Sempre digo que o gênero terror possui tantas variações que chega a ser difícil um estilo que algum fã do gênero fale que não goste, mas particularmente digo que tem um que não me cai bem, que é o tal de histórias que possam ser verídicas não por espíritos/coisas sobrenaturais, mas sim com pessoas ruins fazendo maldade com outras, pois acaba soando forte e duro na mesma proporção que a trama entrega algo interessante para o público. Digo isso, como um vértice de personalidade, mas em momento algum posso dizer que o filme "A Casa do Medo - Incidente em Ghostland" é um filme ruim, muito pelo contrário, a trama é uma das melhores nos últimos anos, e chega a ser chocante ver até onde o longa poderia chegar, de modo que até uma das atrizes está processando o longa por um acidente no set com ela. O único pesar sobre a trama é a fraqueza dos vilões, pois mesmo sendo sádicos num nível monstruoso, ambos são bem fajutos e bobos ao ponto de serem enganados, pois certamente pessoas como eles na vida real, jamais seriam enganados assim, e certamente o longa teria outro desfecho, mas como estamos falando de cinema, o resultado agrada e soa bem interessante de ser visto por quem gosta de terror sem monstros sobrenaturais, fantasmas ou espíritos, pois aqui a realidade é aterrorizadora e vai fazer você pensar muito no filme.
A sinopse nos conta que Pauline acaba de herdar uma casa de sua tia e então decide morar lá com suas duas filhas, Beth e Vera. Mas, logo na primeira noite, o lugar é atacado por violentos invasores e Pauline faz de tudo para proteger as crianças. Dezesseis anos depois, as meninas, agora já crescidas, voltam para a casa e se deparam com coisas estranhas.
O diretor e roteirista francês Pascal Laugier é conhecido por filmes duros e fortes, que geralmente conseguem impressionar mais pela situação em si do que pelo enredo, e aqui novamente ele consegue esse feito, pois quem for conferir pela sinopse e/ou pelo trailer é capaz de chegar esperando sustos bobos (no começo até achei que veria isso, mas após a reviravolta na trama, a coisa fica tensa para quem captar tudo) e se decepcionar com a totalidade da trama, mas quem for disposto a encontrar surpresas pelo caminho, certamente se chocará, pois o diretor consegue criar situações impactantes, fazer com que as atrizes sofram e mostram sofrimento nas expressões, e principalmente consegue criar a tensão no ambiente completo da trama, de modo que começamos a ficar nervosos com tudo o que está acontecendo, e diferente do que ocorre em muitos estilos de terror, que torcemos para que os personagens morram logo pelos erros bobos que fazem, aqui acabamos torcendo pelas garotas para que se salvem, pois ninguém merece aquilo, ou seja, um filme que vai na contramão do que estamos acostumados a ver no gênero, e que certamente o diretor soube causar muito. Dito o impacto expressivo que o diretor conseguiu tirar das meninas, faltou para ele trabalhar um pouco mais os vilões, pois mesmo sendo fortes e cheio de coisas bizarras, eles poderiam ter sido mais desenvolvidos, para que conhecêssemos mais suas personalidades, e não apenas serem jogados na telona, mas para isso, o filme teria de ser alongado, então vamos deixar assim, que o acerto já foi muito bom.
Como sempre costumo falar, para um longa de terror funcionar é necessário que os atores entrem no clima e sintam o medo, a dor, o desespero para poder passar para o público, pois senão corre o risco de ficar frouxo o resultado e acabarmos não acreditando no que vemos, e felizmente aqui a entrega de todos foi algo que beirou a perfeição. Crystal Reed conseguiu trabalhar bem nos dois vértices da trama, entregando bem tanto a versão escritora, quanto a versão vítima e com nuances precisas de expressões desesperadoras, a atriz acabou fazendo de sua Beth, aquela que vamos torcer e quase querer ajudar a se salvar, pois é desesperador suas atitudes, sua versão jovem foi um pouco estranha, mas Emilia Jones conseguiu agradar também. Anastasia Phillips também foi bem consistente com sua Vera, e por vários momentos acabou sendo até assustadora demais nos seus momentos de loucura no porão da casa, mas assim que vemos seus motivos, passamos a entendê-la perfeitamente, de modo que a atriz mandou muito bem em tudo o que lhe foi proposto, e da mesma forma, sua versão jovem interpretada por Taylor Hickson foi bem moldada e cheia de olhares fortes para cada momento. Mylêne Farmer também entregou uma mãe cheia de trejeitos para sua Pauline, de modo que sua luta corporal foi bem forte, e suas cenas de diálogos com a filha também foram bem chocantes, de modo que chega até ser uma brincadeira maluca com nosso cérebro. Dos vilões, tanto Rob Archer com seu ogro imenso, quanto Kevin Power como a doceira estranha, foram bem moldados visualmente, brigaram bastante e poderiam até ter sido mais intensos, mas ainda assim agradaram bastante.
No conceito visual, montaram uma casa muito interessante, cheia de detalhes visuais, com toneladas de bonecas estranhas espalhadas, que amedrontam só de olhar para elas, mas no final conseguimos entender bem o contexto delas, além claro de uma ótima maquiagem nas garotas que funcionou incrivelmente para mostrar o quanto elas sofreram, ou seja, um trabalho impecável de praticamente um único cenário, no caso a casa, mas com cômodos bem moldados oscilando mais entre claro o porão e o quarto das garotas, e além disso tivemos as festas e a casa da protagonista bem moldada para retratar a comparação que fazem logo em seguida. A fotografia até usou de tons escuros e pouca luz para pregar alguns sustos, mas basicamente o filme se fixa num tom mais marrom para dar um ar sujo do que qualquer outro, e sabiamente os ângulos foram escolhidos para tudo ter uma densidade mais fechada do que o ambiente já permitia.
Enfim, é um excelente filme de terror, que saiu até melhor que a encomenda, pois não tinha visto nada sobre ele, mas que após conferir e ir adentrando ao medo das garotas conseguimos sair da sessão em transe até com todo o impacto que é causado, ou seja, recomendo ele com toda certeza para todos que gostam do estilo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia que nem sabia que tinha vindo para cá, aparecendo do nada no Cine Cauim, então irei conferir e volto depois para falar sobre ele, fiquem por enquanto com meus abraços e até breve.
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