Sempre costumo dizer que é muito bacana conferir biografias bem feitas, principalmente quando não conhecemos nada sobre os personagens principais, pois acabamos vendo seus perrengues para chegar ao estrelato, como foi conhecer seus parceiros e tudo mais, e aqui em "Legalize Já - Amizade Nunca Morre", além de uma boa biografia, temos também uma boa homenagem para mostrar como foi a amizade entre Marcelo D2 e Skunk, e com isso o filme pode até fluir para lados diferenciados do que apenas um simples longa biográfico de formação de banda. Claro que para isso poderiam ter explorado um pouco mais as situações de cada um, floreando a doença, a mente criativa e tudo mais, mas aí o longa sairia um pouco do eixo, o que não era a intenção. Dito isso, posso afirmar que é algo muito bacana de conferir, e tanto quem foi fã da banda Planet Hemp, quanto quem é hoje fã de Marcelo D2, como também quem apenas gosta de um longa biográfico bem feito, certamente irá gostar muito do que verá na telona, irá rir demais com diversas cenas absurdas (pra mim a melhor é a do culto!), e com toda certeza vão se impressionar pela qualidade da fotografia do longa, pois é uma estética tão diferenciada, que raramente imaginaríamos ver um estilo desse por aqui, lembrando em alguns momentos até algo meio "Sin City", e se quisessem puxar até mais o tom para o preto e branco cair forte agradaria também.
A trama nos mostra que Skunk é um jovem músico, revoltado com a opressão e o preconceito diários sofrido pelas comunidades de baixa renda, que busca expor sua insatisfação através da música. Um dia, ao fugir da polícia, ele literalmente esbarra em Marcelo, um vendedor de camisas de bandas de heavy metal. O gosto pelo mesmo estilo musical os aproxima, assim como a habilidade de Marcelo em compor letras de forte cunho social e questionador. Impulsionado por Skunk, ele adentra o universo da música e, juntos, formam a banda Planet Hemp.
O trabalho do diretor e roteirista Johnny Araújo, que já dirigiu diversos clipes de Marcelo D2, e possui um estilo cômico bem moldado (tanto que seus longas e séries anteriores são todas puxadas para esse gênero), veio a somar com a técnica e a montagem de Gustavo Bonafé, que também dirigiu junto de Johnny o filme "Chocante" no ano passado, em prol de conseguirem um estilo diferenciado de trama, pois é evidente o ar social que conseguiram colocar na trama, e mesmo o filme tendo sido preparado há tantos anos, seu lançamento agora vem num momento aonde o ar politizado cai como uma bomba para mostrar muito do que se vê e pensa nas ruas, funcionando com ápices bem direcionados, e principalmente por não omitirem suas opiniões, ou seja, é claro que o filme não chega fazendo apologia às drogas, mas é mostrado muito, e isso nem chega a pesar na trama, pois sabemos bem como a banda sempre foi focada nisso, sendo inclusive presa em alguns momentos pela simples forma de suas letras, mas longe da trama ser poluída, ela acaba sendo gostosa de acompanhar, tem intenções dramáticas muito bem formatadas (o que felizmente faz o estilo passar bem longe de qualquer ar novelesco, ou de virar série daqui alguns meses!), e acaba sendo agradável ver a amizade dos protagonistas por alguns ângulos diferenciados, e mesmo a trama tendo leves erros, ou melhor, não focando tanto aonde poderia comover mais o público, o resultado do trabalho dos diretores soa incrível e vale ser reverenciado pela técnica em si, e claro, pela história também bem moldada.
As atuações foram bem trabalhadas com olhares bem conectados, trejeitos que funcionaram para entregar a proposta do longa, e muito carisma por parte dos dois protagonistas, de modo que mesmo se as semelhanças físicas não forem tantas (não era muito conectado com a banda nos anos 90), eles foram tão bem que acabamos nos divertindo e conectando com eles também. O destaque sem dúvida fica por conta de Ícaro Silva como Skunk, pois estamos tão acostumados com o ator fazendo personagens bobos e divertidos, que aqui com um ar mais sério, mas também mantendo a pegada, o ator acabou entregando um personagem tão bem colocado, cheio de sintonias, que até torceríamos mais para conhecer ainda mais do personagem, até mesmo antes de chegar no ponto de encontro entre os dois protagonistas, pois certamente a vida dele foi bem barra pesada, e valeria algo a mais na telona, e claro com o ator, pois foi perfeito. Renato Góes também conseguiu entregar um Marcelo cheio de ideias, mas com tantas dúvidas na cabeça, sobre trabalhar, manter ou abortar filho, sair de casa, e tudo o que um jovem poderia passar na situação dele, o ator soube segurar a barra e agradar, mesmo que em alguns momentos parecesse desconectado demais, talvez por querer passar um ar pensativo, e com isso ficou estranho, mas nada que atrapalhasse o resultado geral. O argentino Ernesto Alterio também foi bem colocado como Brennand, e trabalhou bem suas frases para cada momento do longa, encaixou olhares de pai mesmo em cima do personagem principal, e soube dosar sua energia para que os atos fossem bonitos de ver em seus momentos, mas como disse, a história anterior de Skunk não é contada, então o personagem acabou um pouco jogado, e talvez o antes seria preciso para que seus atos fossem incríveis de ver. Quanto aos demais, temos bons trejeitos de Stepan Nercessian fazendo o seu tradicional sem chamar muita atenção, mas principalmente temos de dar destaque para as garotas Marina Provenzzano como Sônia e Rafaela Mandelli como Suzana, que mesmo aparecendo pouco conseguiram ter bons momentos e chamar a cena para si quando precisaram.
No quesito visual, o longa encontrou locações bem encaixadas para funcionar o desenvolvimento do filme, mostrando os Arcos da Lapa, onde a banda foi praticamente fundada, o bar de Brennand bem montado que foi o primeiro estúdio da banda, alguns bares undergrounds aonde a banda se apresentou no início da carreira, a casa do pai de Marcelo simples, mas cheia de conotações bem colocadas para mostrar as ideias do jovem, e claro as duras prensas policiais em cima dos trabalhadores informais, muitas vezes sem nenhum fundamento, ou seja, fortes críticas bem colocadas para realçar a pegada do longa. Além disso foi bacana ver os preços das lojas com uma tonelada de zeros para vender seus eletrônicos em cruzeiros, e claro também os clipes toscos que viviam impregnando nossas mentes naquela época. Agora sem dúvida alguma o melhor do filme ficou a cargo da fotografia de Pedro Cardillo que conseguiu captar essências visuais tão incríveis, puxar o tom de diversas cenas para quase preto e branco, dando um ar meio noir para a trama, que ficamos apaixonados pela estética da trama, de tal maneira que certamente quando pensarmos numa fotografia incrível nacional, lembraremos do longa, pois foi digna de prêmios.
Como é de praxe, os longas nacionais não liberam suas trilhas sonoras para serem compartilhadas, então apenas tenho de dizer que diversas canções iniciais da banda foram colocadas no repertório, claro com "Legalize Já" desde sua montagem inicial até a última versão, e além delas ainda pudemos ouvir duas das destruições da mente que brotavam nas TVs dos anos 90, "Na Boquinha da Garrafa" e "Pimpolho", que quem nunca ouviu, não perdeu nada, mas provavelmente todos tiveram esse desprazer.
Enfim, é um longa muito bem trabalhado, que agradará a todos que forem conferir, independente das posições políticas e gostos musicais, pois a trama principalmente é bem atuada e bem dirigida, de modo que funciona como cinema, e como sempre digo, isso é o que faz valer conferir em algo que se julga cinema, pois de resto, a TV está cheia. Portanto recomendo o filme para todos, claro tirando crianças, afinal tem maconha a rodo na telona, pois é algo que saiu bem do tradicional que vemos no cinema nacional. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
PS: a nota é mais pela falta da história anterior de Skunk que valeria a pena ser contada para dar mais ênfase na vida dele antes do encontro, e por alguns momentos que pareceram falhados na atuação de Góes, pois de resto, o longa é perfeito.
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