Diria que o longa "As Viúvas" possui dois grandes momentos na trama, mas que contá-los seria entregar spoilers máximos de um filme que é trabalhado mais nos diálogos e na essência do que no ritmo e na condução de algo maior que envolva realmente o espectador. E sabendo do estilo próprio de longas de premiações, é esse o grande motivo do filme ser tão chamativo para um público que gosta de dramas densos e sem muita dinâmica, afinal já vimos diversos filmes de grandes assaltos, muitos com temas fortes e bem colocados, mas raramente um que tivesse tanta dramaticidade dialogada entre protagonistas dos dois lados, um debate político e subversões imponentes por ares femininos de grandes nomes. Ou seja, um filme que se você é fã de longas mais sérios, com uma pegada mais dramatizada, aonde os diálogos acabam envolvendo e entregando boas situações, certamente vai gostar do que verá, agora caso contrário, a chance de dormir e acabar cansado com tudo o que é mostrado e/ou ficar olhando a hora no celular querendo saber se o filme já está acabando é bem alta.
A trama nos mostra que um assalto frustrado faz com que Harry Rawlins e sua gangue sejam mortos pela polícia e o dinheiro que roubaram seja destruído pelas chamas. Isto faz com que a viúva de Harry, Veronica, seja cobrada para que a quantia roubada seja devolvida. Pressionada, ela encontra um caderno de anotações de Harry que prevê em detalhes aquele que seria seu próximo golpe. Veronica então decide realizar o roubo, tendo a ajuda das demais viúvas dos mortos no assalto frustrado.
Todos sabemos bem o estilo que Steve McQueen costuma entregar em suas produções tanto como diretor quanto como roteirista, e esperar dele um filme dinâmico cheio de impacto seria o mesmo que esperar um milagre da Academia premiar como melhor filme um longa de super-heróis, então dito isso, posso afirmar que muitos assim como eu fomos conferir esse longa esperando esse milagre, pois ao ler o enredo e ver o trailer já até sabíamos que seria um filme bem pontuado, cheio de interseções dialéticas, com um elenco monstruoso de grandiosíssimos nomes do cinema, e que claro usariam tudo o que sabem de expressividade para criar um clima denso, mas quem sabe, ao envolver um assalto teríamos algo a mais na trama, não é mesmo? Ledo engano, a cena do assalto mesmo dura no máximo 10-15 minutos, isso com diversas reviravoltas no caminho, e praticamente encerra o filme de uma maneira bacana com o que é entregue, mas diria que McQueen que usou de base a série dos anos 80 para criar a trama do filme, usou demais os textos para que não precisasse de um filme mais alongado, e alongou o ritmo, e como costumo dizer isso é algo que cansa para o público. Claro que o filme está bem longe de ser algo ruim, mas dificilmente será daqueles que quem não for extremamente fanático por longas de cunho mais artístico sairá da sessão parecendo que viu uma maratona de conversas, e voltamos ao começo do texto, com a representação do estilo McQueen de fazer cinema.
Quanto das atuações diria que o mais engraçado aconteceu na sessão do cinema, pois quem for esperando ver os grandes nomes masculinos atuando como o rapaz que estava na última fileira do cinema, vai gritar logo de cara: "pô, paguei o filme para ver esse ator, e ele não durou nem 5 minutos!", e sendo assim, é melhor nem falarmos deles, pois foram meros enfeites cênicos. Porém o único que precisamos falar um pouco mais é Liam Neeson que aparece bastante no longa em memórias e tudo mais, mostrando seu estilo canastrão de sempre, e claro seus olhares sedutores que fazem dele um galã atual, mesmo já estando bem velhinho para isso, de modo que seu Harry Rawlins é bem feito pelo ator, e poderia ter até trabalhado um pouco mais em suas cenas para impactar mais. Agora quanto das damas, temos claro que começar pela rainha Viola Davis, que nos entrega uma Veronica forte, cheia de atitudes, e que com toda a classe que possui consegue criar vértices impactantes e complexos para uma mulher que valeria um desenvolvimento até maior (o que com certeza aconteceu na série), mas mesmo com o que faz aqui, como sempre consegue chamar a atenção e certamente irá brigar por vagas em algumas premiações, pois ela se doou muito para a personagem. Elizabeth Debicki também entrega bons atos com sua Alice, mostrando estar disposta até demais para sua personagem, fazendo cenas fortes e sensuais, mas sempre entregando atitude, de modo que sua cena em debate com David já de roupão é uma das mais bem trabalhadas que algumas mulheres já fizeram, e algumas mulheres vão até aplaudir, ou seja, fez bem tudo. Michelle Rodriguez nos entrega uma Linda bem colocada como uma mãe de família disposta a conseguir de volta o que é seu por direito, entrega poucas cenas de impacto, mas agrada bastante no que faz, sendo coesa ao menos. Cynthia Erivo também coloca boas atitudes para sua Belle, mas como só adentra a trama nas últimas cenas, a jovem fez o que pode e foi bem trabalhada também. Dentre os demais homens temos claro as cenas fortes de debate político entre Brian Tyree Henry com seu Jamal e Colin Farrel com seu Jamal, mas talvez seus personagens precisassem de bem mais tempo para serem trabalhados, pois até entregam personalidade em suas cenas, mas falta muito, e sendo assim o destaque claro recai para Daniel Kaluuya com seu Jatemme forte e cheio de atitude impactante em todas as cenas que fez.
No conceito visual, temos uma Chicago bem densa em seu 18° Distrito, cheia de problemas sociais, aonde tudo é bem representado por todos os personagens da trama, cada um na sua maneira, cada um em seu ambiente, mas todos vivendo em busca de algo maior, que bem sabemos é manter sua qualidade de vida, de seus filhos e de seus atos, usando para isso bons artifícios cênicos, locações cheias de detalhes tradicionais para mostrar o luxo de vida de Veronica, a super mansão do político corrupto junto de sua família, o ambiente de tráfico e decaimento da gangue, e claro o barracão da equipe de assalto cheio de elementos cênicos bem característicos, além do cachorrinho que nos entrega o grande momento da trama, que muitos nem vão pegar logo de cara, mas que foi muito bem treinado, e agradou bastante no que fez. A fotografia é bem escura para criar uma densidade cênica, mas que foi bem usada dentro da proposta, mas talvez alguns tons mais claros em determinados momentos e/ou um pouco mais de vermelho para impactar e realçar alguns atos dariam um ritmo melhor para a trama.
Enfim, é um filme interessante pela proposta, mas tenho certeza de que a série foi bem melhor nos anos 80 por poder desenvolver mais cada personagem e seus devidos atos, pois aqui o longa fica parecendo acelerado nos atos, mas lento de atitudes e ritmo, o que faz cansar mais do que agradar, e sendo assim, como disse no começo está bem longe de ser algo ruim, mas que também passa bem longe de ser um filmaço que recomendaria para todos, sendo apenas para aqueles que gostam de filmes feitos para premiações apenas praticamente. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, afinal nessa semana vamos ter muitos, então abraços e até logo mais.
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