Já vimos em diversas novelas o ato de sequestros relâmpagos, mas sempre colocado em segundo plano, mostrando uma ou outra vertente dos atos, até que resolveram fazer agora um longa inteiro dedicado ao ato, acontecendo mil e uma façanhas, com a sequestrada por vezes morrendo de medo, outras vezes auxiliando os sequestradores a não serem pegos, outras vezes se rebelando, e com tudo acontecendo com uma normalidade tão absurda, que ao final ficamos realmente inconformados de ser baseado na história real da artista visual Ana Beatriz Elorza, pois se ela conseguiu manter tanta conexão com os bandidos da forma que é mostrado no longa "Sequestro Relâmpago", ou ela foi algum tipo de gênio, ou os assaltantes eram muito ruins de serviço, pois conhecendo o crime como anda atualmente, na primeira mancada mostrada, os assaltantes já não lhe deixariam com vida. Ou seja, é um filme razoavelmente curto, pois tem apenas 71 minutos, mas a essência é tão alongada que parece ter bem mais, e quem não for bem adepto desse estilo de filme vai acabar se cansando com o resultado final.
A sinopse completa nos conta quase o filme inteiro mostrando que Isabel sai de um bar em um bairro boêmio. Quando se aproxima de seu carro, é abordada por Matheus, 34, e Japonês, 21, que a forçam a entrar. Matheus e Japonês não são amigos. Estão juntos apenas para fazer uma série de sequestros naquela noite. Isabel é a primeira vítima. Eles estão nervosos e Isabel também, mas ela percebe que os três não são tão diferentes entre si e que poderiam ser colegas. Ela investe no diálogo como forma de mediar a tensão imposta pela situação.
O primeiro caixa eletrônico para onde se dirigem está quebrado. São quase 22h. Os dois rapazes percebem que não conseguirão chegar ao próximo caixa e decidem manter Isabel como refém até que os caixas voltem a funcionar pela manhã. Os três passam a noite dirigindo de um lado para o outro de São Paulo, a maior parte do tempo em avenidas e bairros às margens da cidade para ganhar tempo e decidir o que fazer com Isabel. Refém em seu próprio carro, Isabel terá que negociar sua vida com Matheus e Japonês durante toda a noite.
A essência do cinema que a diretora Tata Amaral costuma entregar é bem coesa em cima de algo mais pontuado, e sempre segue um vértice direcionado em suas obras que consegue segurar o tema do começo ao fim, e aqui não foi diferente, pois se você desejava ver um longa sobre um sequestro relâmpago, você verá isso do começo ao fim, contendo até algumas situações bem absurdas, mas que dizem ser embasadas pela pessoa que viveu realmente esse sequestro. Diria que o longa poderia ter sido mais dinâmico, ter abusado mais de situações mais fortes, e até mesmo algum tipo maior de violência acontecendo, afinal sabemos que a maioria dos sequestros relâmpagos que ocorrem no Brasil não são tão bonzinhos como apresentado no longa, e mesmo que tivesse um dos dois lados (ou uma sequestrada completamente inteligente e sagaz que conseguisse ludibriar os sequestradores, e/ou sequestradores bobos o suficiente para não irem para vias mais fortes vendo a sagacidade da sequestrada), o acontecimento certamente seria bem diferente. Ou seja, faltou algo a mais no longa para ser crível realmente, e não apenas ir para o rumo bonitinho de ser visto no cinema, pois certamente a diretora saberia ser mais forte e agradaria mais o que seria entregue.
Sobre as atuações, não diria que ninguém do trio tentou se superar sobre o outro, e esse talvez seja um dos grandes problemas do filme, pois vemos os três indo bem o longa quase que inteiro, tendo seus devidos atos soltos bem encontrados, mas sempre um dependendo do outro para que o fluxo corresse, e isso numa trama de suspense/drama policial é imprescindível. Para começar Marina Ruy Barbosa é uma boa atriz, que sabe se expressar e consegue trabalhar bem os olhares de sua Isabel, porém sempre que ia despontar baixava um tom e voltava para a estaca zero, o que não é bom de se ver, e nem passa uma credibilidade nos atos, ou seja, poderia ter ou desgarrado para a loucura de vez, ou talvez fazendo alguém mais problematizado, chorando, gritando e tudo mais chamaria mais a atenção, pois mesmo não sendo ruim o que faz soa falso e fraco. Sidney Santiago conseguiu transmitir logo no começo seus motivos para entrar no sequestro, mas no início até entendemos algumas atitudes de seu Matheus, mas no decorrer da trama ele acaba se perdendo no eixo, e claro que o meio faz o ladrão, mas seus atos começam a ficar tão misturados que acredito que nem ele mais no final sabia o que estava fazendo, e talvez pela trama não ter sido filmada em sequência real, ele desandou um pouco, mas ainda assim, como disse, entendemos seus motivos, e talvez ele usando mais disso, o resultado seria outro. Pelo outro lado, Daniel Rocha teria de ter colocado tudo a perder para seu Japonês, e feito desde o começo dos atos o que fez na lanchonete, pois aí sim deixaria de ser um simples secundário para o principal e mais forte, entregando um assaltante de primeira linha, com força e impacto visual, mas ainda assim conseguiu ter alguns momentos com sentidos envolventes e até agrada um pouco. Quanto aos demais, a diretora quis ter elos, trabalhando alguns personagens de complemento bem rapidamente, e falhando por não serem nem desenvolvidos, nem servido para muita coisa, parecendo quase que se tivesse tempo viraria daquelas novelas com elenco de apoio que acaba falando mais do que deve.
Como a trama passa a maior parte do tempo dentro do carro, praticamente as ruas de São Paulo viram locações cênicas, com suas placas, seus engarrafamentos, blitz policiais, barzinhos de fim de mundo, e tudo mais, de modo que nada encontra uma força maior para servir como mote da trama, e sendo assim somente o carro funciona como algo a mais, e até entrega ali bons momentos. Diria que a equipe de arte não teve um trabalho para ser reconhecido, mas ao menos não desapontou nas cenas fora do carro como no desmanche, no barzinho e na casa da protagonista aonde souberam entregar bons elementos para dar uma valorizada na trama. A fotografia brincando com as luzes das ruas teve até seu charme em determinados momentos, mas acaba mais cansando do que agradando no resultado final, ajudando a alongar as cenas, e por determinados momentos acaba parecendo até algo monótono demais as diversas passadas.
Enfim, é um filme com uma temática bem colocada, mas que poderia ser desenvolvido de diversas maneiras melhores que certamente entregaria um longa mais próximo de uma realidade, ou se quisesse jogar tudo ao vento que criasse algo mais poético, que aí faria algum valor ter tudo mais bonito, mas ainda da forma que é entregue quem está mais acostumado com novelas certamente irá gostar mais, mas quem for esperando algo mais pontuado, a chance de reclamação é bem grande. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica, mas já volto amanhã com mais estreias, então abraços e até logo mais.
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