Tem vezes que vamos ao cinema procurando ver um estilo de filme e acabamos vendo outro completamente diferente, e digo isso de "Podres de Ricos", que já no trailer aparentava ser uma comédia romântica cheia de clichês bobinhos, mas que graciosamente consegue ser melhor trabalhada, e cheia de acentos críticos ao estilo exacerbado de milionários chineses que não aceitam qualquer outra pessoa fora de seu clã para os filhos, e que facilmente até enxergamos isso de um modo metódico logo pela abertura que mostra o quanto eram também recebidos com muito preconceito em outros lugares, e com isso levaram alguns pré-conceitos também sobre os demais países, ou seja, um filme cheio de jogos, aonde o raciocínio até entrega algo a mais na finalização. Diria que é algo gostoso de ver, que mostra fácil o motivo de ter ficado quatro semanas seguidas na primeira colocação das bilheterias americanas, pois possui uma essência divertida, que até trabalha alguns motes exagerados, mas que principalmente funciona por ir num vértice de comédias que os americanos praticamente pararam de fazer, e aqui o resultado enxerga o jeito correto de entregar sem precisar apelar "demais".
O longa segue os passos da nova-iorquina Rachel Chu em sua viagem a Singapura para acompanhar o namorado Nick Young, com quem tem um relacionamento de longa data, à festa de casamento do melhor amigo dele. Animada com sua primeira visita à Ásia, mas também um pouco nervosa por conhecer a família de Nick, Rachel está totalmente despreparada para lidar com alguns detalhes importantes que Nick “esqueceu” de contar sobre a vida dele. A verdade é que Nick não apenas é o herdeiro de uma das famílias mais ricas como também um dos solteirões mais cobiçados do país. Como namorada de Nick, é como se Rachel tivesse um alvo pintado em suas costas bem na mira de invejosas socialites e, pior ainda, da própria mãe de Nick, que desaprova o namoro. Muito em breve vai ficar cada vez mais claro que, embora dinheiro não compre amor, pode definitivamente complicar a vida.
O diretor John M. Chu que ultimamente nos trouxe grandes filmes de ação, super filmes-shows e longas dançantes, mostrou que também sabe ser criativo na formatação de uma comédia romântica diferenciada, principalmente por ter um pouco mais de conteúdo do que simples romancinhos e desencontros amorosos que estávamos acostumados a ver vindo de produções americanas. Claro que isso se deve também ao roteiro ter sido baseado no primeiro livro da trilogia de Kevin Kwan, que já garantiu a Chu os direitos de fazer a continuação da trama com seu segundo livro (no miolo dos créditos já vemos uma breve cena que entrega a sacada de onde a irá sair a sequência!), e certamente só pelo que vemos na trama, o livro deve ser uma delícia de ser lido, pois ao realçar bem o grande abismo de classes que é a tradicional hierarquia chinesa, mostrar a loucura esbanjadora dos novos ricos, e claro brincar com o encontro/desencontro de pessoas de ambos os mundos, o filme consegue quase como numa leitura dinâmica realçar cada ato. Ou seja, uma grata surpresa, que já mostrava ser bem interessante no trailer, mas que por cair nas mãos de um bom diretor, o elenco acabou se superando e saindo do trivial para arrancar boas risadas e envolver ainda por cima.
Quanto das atuações, é bacana ver uma nova leva de bons atores se entregando em meio a lendas chinesas que conseguem ser sutis só nos olhares, se impondo e agradando em meio os jovens que cada dia aprendem mais com eles para poder agradar também. De modo que, Constance Wu conseguiu entregar a economista Rachel Chu com muita persistência, trabalhando até com um pouco de medo no meio dos monstros sagrados de sua origem, e principalmente, a atriz soube dosar os bons momentos da trama, sem forçar um olhar, o que mostra um futuro bem promissor. Henry Goldin já tinha chamado a atenção bem rapidamente no "Um Pequeno Favor" que passou por aqui esses dias, e aqui com seu Nick Young, ele trabalhou uma personalidade mais calma, porém bem colocado como um grande herdeiro que não deseja seguir tanto as suas origens, mas ainda assim é o mimado da família. Michelle Yeoh entregou uma Eleanor Young com tanta classe, que mesmo seus momentos mais impugnantes e podres demonstrando um asco forte por quem não é do seu mesmo nível conseguiram soar interessantes, mesmo que ficássemos bem bravos com ela, ou seja, deu um show como bem sabe fazer. Gemma Chan fez bem as suas cenas como Astrid Young Teo, e embora não tenha tido grandes cenas de destaque, fica claro seus momentos que procuraram sempre colocar ela em pauta, e ao final (ou melhor na cena pós-crédito juntada com o nome do segundo livro) conseguimos entender que sua personagem é o papel principal do segundo livro, e talvez a garota seja convidada para dar show novamente, afinal ainda aparecerá muito nos cinemas nos próximos anos. Awkwafina teve bons momentos como Peik Lin Goh, trabalhando com seu jeitão despojado e entregando algumas cenas mais forçadas, mas que ainda assim foram bem colocadas junto de Nico Santos com seu Oliver, que puxou bem o ar de gays da moda, e com a conexão dos dois, o resultado ficou bem colocado ao menos. Felizmente Ken Jeong apareceu pouco com seu Wye Mun Goh, pois como é de seu costume, acabou forçando demais com piadinhas ruins e aparições toscas, mas que funcionaram para o papel, mas se aparecesse mais tempo na tela, acabaria mais cansando do que agradando. E para fechar, tivemos a lenda Lisa Lu como Ah Ma (que seria a vó milenar chinesa), e ela foi bem colocada nas suas três cenas, e até soou forte no fechamento de sua última, que poderia ser bem diferente para não ficar tão estranha com sua personalidade, mas anda que tenha atrapalhado.
Embora o longa seja bem luxuoso, com mansões, cenografias bem encontradas, lugares paradisíacos e tudo mais, a produção em si não foi das mais caras, e olha que temos atores bem caros no elenco, ficando na casa dos 30 milhões (mas que já rendeu mais de 120 milhões, sendo um grande número para virem com a continuação!), e sendo assim, a equipe de arte aparentemente precisou se esforçar bastante para não sobrecarregar tanto a produção, usando de sutilezas nas locações para que detalhes entregassem mais do que os exageros em si, e provavelmente também fazendo a produção quase que inteira em Singapura, o valor foi menos exorbitante do que se fosse rodado nos EUA. A fotografia usou de tons bem vivos para manter a essência alegre e rica do filme, colocando sempre muito dourado e verde rubi para que o grau de impacto de grandeza ficasse forte, e oscilando pouco para baixo nos momentos mais tristes, ainda assim o resultado soou rico.
A trilha sonora foi bem colocada, principalmente por trabalhar canções que estamos acostumados a ver em versões americanas, mas aqui cantadas em cantonês de uma forma gostosa e diferenciada, que claro deu ritmo e formato para a trama, destacando claro "Yellow" que ouvimos via Coldplay, e aqui cantada por Katherine Ho ficou bem interessante, além de outras bem bacanas de se conferir, e claro que deixo aqui o link para todos curtirem após o filme.
Enfim, é um filme bem gostoso que torço para que fique mais que uma semana em cartaz, para que mais amigos confiram, pois vale a pena e certamente quem for conferir, e gostar desse estilo, certamente sairá bem contente da sessão, portanto fica aqui minha recomendação, e já irei esperar a continuação, pois visto um pouco do estilo de Astrid, certamente não será nada fácil para os rapazes candidatos à namorado dela. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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