Já está até ficando chato o tanto que falo que o cinema nacional tem crescido, mas se tem um estilo que ultimamente o pessoal tem acertado bem a mão é no feitio de biografias, pois conseguiram encaixar um molde de homenagear bem as pessoas e ainda fazer com que o público que não conheça nada da história, ou até aqueles que conhecem tudo do personagem curtam o resultado bem feito de uma grande produção, e aqui em "10 Segundos Para Vencer" podemos dizer que foi algo de primeiro nível, com grandes lutas, uma cenografia de época que saiu fora dos eixos, e com atuações minimalistas dos protagonistas para ninguém botar defeito. Porém para ficar melhor só tinha de ter feito uma coisa: editar melhor, pois não necessitava ter duas horas de projeção com o que é mostrado na telona, podendo ser retirado uns 20 minutos do miolo que ainda assim passaria toda a tensão e teria uma dinâmica melhor para comover, ou então colocar mais lutas filmadas ao invés de materiais de arquivo, pois aí sentiríamos realmente a pressão, e o resultado seria ainda melhor, pois bem longe de falar que a trama foi ruim, digo que o filme é impressionante e emociona com tudo o que é entregue na telona, valendo a pena conferir mesmo quem não for tão fã de lutas.
A cinebiografia conta a história do pugilista Éder Jofre que tem uma infância difícil no bairro do Peruche, em São Paulo, e com a ajuda do pai, Kid Jofre, vai batalhando até chegar onde quer. Seu destino está nos ringues, onde fica conhecido como Galinho de Ouro, por ter sido o maior peso galo da história do boxe mundial, trilhando o sucesso com o título de bicampeão mundial.
O mais interessante é que o diretor José Alvarenga Jr. possui um estilo próprio que sempre consegue nos entregar a contextualidade da trama bem escrita sem precisar forçar ou apelar para sentimentalismos, criando cada situação no seu tempo e desenvolvendo sua trama com um ar de luxo, no melhor estilo de longas de lutas hollywoodianos, e com isso sua trama se assemelha muito a de "Rocky", mas com um teor clássico dos longas antigos nacionais, parecendo até que foi filmado na época com muita textura na fotografia, e somente lançado agora depois de aprimorar alguns efeitos, e essa grande sensibilidade artística para criação da história é algo que vale a pena ser bem observado por quem for conferir, pois geralmente esse estilo é daqueles que somente homens vão por gostar de lutas, mas aqui a trama foi desenhada para ser levada com um bom tom que todos podem conferir e conhecer um pouco mais da vida regrada que o garoto teve com seu pai e treinador bem autoritário. Como falei no começo o maior problema da trama está em enrolar um pouco para querer mostrar coisas demais que não acrescentaram em nada no longa, como a época em que Jofre ficou fora dos ringues, que poderia ser bem mais resumida, alguns momentos jogados, e que com isso ganharia mais ritmo se fossem cortados, mas é a velha história, se filmam tantas cenas, que na hora da montagem, queremos colocar tudo na telona, e com isso, o resultado cai um pouco, mas nada que atrapalhe o final, então é apenas gosto pessoal mesmo que com 100 minutos a trama seria perfeita.
Sobre as interpretações, novamente Daniel de Oliveira mostra o motivo pelo qual é considerado um dos nosso melhores atores do cinema nacional, entregando sempre uma personalidade completamente diferente para cada personagem que lhe é entregue, e aqui seu Edinho, como é chamado na maioria das cenas, é principalmente humano, e não uma máquina de socos como costumeiramente acontece nos protagonistas de filmes de lutas, e com isso o ator acabou se entregando para o personagem, deu uma boa mudada no visual corporal, e conseguiu com boas dinâmicas criar um personagem bem interessante de acompanhar, sem forçar em nada o que é o melhor de ver. Agora quem deu show de expressões, sem dúvida alguma foi Osmar Prado com seu Kid Jofre, conseguindo criar um sotaque incrivelmente forte, expressões duras e bem colocadas, diálogos pontuados com muita ânsia e com um emocional que foi além de tudo o que podíamos imaginar, mostrando que um treinador pode mudar a vida e conseguir que seu atleta atinja o que tanto almeja, e com isso o ator está ganhando prêmios atrás de prêmios merecidamente. Ricardo Gelli também entregou um carisma além do esperado para seu Zumbanão e conseguiu trabalhar bem desde o começo com seus ares exagerados, mas foi com grandes diálogos fortes junto do protagonista que se mostrou preciso e encaixado como elo de seguimento para o personagem crescer. Ravel Andrade entregou um Doga bem feito, mas poderia ter feito menos expressões jogadas para baixo, pois mesmo que doente não necessariamente precisava ser um personagem tão triste, e poderiam ter trabalhado melhor ele. As mulheres da trama foram bem colocadas para dar as quebras de força do longa, e todas ganharam certos ares calmos e que complementaram bem a dinâmica que o longa precisava, de modo que tanto Sandra Corveloni, como a mãe do protagonista, quanto Keli Freitas, como Cida, a esposa do protagonista, entregaram personalidade e força expressiva nos olhares para demonstrar exatamente o que estavam sentindo nos atos dos maridos e filhos, igualmente vemos em nossas vidas, ou sejam, precisas.
No conceito cênico o longa também foi muito bem montado, numa produção grandiosa que conseguiu juntar imagens de arquivo das lutas reais de Éder, que por serem propriedade de uma das grandiosas distribuidoras de filmes dos anos 70, certamente estavam em ótima qualidade de película, com criações bem moldadas para representar bem a época, com carros bem escolhidos, casas e academias simples muito bem caracterizadas com ótimos elementos cênicos, e até mesmo quando o protagonista passou a ganhar dinheiro, seu apartamento foi bem emblemático para mostrar o momento em que o país passava, e claro que os ringues foram montados com muitos figurantes e cheios de amplitude cênica para um ganho ainda maior de ângulos para não ficar devendo para nenhum longa americano do estilo, ou seja, um ótimo trabalho da equipe artística. A fotografia, assim como quase sempre ocorre em longas de época trabalhou bem os tons de sépia, e juntou alguns momentos em preto e branco, mas o grande destaque ficou pela granulação da imagem, que lembrou os bons tempos das películas, e com um bom desgaste acabou ficando nem rude para soar estranha e nem fina demais para parecer um longa rodado atualmente, o que acabou dando um charme a mais para o filme.
Enfim, é um longa que possui alguns leves defeitos técnicos, e que falhou mais no ritmo do que na história em si, e por ser bem feito e conseguir transmitir boas sensações, certamente acabo recomendando ele para todos que gostam do estilo, e até mesmo para aqueles que não são tão fãs de longas de luta, pois o resultado dramático funciona até mais do que a pancadaria mostrada na trama, ou seja, um longa que muitos irão gostar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, afinal felizmente veio para o interior uma boa quantidade de estreias, então abraços e até logo mais.
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