É interessante como alguns novos diretores optam por trabalhar reflexões no formato mais abstrato possível em seus longas, e com isso conseguem permear até boas ideias, incorporam planos interessantes visualmente falando, mas raramente conseguem atingir algum ápice dentro da filosofia que procuraram empregar para chegar no resultado que imaginaram, e assim sendo, seu filme acaba ficando vazio, ou melhor, podendo ser resumido pela metade, quiçá por um terço do tamanho, que ainda assim não resultaria em algo muito produtivo. Digo isso com um leve pesar sobre "O Homem Que Parou o Tempo", pois aparentemente o diretor desejava entregar uma brincadeira com o carpe diem, e o viver o presente apenas, mas o resultado acabou floreado demais, e enrolado demais para ser algo interessante de conferir realmente, de modo que os 61 minutos aparentam bem mais na telona, e certamente com 15 a 30 minutos, ele entregaria o mesmo filme bem mais dinâmico e com uma perspectiva mais coesa, mas aí não seria lançado nos cinemas (ou seja, já que é assim vamos encher linguiça nos roteiros até falar chega, para poder vender mais!). Ou seja, continuarei falando que o filme está bem longe de ser algo ruim, pois a essência é interessante, mas a forma escolhida e o formato repetitivo de cenas acabou sendo errado demais para mostrar o quão bom de estética o diretor entendia para passar seus pensamentos.
Segundo o diretor, o longa é um drama psicológico que flerta com a ficção científica e aborda o delicado universo de João um cara que tenta pôr em prática um plano um tanto insólito - conseguir parar o tempo. Só que para isso ele terá que cometer uma espécie de "suicídio social". Isolado em seu micro-apartamento de fundos, num Rio de Janeiro distópico, abandonado e ao mesmo tempo ocupado pelos únicos que não conseguiram ir embora antes da grande crise, mostra que conseguir parar o tempo torna-se uma difícil viagem solitária e que levará João até as últimas consequências.
Em seu longa de estreia, o diretor e roteirista Hilnando SM flertou bem com a proposta, entregou um longa bem reflexivo, e principalmente mostrou que não brinca em serviço com planos esteticamente perfeitos para divagar e pensar na ideia da trama, trabalhando a reclusão social do protagonista, os ambientes para pensar e até mesmo suas teorias penduradas na parede, e floreando em planos extensos, bem abertos aonde tudo parece fluir em algo maior ainda, o resultado de seu vértice é funcional. Ou seja, como costumo dizer, se ele tivesse arrumado mais situações e não repetisse tanto as mesmas coisas, talvez seu "longa" tivesse conseguido formar uma essência mais ampla e entregaria sim um resultado mais promissor, e não apenas um filme singelo que não chega a lugar algum, pois muitos nem ficam para ver a frase bem colocada após subir todos os créditos, o que é uma pena, pois resume bem a trama, mas como a maioria se cansou de repetições, ninguém nem espera para ver se terá algo a mais.
Sobre a interpretação de Gabriel Pardal com seu João, só tenho de dizer que ele entregou um semblante sincero, foi bem preparado para o papel, e conseguiu expressar bem a ideia do que a solidão desejada é algo que a pessoa tem de querer muito e forçar para conseguir, pois muitos virão contra sua ideia e tentarão mudar muito isso, e trabalhando olhares (alguns bem tristes, pensando até em mudar sua opinião, no caso com a garota dando bola para ele, outros satisfatórios por conseguir o que desejava, quando colocava mais um papel na parede, outros desesperadores quando não conseguia o que almejava, e por aí vai) conseguiu entregar uma personalidade bem colocada e muito interessante de se ver na telona, ou seja, mostrou o que um bom ator pode fazer até mesmo com uma história simples e repetitiva. Das participações, Camila Márdila foi a mais útil com sua Mai, mas poderiam ter trabalhado mais sua personagem e não ser apenas um elo que apareceu praticamente do nada, e que deram um jeito de eliminar rapidamente, pois a atriz é boa, foi bem conectada para ajudar na formação do pensamento, mas se ficou 10 minutos em cena foi muito, e certamente ela daria muito mais para o filme, agora os demais atores melhor nem comentar, pois expressividade jogada sem nada a acrescentar, apenas deixando os momentos mais chatos e jogados no longa.
Quanto do visual da trama, conseguiram representar completamente como é o isolamento, apenas água e nada mais, pois ir ao mercado é ter interação, comprar algo de alguém faz se ter interação (tanto que na compra da droga, quase ocorre uma desconexão completa com a ideia!), e o apartamento inteiro desorganizado deu um tom muito bem colocado para a trama, ou seja, a equipe de arte foi sutil e incrível na montagem cênica ali, já nas cenas da praia, foram bonitas para dar o ar filosófico apenas, e nada mais, pois repetidas a exaustão acabaram mais cansando do que ajudando. A fotografia também foi bem coesa em ter planos bem abertos, sempre em tons mornos para criar uma leve tensão de tempo, o que acabou alongando um pouco a trama, mas funcionou para com a proposta ao menos.
Enfim, é um filme diferente dos padrões, que usa muito da ideia formatada de experimentação e que até fica interessante em diversos momentos, mas que se alonga demais sem necessidade, e ousa de abstrações para forçar a barra em alguns momentos. Diria que recomendo ele numa versão resumida, pois na sua totalidade mais exagera do que agrada, e como nota, se fosse um curta certamente daria 8 para ele, mas como média/longa não posso passar de 5, pois o filme acaba sendo bem mediano. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda nessa semana tem um longa do Festival de Ação Japonês, então ainda volto com mais um texto, então abraços e até breve.
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