Sabe quando um filme possui uma proposta bem moldada, mas que acaba necessitando de amarras para virar um longa realmente e o diretor não sabe como fazer, pois bem, se você não conhece um filme assim, veja "Os Invisíveis" que possui uma história bem bonita que mostra como alguns judeus conseguiram fugir da deportação para a câmara de gás, sendo escondidos em casa de alemães que eram contra Hitler, mas tudo de uma forma bem ilegal e cheia de artimanhas. Porém para contar a história de quatro jovens dentre os milhares que fizeram esses trâmites, a equipe conseguiu bons depoimentos, e resolveu que também colocaria eles falando no longa, afinal tirando uma pessoa em comum com dois dos personagens, nenhum deles se tromba ou se relaciona, e amarrar tudo numa única história acabaria ficando ou novelesco demais, ou perdido em desencontros, então a solução foi fazer os verdadeiros personagens contarem suas histórias, e atores dramatizarem elas, o que ficou bonito em alguns momentos, emocionante em outros, mas que a todo momento parece faltar algo, não fluindo como poderia. Ou seja, temos algo que vale a pena ser conferido, afinal sempre é bacana conhecer um pouco mais como foi o processo do nazismo, o que alguns sabiam dentro do conflito completo, trabalhar com bons depoimentos, mas poderiam ter optado por colocar tudo como documentário ou tudo como ficção, pois reconstituições geralmente soam fracas demais dentro de uma proposta mais sólida.
O longa nos situa em Berlim, fevereiro de 1943. O Partido Nacional-Socialista declara o Reich “livre de judeus”. Mas, milhares deles conseguiram se esconder dos perseguidores, e aqui nos é contado as histórias de quatro dessas testemunhas contemporâneas. Hanni Lévy, que acaba de completar 17 anos, perdeu seus pais. Graças a seu cabelo loiro tingido, ela é praticamente invisível para seus perseguidores e passeia ao longo da famosa avenida Ku'damm para passar o tempo. Cioma Schönhaus também foi para a clandestinidade e leva uma vida aventureira, tornando-se um falsificador de passaportes, trabalho por meio do qual ele salva a vida de dezenas de outros judeus. E enquanto Eugen Friede se junta a um grupo de resistência que distribui folhetos antigovernamentais, Ruth Arndt e um amigo, durante o dia, sonham com a vida na América, ao passo que, à noite, ela finge ser uma viúva de guerra e serve comidas gourmet do mercado negro no apartamento de um oficial nazista.
A explicação para a reclamação da falta de decisão sobre fazer um documentário ou uma ficção é bem fácil, pois o diretor Claus Räfle só havia feito documentários antes desse longa, e aqui na sua estreia na direção certamente gostou muito do material que captou com os sobreviventes reais e quis utilizar além do que caberia para um filme comum, ou seja, não posso deixar de dizer que todos os depoimentos dos velhinhos (alguns já até morreram antes do lançamento do longa, e usaram materiais de arquivos) foram emocionantes e bem colocados, mas como gosto da separação dos dois gêneros, confesso que esperava mais das cenas de ficção para que a história realmente chamasse bem a atenção e não dependesse tanto dos depoimentos, mas o contexto completo certamente mostrou que Claus até tem uma boa mão para direção de atores, falta apenas a consciência de transformar ela em algo mais completo.
Dentre as atuações, diria que todos souberam entregar seus personagens da melhor forma possível para conseguir comover com seriedade e boas colocações, desde Max Mauff com os bons olhares malandros de seu Cioma, que estava sempre preparado para conseguir enganar os oficiais nazistas com suas habilidades de falsificação de passaportes para muitos, mas também mostrando ser meio desmemoriado e desleixado com seus materiais, largando jogado para que outros estragassem seus ganhos. Depois tivemos a bela Alice Dwyer que trabalhou colocando a mudança visual e de identidade, vivendo muito na rua e sendo realmente uma invisível para muitos, com olhares de piedade de sua Hanni, mas sendo muito atraente se passando realmente como uma alemã bem tradicional. E tivemos o praticamente medroso Aaron Altaras que ficou quase toda a época escondido em casas com belas mulheres, sendo um atrativo para as garotas filhas dos alemães que hospedaram seu Eugen, mas também ajudando na concepção dos jornais da resistência. Ruby O. Fee também conseguiu ser bem coerente com sua Ruth, mas mostrou um pouco fora do eixo em algumas cenas, parecendo que faltou material para a jovem saber como agir na casa do general nazista, e também na rua, sempre ficando bem em segundo plano, mas sem falhar ao menos. Ou seja, o diretor tinha bons atores que dariam conta do recado para chamar a atenção e agradar com bons diálogos e olhares para uma história mais completa e melhor desenvolvida.
No conceito cênico, a trama conseguiu juntar cenas bem feitas mostrando as casas dos alemães servindo de abrigo tanto para alguns judeus que se esconderam, bem como para outros alemães que tiveram suas casas bombardeadas, com inspetores do governo vindo até cada uma para ver quantos poderiam abrigar ali, ou seja, algo bem interessante, que mostrou simplicidade, bons elementos decorativos para representar tudo, e claro muitas casas sendo destruídas pelas bombas, o longa também contou com boas imagens de arquivo, mas senti a falta de mostrar um pouco mais da dureza dos generais/governantes, deixando isso bem em segundo plano para o longa, o que talvez seja o que faltou para o filme ficar um pouco mais convincente, mas ao menos nos detalhes de figurinos e locações, o resultado acabou agradando.
Enfim, é um filme que passa bem a proposta, mas que não atinge nem metade do que poderia conseguir, ficando bem mediano no resultado final. Digo que vale mais a conferida pelo lado histórico, mas que certamente temos outros longas que mostram as mesmas situações melhores desenvolvidas, porém como costumo dizer, ao menos passou bem longe de ser algo que incomodasse, e por não ser arrastado, a mistura de documentário com ficção consegue soar ao menos interessante de ser vista. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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