É sempre interessante observar o cinema de Wes Anderson, pois ele ao mesmo tempo que entrega algo muito bonito visualmente, ele consegue insinuar situações politizadas cheias de opiniões próprias bem colocadas, que juntamente com a essência de sua trama acabamos podendo discutir muitas coisas ao final da conferida, e com "Ilha dos Cachorros", além de tudo isso, ele ainda nos permeia (mais uma vez) com uma animação em stop-motion perfeita, cheia de detalhes, de personagens bem encaixados, e que acaba resultando em um filme que vai muito além da telona, mostrando o seu trabalho preciso e bem montado, e que mesmo abusando de estéticas extremamente explicativas, ainda consegue evoluir de uma forma diferenciada, inteligente e ousada, ou seja, entramos na sessão prontos para ver uma animação de cachorrinhos, e saímos pensando em política e em muitos absurdos do mundo todo, fazendo com que a sessão seja ainda mais valiosa do que apenas parecia no começo. Diria que apenas o início é um pouco alongado e cansativo demais, mas quando engrena nos divertimos tanto que queremos até mais filme, de modo que nos vemos até torcendo para os protagonistas.
O longa nos mostra que Atari Kobayashi é um garoto japonês de 12 anos de idade. Ele mora na cidade de Megasaki, sob tutela do corrupto prefeito Kobayashi. O político aprova uma nova lei que proíbe os cachorros de morarem no local, fazendo com que todos os animais sejam enviados a uma ilha vizinha repleta de lixo. Como não aceita se separar do cachorro Spots, Atari convoca os amigos, rouba um jato em miniatura em parte em busca de seu fiel amigo, aventura que transforma completamente a vida da cidade.
O diretor e roteirista Wes Anderson conseguiu colocar um teor forte na concepção da trama, de modo que vamos oscilando nosso humor durante praticamente todo o filme, passando indignação com o prefeito, se assustando com algumas atitudes dos cachorros, que embora soem simpáticos no decorrer do longa, no começo o visual acaba sendo forte e estranho demais para acharmos tudo bonitinho (e mesmo os filhotinhos acabaram saindo bem feinhos!!), também rimos em muitas cenas, e com isso o longa brinca com nossos sentimentos, entregando diversos vértices que podemos aceitar seguir ou não, de tal maneira que assim como anda acontecendo em várias discussões politizadas, alguns vão dizer que sim, os cachorros devem ser exterminados, e que somente essa verdade importa, enquanto outros irão pesquisar remédios para poder salvar seus amigos, e mostrar que aquela verdade mostrada não passava de um plano oculto, ou seja, o tradicional de Wes, que não vai facilitar sua vida.
Um ponto a ser meio que discutido é o filme ser quebrado em diversos capítulos, meio que explicativos, e que na montagem ficou parecendo ser algo que o próprio diretor assistiu seu longa linearmente e não entendeu alguns pontos, e resolveu filmar mais algumas cenas, inserindo explicações com flashbacks, mas conhecendo seu trabalho, sabemos que os flashbacks além de explicativos, servem como sátiras bem encaixadas para realçar seu ponto de vista, ou seja, um trabalho maluco e muito bem colocado.
Outro show do longa ficou a cargo da expressividade dos animais, juntamente com as ótimas dublagens de diversos atores dirigidos em outros filmes por Wes, e desde Bryan Cranston como o protagonista ranzinza Chief, passando pela cachorrinha revolucionária Nutmeg interpretada pela bela Scarlett Johansson, tendo ainda Bill Murray, Edward Norton, e até mesmo uma personagem feita na medida para Yoko Ono, a trama vai nos entregando bem dinamicamente o carisma de cada um dos cãezinhos, de modo que vamos nos conectando a eles pelas vozes bem diferenciadas, e claro suas personalidades, ou seja, algo que uma animação sempre necessita, mas que poucas vezes vemos de uma forma tão impactante.
Embora a trama tenho um conceito visual bem abstrato, tudo tem texturas, cores e ambientações cheias de detalhes e muita vida, para representar cada momento e funcionar dentro da proposta, de modo que conseguimos enxergar muito além de uma simples cidadezinha do Japão e sua ilha de lixos, vendo qualquer metrópole ou país que deseje expurgar seus problemas para bem longe de onde possa ser mostrado o que de bom tem no local, e claro que numa ilha abandonada cheia de detalhes também tudo passa a ser funcional, como as brigas/disputas, as fábricas antigas, e claro aparecendo muita tecnologia também afinal somos situados num futuro próximo, ou seja, souberam incorporar muito no visual, entregando um trabalho incrível de modelagem, e claro, de pesquisa de materiais, afinal um stop-motion necessita de muita criatividade nas escolhas para que as texturas funcionem. A fotografia da trama até possui alguns tons coloridos, mas sempre procurando um ar mais denso consegue envolver e emocionar o espectador, ao mesmo tempo que diverte também.
Enfim, uma trama bem ousada, com grandes sacadas e que consegue agradar na medida certa, mesmo que demore para engrenar, afinal como disse Wes quis explicar bonitinho em cada ponto sua opinião, e assim a trama é desenvolvida sem solavancos e com muita criatividade. Recomendo a trama não só para quem gosta de animações, mas sim para quem gosta de pensar e refletir sobre política, sobre animais e tudo mais. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia, então abraços e até logo mais.
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