra Mundial, opõe-se a ordens expressas e secretas de Getúlio Vargas, que proibiam nossas embaixadas de darem vistos para o Brasil a “judeus e outros indesejáveis”, passando a enfrentar Vargas, o Governo Francês e o Nazismo. Foram mais de 1.000 vistos diplomáticos irregulares para o Brasil concedidos a perseguidos pelo regime nazista.
Dizer que o erro do longa ficou a cargo do diretor Luiz Fernando Goulart seria subjetivar demais a proposta, pois o longa tem todo um funcionamento e até seria incrível como algo 100% de ficção, contando mais histórias do embaixador, e inserindo a de algumas famílias que vieram através dos milhares de vistos diplomáticos que ele distribuiu, mas como disse no começo acabaria sendo algo que não acreditaríamos, e sendo assim, sua opção de trabalhar também depoimentos foi digamos bem encaixada, porém ao que parece faltou atitude para que ele criasse junto da roteirista Flávia Orlando, algo mais dinâmico para os personagens, e também que ele dirigisse os atores com uma maior persuasão, pois parecem apenas personagens inseridos para uma recriação cênica dessas que fazem para demonstrar uma cena de um crime, e não alguém com vontade de criar realmente uma trama envolta bem satisfatória.
Como falei acima, as interpretações são bem fajutas, então é melhor nem comentarmos muito sobre cada um dos atores, dando um leve destaque apenas para Norival Rizzo como Souza Dantas, mas nada que impressione realmente. De modo que podemos dar mais crédito para o trabalho de pesquisa das imagens de arquivo do que realmente para as interpretações, mas ao menos foram coesos em misturar bem e não forçar tanto em trejeitos. Os depoimentos foram bem colocados, mas poderiam ter trabalhado melhor a captação sonora, pois muitos são moradores brasileiros atualmente, mas são estrangeiros com leves sotaques ainda, ou seja, nem entendemos pela má captação, quanto mais pelo que estão falando.
O conceito cênico das cenas gravadas demonstra um trabalho minucioso para colocar bons elementos cênicos de época, criar escritórios luxuosos, afinal estamos falando de uma embaixada em Paris, restaurantes de diplomatas, e com isso o resultado ficou interessante, mas nada que impressionasse como poderia. A fotografia brincou bastante com cenas coloridas, em preto e branco, sépia, e tudo mais que pudesse para tentar criar climas, mas sempre sem muita linguagem acabava ficando mais jogada do que impressionava.
Enfim, é um filme que funciona por ser algo novo e que certamente poucos conhecem sobre a história, que serve bem como algo documental, e que se fosse melhor trabalhado no conceito de ficção daria uma história incrível, só é uma pena que falhou tanto na parte sonora exagerada da trilha incidental e nas atuações fracas demais, pois resolvendo esses problemas o longa é daqueles para curtir até mais que uma vez. Sendo assim, até recomendo ele com ressalvas. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica, mas na quinta já estamos de volta com mais estreias, então abraços e até logo mais.
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