Alguns estilos de filmes possuem moldes bem prontos, e são poucos os diretores que procuram ousar um pouco dentro da camada estrutural, e o que mais abre brechas para essas leves ousadias é o tal do romance, que se for sabiamente bem colocado consegue ter pitadas inteligentes e entregar filmes gostosos e divertidos sem precisar apelar para nada. Digo isso antes de começar o texto realmente de "Juliet, Nua e Crua" pois a intenção do longa é bacana e mostra como alguns casais vivem hoje na mesma casa e praticamente nem se conhecem direito, além de terem anseios maiores que suas próprias vidas, e claro também por mostrar que alguns fãs até exageram demais em cima de irrealidades sobre seus ídolos, ao ponto de criarem templos, sites, e fazer com que o misticismo seja tão grande que passam a nem acreditar quando conhecem a real pessoa que era completamente diferente daquilo que ele imaginou. Ou seja, um filme com uma proposta bacana, moderna e até divertida, mas que ficou faltando mais romance realmente para ir para algo bonitinho de ver, ou alguma dramaticidade mais tensa, caso fosse para outro lado, ficando bem em cima do muro como um longa diferenciado e inteligente, mas que faltou ousar realmente como poderia para causar e emocionar a todos.
A sinopse nos conta que Annie está presa em um relacionamento de longa data com Duncan, fã obsessivo do obscuro roqueiro Tucker Crowe. Sua idolatria é tamanha que ele chega a ser mais dedicado ao ídolo do que à própria namorada, com quem vive junto há anos. Quando surge uma demo acústica de Tucker, que foi hit há 25 anos e nunca fez um segundo álbum, Annie é extremamente crítica ao material, enquanto Duncan imediatamente o venera. Após publicar um comentário negativo no site dedicado ao cantor, o próprio Tucker entra em contato com Annie, através de um e-mail onde diz que concorda totalmente com o que ela disse.
A entrega dos irmãos Peretz é bem condicionada em cima do livro de Nick Hornby, de modo que tanto o roteiro de Evgenia quanto a direção de Jesse foi toda bem linear, cheia de pontos que dão a leveza com toque de humor, e vão sendo desenhados cada ato em cima de cada um dos três protagonistas, mostrando a insegurança em mudanças de Annie, a cegueira fanática de Duncan, e a bagunça que Tucker leva para alinhar os vários filhos do passado em tentar gostar dele, ou seja, temos praticamente três histórias bem separadas, mas que se alinham e se complementam, criando bons vértices, e que o diretor, que é mais conhecido pelas diversas séries que já fez, conseguiu orquestrar e entregar de uma maneira bem sutil e gostosa de ver. Ou seja, não posso dizer que temos um filme que você sairá apaixonado da sessão (aliás a frase final do longa diz tudo, e é extremamente divertida com relação ao amor!), mas que consegue entreter de uma forma diferenciada e gostosa, cheia de situações bem colocadas dentro de um relacionamento com pessoas estranhas entre si.
Sobre as atuações, diria que Rose Byrne aparece novamente maravilhosa com sua Annie, cheia de diálogos bem pontuados, introspecções colocadas tanto em sua expressividade quanto nos trejeitos, de modo que acabamos nos afeiçoando às suas atitudes e fazendo até as mesmas caras que a protagonista diante de algumas situações, ou seja, conseguiu soar agradável e entregar uma boa personagem. Ethan Hawke se encontrou no personagem Tucker Crowe, de tal forma que praticamente enxergamos o ator em seus momentos de descanso, na bagunça de conversar com um filho falando de outro casamento, e cheio de inteligentes jogadas, o ator conseguiu traduzir o personagem para que o filme fluísse bem durante suas conversas no computador/celular, mas melhor ainda ao vivo quando a bagunça realmente começa. Chris O'Dowd foi bem coeso em sua atuação entregando olhares tradicionais de fãs que são desesperados por algo de seu ídolo, e que acabam nem vendo nada ao seu redor sem ser aquilo que quer enxergar, de modo que seu Duncan acaba tendo um eixo bem trabalhado e consegue chamar a atenção em diversos momentos, fazendo um antagonismo interessante, mas também sendo bem bobo em diversos momentos. Dentre os demais, vale a pena falar somente do garotinho Azhy Robertson, que entregou um Jackson bem colocado, cheio de energia, e que faz do pai um ídolo maior do que a música lhe proporcionou, agradando em cheio com diversos trejeitos bem colocados, e sendo doce o suficiente para gostarmos de seus momentos.
A trama teve um visual simples, bem característico de produções artísticas, e que consegue nos passar todo o marasmo de uma cidade aonde a pessoa nem tem como querer mudar de vida, ficando realmente presa no passado até quando for morrer, ainda mais trabalhando em um museu, e essa boa simbologia para encarar as mudanças, brincando com a personalidade dos personagens, e os objetos cênicos ao redor, acabou dando um tom maior até do que a trama envolve, e assim sendo embora a equipe não tenha feito muitas modificações nos ambientes, o resultado visual acaba sendo bonito e envolvente de se analisar. A fotografia não quis trabalhar muito com variações de tons e humores para que a trama seguisse somente uma linha, e até que saiu bem acertado, pois acabamos indo no mesmo sentimento que a trama propõe do começo ao fim.
A maioria das canções conseguem transmitir sentimentos para o filme, algumas mais, outras menos, e como praticamente todas aparecem legendas durante a exibição, conseguimos ir nos interessando pelo álbum do cantor fictício mais pela essência do que pela balada em si, de modo que até daria para virarmos fãs como é um dos protagonistas da trama. E para quem quiser escutar as canções, aqui segue o link.
Enfim, não é um filme memorável, mas consegue soar envolvente e entregar uma boa dinâmica, que para uma tarde de feriado acabou sendo até gostoso demais conferir e se divertir com tudo o que foi mostrado, mas certamente ficou faltando um algo a mais na proposta, que como disse acima seria decidir de que rumos encarariam o longa, como um romance aonde a mudança de perspectiva acaba chamando a atenção, ou um drama mais impactante devido aos diversos assanhamentos do cantor, que aí sim o longa pegaria fogo. Dessa forma recomendo ele com essa ressalva, mas ainda assim, é um bom exemplar para ser conferido, e está em cartaz em diversas cidades através do projeto Cinema de Arte, então vejam na programação e boas sessões. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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