Chega a ser até difícil vir falar algo de "O Grande Circo Místico", pois o diretor Carlos Diegues praticamente demorou oito anos desde que foi iniciada a produção do filme, e desde lá já se falava muita coisa sobre a trama, sobre contar a história de 100 anos de um circo, seus bastidores, e como foi a passagem entre as cinco gerações da família, e a cada ator de grande nome no cinema que era citado, a expectativa em cima do longa só aumentava, na sequência o longa é anunciado como o nome nacional para concorrer à vaga do Oscar de Filme Estrangeiro, ou seja, deixou todos extremamente aflitos para conferir, e eis que hoje o longa estreia na cidade, e a decepção veio junto com cada cena entregue, que sim até tem todo um misticismo, mostra os diversos personagens, mas assim como é mostrado numa placa logo em uma das primeiras cenas do filme, esteja preparado para muita putaria, e claro sexo sem limite, inclusive com cenas de estupro, membros e tudo mais, ou seja, mesmo com classificação de 16 anos, a qual crianças podem assistir acompanhada de um responsável, recomendo que não levem ninguém menor de 18 anos, pois pode ser algo meio constrangedor. Ou seja, dizer que o filme é extremamente ruim é algo forte demais, mas ser algo que valesse qualquer indicação também é uma loucura completa, pois o filme é abstrato, cheio de coisas desnecessárias, e que mesmo mostrando que a vida nos bastidores de um circo passa bem longe de ser as mil magias como parece ser no picadeiro, dando uma realidade mais dura, o resultado acaba sendo estranho demais para sairmos alegres ou até mesmo reflexivos com tudo o que acabamos de ver na telona, ou seja, bagunça demais em tudo.
O filme conta a história de cinco gerações da família dona do circo. Desde a inauguração do Grande Circo Místico, em 1910, até os dias atuais, os espectadores acompanharão com a ajuda de Celaví, o mestre de cerimônias, as aventuras e os amores da família Kieps, desde o início, passando por sua decadência, até o surpreendente final. Um filme em que realidade e fantasia se juntam em um universo místico.
Diria que o diretor voltou a sua época mais tradicional de direção que foram os anos 70/80/90, aonde o sexo dominava suas produções e puxado sempre para um vértice bem machista conseguia agradar o público de certa forma, mas certamente agora a trama caiu meio que fora de eixo, e mesmo com um brilhantismo bonito, boas canções que já vieram moldadas do musical de Chico Buarque exibido em 82, e até atuações bem trabalhadas, o resultado acabou sendo entregue quase de modo forçado, aonde não conseguimos adentrar ao carisma/conexão com quase nenhum personagem (sem ser o narrador/apresentador claro!), e assim sendo vemos um filme duro, que até tenta ser fantasioso, que entrega alguns momentos bem interessantes, mas que no fundo não passa de uma história moldada e desenvolvida dentro de um modelo para ir mostrando a decadência do circo através de gerações feitas nos moldes apenas para assumir a "empresa" circense e que sem muito afinco só vão deplorando tudo através de quase uma venda dos corpos para criar filhos e ter novas gerações dentro do circo. Ou seja, diria que Diegues até tentou ser bem colocado ao sair do molde do musical, mas que certamente acabou apelativo demais e não chegou nem a 10% do brilhantismo que poderia ter conseguido se o filme focasse de uma forma mais doce e bonita, ou que escrafunchasse de vez e fosse 100% amargo que teríamos algo mais trágico e interessante.
Quanto das atuações, temos que começar falando do apresentador de todos os atos, que até acaba sendo algo mais visceral e de forma que possamos pensar até em algo mais referenciado ao personagem, por praticamente não envelhecer nada durante os 100 anos que o longa se passa, mas que além da simbologia da vida, o Celaví de Jesuíta Barbosa é incrível, como todos os personagens que sempre o ator entrega, e aqui, ele literalmente dá o show para nós, tendo sacadas bem colocadas, momentos de carisma e emoção, e claro muita pontuação enfática nos diálogos, que realmente valeria até deixar o longa somente com ele, que teríamos algo incrível de ver. Diria na sequência que o primeiro ato é de um charme belíssimo, tanto com uma atuação maravilhosa de Bruna Linzmeyer como Beatriz, quanto do médico Fred vivido por Rafael Lozano, de tal forma que mesmo a cena de sexo à lá kamasutra com infinitas posições acaba sendo bonita de se ver, e ambos os atores mostraram uma química bem colocada em todos os momentos agradando com olhares, símbolos, e demonstrações bem colocadas para envolver o espectador para o ato completo. Ainda no primeiro ato tivemos dois grandes atores entregando rápidas participações, mas muito bem colocadas para representar o começo do circo, ainda na família nobre de Fred Kieps, com seu pai interpretado pelo sempre intenso Antônio Fagundes, e a Imperatriz feita pela grandiosa atriz francesa Catherine Mouchet falando um português com sotaque delicioso e bem interpretado. Entrando no segundo ato temos cenas mais fortes, e claro já entra em cena o já quase brasileiro, mas ainda francês Vincent Cassel com o mágico Jean-Paul, que entrega uma personalidade bruta, do qual não gosta de estar no circo, e que acaba ocorrendo diversos conflitos com Charlotte, interpretada de forma meio insossa por Marina Provenzano. O terceiro ato já vem para o lado mais louco da trama, com Juliano Cazarré entregando um Oto completamente apaixonado pela irmã, mas que acaba encontrando em Lily Braun, interpretada bem sutilmente por Luiza Mariani que cantou até que bem bonito, a pessoa para lhe dar sua filha para seguir no mundo circense. E então chegamos ao quarto ato do longa, com Mariana Ximenes entregando a beata Margarete, cujo o pai (Cazarré) não deseja que ela vá para o convento, para claro dar uma criança para a geração do circo, e eis que vemos a atriz que sempre entrega boas personagens malucas acaba fazendo uma loucura muito louca, e junto de seu parceiro de trapézio Ludwig interpretado pelo polonês Dawid Ogrodnik, acaba casando mas de forma bem estranha, para termos outra cena fortíssima e irmos para o quinto e último ato, aonde as gêmeas Amanda e Louise Brito acabaram fazendo Maria e Helena de forma mais bizarra ainda que a mãe, e temos ainda mais grandiosas cenas fortes e bizarras, que ao menos foram bem interpretadas.
No conceito cênico, a trama entrega claro boas locações começando com uma mansão luxuosíssima de época, um cabaré bem simplório e cheio de detalhes, para depois irmos para um circo interessante e cheio de artimanhas, animais, diversos personagens, tudo bem envolvente e detalhado, que com o passar dos anos vai ficando cada vez mais estragado, feio, com furos na lona, com pouca platéia, músicos cada vez mais simples, sempre diminuindo de estrutura e tendo coisas e mais coisas quebradas, que acabam dando um tom bem luxuoso para o resultado final, o que agrada bastante, e mostra que a equipe de arte soube ser condizente tanto em figurinos como nas cenografias para que o longa ficasse completo. A fotografia brincou e ousou bastante em tons fortes, e iluminações passeando pelos personagens por diversos momentos, dando contras corretíssimos que nos davam sensação de preenchimento e agradavam pelo teor de cada cena, mas ainda assim poderiam ter chamado mais a responsabilidade para dar algo ainda mais impactante, que funcionaria também.
Enfim, é um filme que poucos vão gostar, muitos irão conferir para saber o que é que o Brasil está mandando para o Oscar (e talvez até saiam antes do final do filme), e que nem dá para recomendar ele para quem não seja realmente curioso por longas desse teor, pois não é um filme digesto para assistir e sair da sessão maravilhado com o que verá na tela, pois é bem estranho e fora de eixo, pois não ataca, nem acalenta, ficando em cima do muro em todos os sentidos. Sendo assim, se você for, tente enxergar melhor as reflexões dos personagens, e principalmente do apresentador que conduz a vida dos personagens, pois de resto, com certeza não dá para dizer que irá gostar de nada. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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