Tem vezes que recebo a programação dos cinemas e fico me perguntando: "de onde surgiu esse filme que nem trailer, nem notícia, quanto mais sinopse apareceu por aqui antes?", e aí quando vamos conferir ficamos até pasmos por ser algo interessante que valeria a pena uma divulgação um pouco maior, mas como bem sabemos, tudo é dinheiro na vida, e conseguir lançar um longa nos cinemas já é uma batalha imensa, então divulgar fica para uma segunda etapa. Dito isso, "Mare Nostrum" é um filme bem singelo, que possui uma narrativa agradável, mas que não chega a alçar longos voos, sendo daqueles que vamos gostar pela história bem contada, por uma síntese bem amarrada, e por lembrar um pouco quando fazíamos filmes na faculdade, pois tudo tem de ter um motivo, e uma movimentação consistente, porém na hora de fazer acontecer realmente, a trama falha em não ter para onde ir, e aí ao voltar para explicar um pouco mais acabamos girando e retornando aos pontos usuais. A forma fantasiosa de brincar com algo que acontecia (e acho que ainda acontece um pouco) de contratos de boca, com papeis assinados sem nenhuma firma reconhecida, e o principal, todo mundo precisando de algum dinheiro, ou algo desejado, faz da trama do longa algo que nos remete muito ao que já vimos/conhecemos, e essa é basicamente a síntese de tudo o que o longa tenta nos mostrar, porém volto a frisar, de um modo bem simples, e que até soa gostoso de ver.
A trama nos conta que Roberto e Mitsuo voltam ao Brasil no mesmo dia, depois de longa temporada morando fora. Suas vidas se cruzam novamente por conta de um terreno negociado por seus pais no passado. Sem dinheiro, os dois veem no terreno uma possibilidade de se acertarem financeiramente. No entanto, alguns eventos fazem com que eles acreditem que o terreno é mágico. Como uma fábula, o filme nos mostra que para se obter alguns desejos, é preciso abdicar de outros.
O trabalho do diretor e roteirista Ricardo Elias é bem intencionado, pois raramente vemos dramas nacionais com um funcionamento quase de road-movie (no caso aqui em busca de um documento), mas que brinque também com a fantasia da magia envolvendo um lugar místico, e com isso o longa até possui boas viagens em diversos sentidos, mas a grande sacada mesmo foi mostrar relacionamentos complicados entre pais e filhos de duas gerações, e conseguir com uma câmera até calma demais uma situação conflitiva, ou seja, o diretor soube dosar os espaços e criar diversas vertentes na história, que por mais simples que seja, acaba envolvendo o público com o que é mostrado em cada cena. Diria ainda que ele foi coerente com o formato dramático da trama, pois muitos diretores acabam poluindo seus longas simples com muitas situações e o resultado sai do rumo esperado, e aqui embora tenha até um ar novelesco quase saindo pela tangente com personagens aflorando grupos, o filme fica sempre centrado e entrega tudo bem arrumado, ou seja, um filme trabalhado para evitar erros, que até força a barra com o lado da "magia" do terreno, mas que agrada no resultado final.
O elenco também foi muito bem dirigido e conseguiu entregar seus vértices de uma maneira bonita de acompanhar, pois mesmo os protagonistas não sendo tão conhecidos do público em geral, eles orquestraram suas cenas sem querer aparecer, e isso fez com que tudo funcionasse. E claro começando pelo protagonista Silvio Guindane, temos de colocar que seu Roberto até poderia ter ido para o rumo de dramatizar e emocionar com todos os problemas que recebe a cada momento, mas com uma tênue serenidade, que só sai do eixo no momento da leve extorsão do outro protagonista, ele acabou entregando uma paz bem colocada e não deixa que seus objetivos fiquem para trás, só achei uma pena o seu fechamento, pois o longa rumava para outro foco, e embora tenha sido algo bacana, poderiam ter feito diferente (acho que eu faria algo bem diferente na pele do protagonista, mas aí não seria ficção!), ou seja, o ator fez bem o papel e não desagradou. Ricardo Oshiro foi muito pacato com seu Mitsuo, de modo que beira ele ser apagado por qualquer figurante da trama, e poderiam ter trabalhado mais o personagem, seus conflitos com a esposa, mas deixaram a milenar técnica japonesa de ser sutil demais, que o ator acabou ficando até em segundo plano demais. Carlos Meceni entregou o corretor Orestes, amigo de longa data da família, que assim como todo bom corretor, fala mais do que a boca consegue, e ficou devidamente engraçado de conferir, agradando na medida. A jovem Livia Santos também conseguiu ser bem coerente com sua personagem Beatriz, mas aparentou ser fechada e tímida demais para uma atriz, de modo que poderia ter se soltado um pouco mais para agradar mais. Quanto aos demais, a maioria serviu apenas de conexão, não chamando tanta atenção, de modo que Aílton Graça que praticamente só aparece em fotos, e inicia o longa teve mais destaque que muitos da trama, sendo citado a todo momento.
No conceito cênico a trama foi bem encaixada pela equipe de arte que filmou em Atibaia, na Praia Grande, em Itanhaém e claro na capital também, procurando não esmiuçar nem chamar tanto atenção para as cidades, mas usando bem os artifícios para representar bem tanto o ano de 1982 que mostra no começo do filme (usando o rádio com um narrador para expressar a convocação da Copa daquele ano), e depois 2011 com seus marcos, brincando com carros e roupas tradicionais, além claro de objetos bem escolhidos para decoração das casas, só tiveram um pequeno detalhe de que os tablets se popularizaram se não me engano mais para frente, mas é um errinho que não atrapalha tanto a trama. A fotografia da trama também ficou bem clara, o que deu um ar menos tenso do que poderia para a dramaticidade do longa, mas como o filme se passa muito na praia, se escurecesse demais como é a cena inicial, talvez o filme não ficasse tão leve como ficou, e assim sendo, o resultado verteria para outro rumo.
Enfim, é um filme bem feitinho, que não tem grandes objetivos, mas que funciona por mostrar bem a proposta, dita na sinopse, e que quem gostar de um longa simples e efetivo, de boas sacadas, acabará gostando das boas conexões de tempo, e com o envolvimento leve que acaba sendo entregue. Repito que está bem longe de ser perfeito, mas está mais ainda de ser algo ruim, então quem quiser conferir e gostar desse estilo, é uma boa dica para conferir, saindo dos tradicionais filmes nacionais que estamos acostumados a ver. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, já encerrando essa semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e bons votos no Domingo.
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