Para quem nunca viu a série Millennium, recomendo antes de tentar ver qualquer um dos filmes americanos, que pare algumas horinhas e vá conferir os três longas suecos de 2009, pois certamente conhecerão toda a trama, e verão uma ótima amarração de suspense bem feita em cima dos ótimos livros de Stieg Larsson. Após isso, muitos não gostam do filme americano feito em 2011, mas digo que foi bem interessante, trabalhando bem as personalidades dos personagens, e indo até além um pouco do que o primeiro filme sueco fez, mas como dinheiro sempre fala mais alto, tanto Daniel Craig quanto Rooney Mara exigiram alto demais da produtora responsável pelos direitos do longa, e ficamos sem as duas devidas continuações. Pois bem, passados 7 anos, eis que um dos pupilos de Larsson, David Lagercrantz, usando as anotações de seu mestre, escreveu a continuação, meio que misturando um pouco de spin-off, das histórias contadas, e surge então "Millennium - A Garota Na Teia De Aranha", que os americanos que não são nenhum pouco bobos, já foram atrás e conseguiram o direito de filmagem antes mesmo que os suecos pudessem por suas mãos direito no livro, e então cá estamos conferindo a saga de Lisbeth Sallander, agora vivida por uma nova atriz, e claro tendo um Mikaek Blomkvist também novo (aliás aparentando ser até mais novo que Craig no primeiro filme, ou seja, já tendo um leve probleminha para quem conhecer bem os filmes!). Diria, inicialmente, que o filme até foi bem trabalhado, tivemos uma "heroína" impactante que usa bem a base dramática que o longa precisava, entregando a personagem como ela deve ser realmente, mas que tem história demais para um único filme, deixando o público até um pouco cansado com tudo o que é mostrado em cena, mas que não soa ruim ao menos, e isso já faz valer para quem gostar de ver um longa cheio de amarras, que se cortar um eixo é capaz de nem mais saber o que rolou em cada ato. Ou seja, funcionou como uma continuação deve, mas que poderiam ter feito todos os filmes sequenciais para que a trama fosse completamente amarrada, com certeza poderia.
Estocolmo, Suécia. Graças às matérias escritas por Mikael Blomkvist para a revista Millennium, Lisbeth Salander ficou conhecida como uma espécie de anti-heroína, que ataca homens que agridem mulheres. Apesar da fama repentina, ela se mantém distante da mídia em geral e levando uma vida às escondidas. Um dia, Lisbeth é contratada por Balder para recuperar um programa de computador chamado Firefall, que dá ao usuário acesso a um imenso arsenal bélico. Balder criou o programa para o governo dos Estados Unidos, mas agora deseja deletá-lo por considerá-lo perigoso demais. Lisbeth aceita a tarefa e consegue roubá-lo da Agência de Segurança Nacional, mas não esperava que um outro grupo, os Aranhas, também estivesse interessado nele.
O diretor Fede Alvarez possui em sua essência o estilo de terror mais aprimorado, tanto que fez dois ótimos filmes do estilo, sempre trabalhando com baixíssimos orçamentos, e agora com algo bem maior em mãos, ele soube ser criativo em cima de um livro que praticamente algo que muitos já conheceram no passado, mas principalmente ousando por falar para si próprio e para todos os espectadores que nada do passado cinematográfico importa, vindo aqui como algo completamente novo e relevante apenas para esse filme e outras continuações, caso tenha. E isso é muito bom frisar, pois quem tentar conectar algo com o longa americano de 2011 e/ou com os três filmes suecos de 2009, certamente irá ficar bem confuso e só irá reclamar de tudo o que verá, de forma que quem conferir esse como algo paralelo, já que nem é mais um dos livros de Stieg Larsson, sendo apenas aproveitado os personagens, o resultado passa a ser bem mais favorável e interessante, pois o diretor soube onde pegar cada referência, trabalhou bem os personagens, e principalmente ousou no estilo, afinal colocando pitadas mais sombrias, como é o seu estilo, o resultado em si empolga e acaba sendo interessante de conferir. Claro, que mesmo fazendo dessa forma, o longa é cheio de pequenos furos e exageros tecnológicos, mas ainda assim é um filme bem vivenciado, agradável e que quem gosta de mistério/suspense ficará satisfeito se não for muito exigente com a trama.
Quanto das atuações, diria que Claire Foy é uma atriz extremamente versátil, pois já foi rainha com muita classe, entregou uma mulher completamente preocupada e bem colocada, e agora como a hacker mais impactante que o mundo já conheceu ela acabou colocando um novo marco em sua carreira, pois é inegável que haverá imensas comparações com as demais Lisbeth Salander que já tivemos, tendo Noomi Rapace uma mais insana, Rooney Mara uma mais perversa, e agora ela conseguiu trabalhar com muita raiva no olhar, e tecnologia na mão/cabeça, de modo que tudo que faz é incrível de ver, ou seja, soube usar um pouco de cada uma das que já fizeram o papel, e demonstrou que é uma atriz de primeira linha também. Sverrir Gudnason mostrou que os suecos possuem personalidades bem facetadas, de modo que seu Mikael Blomkvist é completamente diferente dos outros que vimos, sendo bem mais jornalista, ficando na dele, e auxiliando apenas como alguém influente para localizar dados para Salander, e nada além disso, mas claro como todo bom jornalista, indo atrás da fonte, e caindo em grandes enrascadas. Sylvia Hoeks também foi bem clássica, com trejeitos moldados e um humor bem peculiar para inserir sua personagem Camilla como uma vilã interessante e cheia de detalhes, que poderiam até ter trabalhado mais no miolo, mas deixaram apenas para o desfecho suas maldades, e coerências junto da protagonista. Lakeith Stanfield entregou bem também seu papel de Needham, mostrando uma boa faceta de um hacker americano colocado dentro de algo do governo, ou seja, alguém mais certinho, mas foi bem determinado nas cenas, e trabalhou bem suas expressões para chamar atenção, mesmo que seu personagem acabe indo para um rumo diferente. Dentre os demais, vale apenas dar um leve destaque para Cameron Britton como o amigo e parceiro hacker de Lisbeth, Plague, que teve boas sacadas em poucos momentos, mas que agradou também pelo que fez, e claro o garotinho Christopher Convery que colocou um August cheio de olhares tristes e bem trabalhados nos momentos certeiros.
No conceito visual, a equipe artística arrumou boas locações em Estocolmo, numa época cheia de neve, fazendo muito frio, e com isso teve de trabalhar bem com carros potentes, muita patinação de pneus, mas tendo um charme visual incrível, além claro de cenas que muitos podem até falar absurdas de carros correndo dessa forma na pista cheia de neve. Além disso arrumaram mansões velhas bem colocadas cheias de detalhes simples, e com visuais dos personagens moldados pelo que conhecemos dos livros sendo desenvolvidos na medida. A fotografia trabalhou tons bem homogêneos, quase puxados para o preto e marrom, mas tendo na maioria das cenas algum elemento de destaque, como por exemplo a roupa vermelha da vilã, tons azuis dos choques, e quando aparecia muito branco da neve, em contraponto tanto carros, quanto roupas eram bem pretos para contrastar realmente, ou seja, um trabalho interessante.
Enfim, é um longa que passa bem longe de ser perfeito, e como disse, se for comparado com qualquer outro longa anterior da série consegue ficar ainda pior, portanto recomendo que vejam ele como algo a parte, como se estivesse conhecendo todos os personagens agora, numa trama de suspense e ação bem amarrada, que consegue captar a essência dos demais, pois aí sim dá para curtir tudo o que será mostrado na telona, do contrário a chance de odiar é bem grande. Ou seja, tem duas formas de conferir o longa, e recomendo até o que é passado, mas para isso, vá sem referências alguma, pois aí tenho certeza de que irão curtir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia, então abraços e até logo mais.
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