Acho que nunca teve um ano que viesse tantos documentários nacionais para o interior como tem sido 2018, graças claro ao "Projeta as Sete" do Cinemark, que tem a cada duas semanas colocado obras alternativas da Elo Company que raramente seriam lançadas nos cinemas em grande circuito. Dito isso, eis que hoje surgiu "Marcha Cega" que retrata de uma forma bem seca como foram as truculentas atitudes da PM nos movimentos de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017, mostrando com fatos todas as orientações das cartilhas de repreensão que nunca foram seguidas no que é mostrado. Claro que temos alguns movimentos mostrados que certamente mereceriam repreensão pela forma de ação, mas a maioria mostrada é algo que mostra um despreparo incrível dos oficiais e ainda com depoimentos de pessoas fora dos movimentos explicando algumas atitudes, o longa fica ainda mais crível de se pensar com que raiva podemos imaginar um futuro dominado por pessoas sem preparo para suas funções. O maior defeito do longa que é até mostrado ao final, é a falta de pessoas do outro lado para se defender, e transformar o filme em algo menos de opinião formada, mas como não quiseram dar depoimentos, o jeito foi apenas ficar a frase colocada na telona, e também diria que poderiam ter trabalhado melhor a edição, pois ficou forçado demais para comover, e o resultado acaba sendo um pouco incoerente em alguns momentos. Ou seja, é um filme digamos levemente imparcial e forçado, mas que expõe bem tudo o que aconteceu e revolta.
O longa nos mostra que durante as manifestações que ocorreram em São Paulo nos últimos anos, a Polícia Militar foi responsável por agredir violentamente, ferir e prender uma série de manifestantes. Através do uso excessivo de gás lacrimogêneo e outras técnicas duvidosas, a cidade transformou-se em um verdadeiro campo de batalha e as marchas, inicialmente pacíficas, foram consumidas pela violência derivada das forças policiais.
O trabalho de pesquisa do diretor Gabriel Di Giacomo foi bem moldado em cima de materiais da mídia independente, jornalistas ninjas e em cima disso entrevistou bem alguns dos nomes que tiveram destaques em cada um dos atos mais truculentos de cada ano, de forma que vamos ouvindo eles, concordando em alguns momentos, e até achando fora de eixo alguns depoimentos, de modo que a trama pode funcionar mais para uns do que para outros, mas de modo algum a pessoa sairá da sessão sem uma opinião formada sobre o assunto, afinal o diretor foi ao menos bem coeso em deixar claro sua opinião, mas abrir frente para outras pelos depoimentos serem francos, não sendo fácil observar as perguntas feitas para cada um (o que deve sempre acontecer em um bom documentário!), e com isso praticamente vemos os jovens falando de suas experiências nos movimentos, e os especialistas colocando os pingos nos is do que deveria ter ocorrido, e claro, não ocorreu. Ou seja, para muitos o longa pode ser um tiro no pé dos policiais truculentos que são mostrados na trama, mas o diretor deu ênfase muitas vezes nas falas dos especialistas que sempre a ordem vem de cima, e que claro a maioria não é treinada para saber fazer direito em situações de confronto tendo base apenas uma apostila com frases confusas que não levam a lugar algum, ou seja, podemos atirar sim, mas mirando pra baixo, podemos aplicar spray, mas tem de ser bem aberto com vento, e os se? Então não defendendo ninguém, tudo pode dar errado sempre nesses casos para ambos os lados, e o diretor poderia até ter trabalhado mais os ares do longa na montagem.
Voltando a falar dos entrevistados, alguns foram bem direcionados e souberam falar bem suas situações para serem críveis no que estavam dizendo, enquanto outros parecem até estar falando coisas irreais (que até sabemos que ocorreram, mas não passam uma verdade na forma de contar), e isso não é bacana de ver. De modo que sabemos que certamente o diretor captou muito mais depoimentos do que o que acaba indo para o corte final, e poderia ter escolhido melhor alguns depoimentos, e claro os cortes, pois muitas vezes coisas no escuro sem aparecer pessoas, outrora a pessoa falando e vem flash em preto por cima, num trabalho bem mal acabado de ver.
Enfim, temos um longa interessante, que cada um vai conseguir enxergar de uma forma, pois vou deixar até minha opinião de ser contra os dois lados, sendo favorável sim a manifestações pacíficas (como tivemos o #EleNão nesse último final de semana feito pelas mulheres) e completamente contra a depredações de qualquer tipo de patrimônio, mas também completamente contrário a qualquer truculência policial sem base que não os esteja atingindo, ou seja, vi o filme com dois olhares completamente divergentes, e recomendo ele com algumas ressalvas, mesmo me revoltando com as diversas atitudes policiais, e também com alguns black blocks, ou seja, vá conferir e tire opiniões sobre o assunto, mas analisando como filme faltou muito para ficar mais funcional. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, encerrando essa semana que foi bem recheada, já me preparando para uma bem menor, então abraços e até logo mais, e que saibamos votar bem no final de semana para não termos mais conflitos feios como os mostrados no longa.
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