Alguns estilos sempre são tentadores de atacar e o mote musical costuma funcionar bem com o ar sertanejo/country, mas para se fazer um musical ou drama musical se necessita um pouco mais do que apenas boas canções inseridas na trama, mas sim uma dinâmica voltada para que as canções nos conte a trama, e não o inverso. Dito isso, posso colocar "Coração de Cowboy" como sendo uma homenagem bacana para o sertanejo raiz, aquele que com boas canções nos emocionava, nos remetia uma esperança em algo, e não a cornomusic pop que anda hoje tocando nos rádios, e a trama é bem funcional e explicativa para mostrar essa ideia, conseguindo agradar pela essência sertaneja, porém ficou com ares novelescos demais, faltando uma forma mais avançada para empolgar como cinema mesmo, mas longe do longa ser algo dispensável, conseguimos acompanhar tudo de uma maneira feliz, gostosa, com boas músicas, e que até consegue emocionar na cena mais impactante, contudo poderiam ter trabalhado um pouco mais o roteiro para que o filme virasse quem sabe realmente um musical nas telonas, e quem sabe até ser transportado algum dia para palcos no melhor estilo Broadway de ser, pois um pouco mais apurado conseguiriam esse resultado. Portanto, quem gosta da boa música sertaneja das antigas, e curte um romance novelado, pode ir conferir a trama que irá ficar bem feliz com o resultado, mas se não faz seu estilo, e for esperando um musical mesmo como a senhora que estava atrás de mim, pode fugir, pois a chance de resmungar de tudo é alta.
O longa conta a história de Lucca, um cantor sertanejo explorado por sua empresaria Iolanda que o induz a gravar músicas de apelo comercial, com uma
pegada puxada para o pop e que fogem completamente de suas raízes. Lucca
tenta voltar as suas origens musicais, mas se sente bloqueado devido a um
trauma de seu passado no qual ele se sente culpado.
Após um desentendimento com Iolanda, Lucca larga as gravações de seu novo
projeto e parte para sua cidade natal, no interior, em busca de inspiração pra
voltar a compor músicas intimistas.
Em sua cidade natal, Lucca reencontra Marcelle, sua antiga
parceira de composição, que incentiva Lucca a voltar a gravar canções de raíz.
Lucca também conhece e se apaixona por Paula, a nova dona do
bar da cidade.
Nesse retorno para suas origens, Lucca tenta reatar os laços afetivos com seu
pai Joaquim, o qual ele possui uma relação distante e cheia
de magoas.
Em sua estreia na direção de longas metragens, Gui Pereira conseguiu trabalhar bem a história de modo que funcionasse como deveria, pois como frisei no começo, ela passa longe de ser algo que tradicionalmente chamaríamos de cinema de cunho mesmo, mas também passa bem longe de ser um novelão enrolado, ficando no meio do caminho, então como costumo colocar funcionou como uma homenagem bem produzida para a música, e sendo assim, todo o enredo e o carisma próprio da trama acabou sendo funcionando, e vemos que Gui possui um tino de direção bem apreciado para dinâmicas mais elaboradas, agora só falta acertar melhor o estilo de corte, pois é notável que todas as cenas possuíam muito mais tempo do que o que foi exibido no corte final, e é notável as quebras ficando levemente estranho de ver em alguns momentos. Diria que o bar country foi uma boa escolha para o desenvolvimento da trama, mas ficar a todo momento com vários cantores conhecidos cantando músicas quase que na totalidade, para aí vir puxar para o ator que está sentado por perto até teria uma funcionalidade se as canções dissessem mais sobre cada momento, e entrasse como algo de fundo para o momento, mas elas sendo cantadas ali acabam cansando um pouco, e talvez esse tenha sido o maior erro do diretor em não pensar no roteiro como algo mais aberto do que uma homenagem. Ou seja, volto a afirmar que podemos analisar a trama de duas formas, como um filme realmente cheio de erros e já citei os motivos, ou como uma homenagem musical com uma história de fundo, que aí sim posso dizer que o resultado beira a perfeição, pois as escolhas musicais foram perfeitas, a historinha comove, e o resultado fica bem feito, basta então você escolher o que quer ver, e aí sairá feliz ou triste com o que verá.
As atuações foram todas bem colocadas e embora algumas pareçam meio fora de contexto do filme acabaram agradando bem no resultado final. Para começar a escolha de Gabriel Sater foi na medida, pois seu visual é o típico cantor sertanejo atual, que é bonito, tem um porte atlético, cabelinho da moda, fazendo canções chiclete, mas que pela essência sertaneja, afinal é filho de um dos maiores cantores sertanejos de raiz na vida real, conseguiu encarnar bem a personalidade sertaneja que o papel de Lucca necessitava, e sabendo dosar bem as expressões, cantou bem as músicas que lhe foram designadas e agradou tanto na parte de ator como de cantor, ou seja, funcionou para o papel completamente. Thaila Ayala entregou uma dona de bar também de raiz, meia brucutu, mas bem bonita, e claro, perfeita para encaixar como par romântico na trama, de modo que os olhares de sua Paula embora entregassem o não, ela mostrava que sim, e fez bons momentos também, o que mostra que sua experiência artística tem melhorado cada vez mais. Jackson Antunes fez o que sabe fazer na telona, velhos ranzinzas sertanejos natos que não dão perdão quando você erra, e o seu Joaquim foi feito na medida para o estilo que o ator costuma entregar, ou seja, emocional nas frases e preciso nos olhares, e seu momento cantor também foi bem pontuado e emocionante. Thaís Pacholek colocou um ar bem tradicional na sua Marcelle, de modo que pareceu até mais tímida do que a personagem poderia, talvez pelo casamento mais tradicional, e assim ficou meio que de segundo plano, mas soube entregar boa personalidade nos momentos que precisou cantar, e talvez pudesse até ter trabalhado mais isso. Quanto aos demais, a maioria foi enfeite, aparecendo para dar complementação, tendo claro um leve destaque para Françoise Forton fazendo a tradicional empresária que só quer ganhar dinheiro e não liga para as escolhas do cantor. Além claro que temos de dar alguns leves créditos para as crianças que fizeram os cantores quando pequenos, que foram bem graciosos e conseguiram chamar atenção.
No conceito cênico, a produção foi bem minuciosa e conseguiu fazer (ou encontrar - pois não sei se foi feito em algum lugar real mesmo) um bar muito bem moldado, nos moldes tradicionais de bares americanos aonde cantores vão para se apresentar para os que estão ali bebendo, lembrando muitos filmes americanos de estrada, o que acabou sendo um presente visual para quem gosta de olhar detalhes na decoração, além de casas simples de fazenda, e caminhonetes bem encorpadas, mostrando todo o trabalho da equipe de arte, e até mesmo no começo com shows gigantescos, ônibus plotado de turnê, estúdios e personagens midiáticos, conseguiram ser bem encontrados, somente uma pontuação que poderia ter sido eliminada foi a cena do programa da Silvia, que ficou algo muito fraco e mal-feito. A fotografia trabalhou bem a iluminação natural do campo e conseguiu imagens incríveis de ver, de modo que a trama ganhou até uma densidade dramática puxada para o vermelho que encanta os olhos, ou seja, também pesquisaram bem para escolher os melhores momentos da cidade.
A trilha sonora escolhida por Lucas Lima foi bem trabalhada nas canções de Chitãozinho e Xororó, e conseguiu encaixar com cada momento de forma acertada, mesmo que não fosse algo mais visceral e funcional como disse no começo do texto, mas como sonoridade elas foram incríveis e agradam demais. Só é uma pena, que para variar como a maioria dos longas nacionais, ela não foi disponibilizada online para compartilharmos.
Enfim, confesso que esperava algo mais novelesco, e fui levemente surpreendido, mas ainda faltou muito para ser um longa perfeito que eu recomendasse realmente como cinema, valendo mais como uma homenagem que aqueles que gostam de sertanejo mesmo (não essas modinhas bobas que andam tocando nas rádios) irá curtir e até se emocionar com alguns momentos. Fica assim sendo minha recomendação de público, pois se você for esperando algo diferente, é capaz de se decepcionar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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