É interessante como temos uma onda de filmes religiosos aparecendo quase que todos os meses para conhecermos um pouco mais opiniões diversas e até emocionarmos com algumas mensagens, mas na mesma onda também tem vindo alguns longas que são mais reflexivos do que religiosos em si, que trabalham bem a ideologia da fé, embarcando bem no formato do acreditar na sua vontade pode ajudar a sair de um problema grande, e foi assim com "O Que De Verdade Importa", e agora eis que surge "Entrevista Com Deus", que diferente do primeiro agora temos um pouco mais de embasamento religioso em cima do tema, que também mais trabalhado consegue funcionar dentro da proposta emocionando e vivenciando nas passagens bem dialogadas tudo o que vem acontecendo de bagunça na vida do protagonista, e como sua fé e o seu perdão próprio e para com os outros pode ser bom se acreditar nele. Ou seja, temos um filme com uma mensagem bacana, e que trabalha bem diversos elos religiosos, através de um diálogo pontuado e muito bem feito pelos protagonistas, colocando os secundários quase como invisíveis na trama, de modo que não me surpreenderia se aparecesse em breve como uma peça de teatro muito bem atuada por dois grandes nomes, pois o tema dá para brincar bastante, e a forma entregue da mensagem é universal. Diria que o filme tem valor, mas falta um algo a mais para apertar o calo e emocionar realmente como o filme poderia, mas ainda assim, alguns irão refletir bem mais do que o imaginado com o que é mostrado no longa.
O longa nos conta que após cobrir a guerra do Afeganistão, o jornalista Paul Asher retorna para casa, com a sua fé abalada. Completamente sem esperanças, Paul se vê diante do maior desafio da sua vida profissional: entrevistar um homem misterioso que diz ser Deus. Em conflito com suas crenças, ele agora se encontra diante da seguinte questão: O que perguntar a Deus?
Assim como aconteceu com "O Que De Verdade Importa", aqui novamente temos um longa que a renda está destinada à caridade, e após 24 anos apenas dirigindo séries, o diretor Perry Lang volta entregando um longa aonde sua direção se volta quase que completamente aos atores, não tendo quase uma fluidez cenográfica ou alguma interação mais forte com ângulos, trabalhando mais nas expressividades dos dois protagonistas para que o primeiro roteiro cinematográfico de Ken Aguado funcionasse, e entregasse boas dinâmicas. Claro que as escolhas cênicas deram um bom tom para o filme, colocando praticamente as três fases do protagonista com seus familiares (não especificando-as claramente, mas vemos o parque que ia na infância com o pai, o teatro que a mãe trabalhava, e um hospital aonde certamente ele os viu partir!) em cena ele conseguiu dar um ar mais vivo, mas o grande cerne foi feito na dinâmica entre os dois para que através de boas indagações, e mensagens que vemos em livros religiosos funcionassem de forma dúbia e interessante de serem discutidas, ou seja, o longa brinca o tempo inteiro com nossa mente, e até mesmo com nossa fé, de modo que fincamos no protagonista a esperança de para onde ele conseguirá ser levado, e sendo assim o resultado final agrada. Volto a frisar que Lang e/ou Aguado poderiam ter causado mais impacto em muitas cenas, mas foram sutis na proposta, e certamente a mensagem acabará sendo passada.
Chega a ser até engraçado que o longa tenha mais do que os dois atores protagonistas, pois eles até conseguem ter algumas dinâmicas e diálogos bem colocados para frisar a ideia que está sendo passada, mas basicamente só precisamos falar dos dois, e claro para começar temos de ir com o jovem Brenton Thwaites que é daqueles atores que fazem de tudo um pouco, e aqui tentou mostrar que é bom em dramas também, conseguindo entregar uma certa expressividade para o seu Paul, com olhares bem colocados, entonando forte seus diálogos nos momentos de impacto com seu entrevistado, e brincando bastante com seus momentos de dúvidas para todos os lados, de modo que acabamos gostando do que faz na maior parte, mas faltou um pouco mais de coesão em alguns atos junto com as mulheres da trama para que o filme tivesse uma determinação maior com seu personagem, soando um pouco falso nas atitudes, e indo melhor nos atos. David Strathaim é um dos mestres na arte de filmes dialogados ao máximo, e aqui como Deus conseguiu chamar a atenção para si, encaixar boas dinâmicas, e principalmente focar nos atos que lhe foram solicitados, ou seja, está ali para trabalhar a cena com o protagonista, entregando dinâmica nas conversas, e enfrentando ele com sutilezas clássicas bem colocadas, e claro que o ator dá um show. Quanto aos demais, Yael Grobglas entrega uma Sarah até que expressiva, mas que não diz a que veio nas poucas cenas suas, Charlbi Dean Kriek faz o mesmo com sua Grace, só que em menos cenas ainda, e Hill Harper até tenta trabalhar alguns olhares e diálogos com seu Gary, mas não chama a responsabilidade nem na sua cena mais alongada, ou seja, como disse no começo do texto, ainda veremos um dueto nos teatros fazendo o filme funcionar bem melhor.
O conceito visual da trama é bem simples, com cinco cenários bem escolhidos no meio da turbulenta New York, com uma praça aonde pessoas jogam xadrez, com tons bem contrastantes e interessantes para uma entrevista leve no primeiro ato, depois um teatro imenso todo em vermelho para as questões mais pesadas, depois um depósito de um hospital para as questões mais abertas e de revelação, aonde toda a cenografia praticamente é subjetiva para o andamento do longa, tendo ainda no miolo o jornal aonde o protagonista trabalha e seu apartamento, mas ambos com mais toques de preenchimento, aonde tivemos muitos elementos cênicos jogados, do que realmente algo propenso a funcionar para o longa. A fotografia ficou mais de luzes de preenchimento também, dando contrastes para todos os cenários, sem pesar nem aliviar em momento algum para que a trama tivesse algo mais diferenciado, mas funcionou ao menos.
Enfim, é um filme que tem uma proposta interessante, mas que certamente poderia ter ido muito além do que fazer apenas o público refletir, e talvez algo mais pontuado chamasse mais a atenção e daria um público bem maior também, pois a falta de algo que fizesse o público lavar o cinema vai ser a maior reclamação da crítica em si, e talvez alguns vão reclamar também do longa não ser enquadrado diretamente à nenhuma religião, o que na minha opinião é satisfatório. Recomendo ele mesmo para filosofar e refletir sobre fé, pois muitos estão precisando de um pouco mais de crença do que religião para que o mundo funcione melhor. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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