Como bem sabemos, a Índia é um dos países mais divididos socialmente no mundo, e isso é algo que incomoda até demais se pararmos para analisar, de modo que castas inferiores só servem para trabalhar e dificilmente se relacionam com castas superiores e até mesmo com as medianas, e aqui numa tratativa bonita e interessante, vemos a subserviência de uma jovem viúva que consegue entregar todo seu carisma e respeito para com seu patrão, que ao desistir de casar no dia do casamento por descobrir uma traição, passa a enxergar um carinho além do comum pela jovem, mas que voltando ao início do texto, sabemos bem aonde tudo vai acabar, pois duas classes não tem como misturar de uma forma coesa num país como esse, sem que exista conflitos. Diria que resumi o longa "A Costureira de Sonhos" em um parágrafo com o que escrevi acima, mas como bem conhecemos alguns tipos de filmes, os que puxam para um ar mais novelesco consegue trabalhar um pouco mais, criar as situações para que o romance flua, entregar todo o estilo de envolvimento patrão/empregada, e claro finalizar de uma maneira icônica bem marcada e que chama a atenção. Porém acredito que se esse fechamento ocorresse uns 20 minutos antes, teríamos ainda mais conflitos para desenvolver, e certamente a trama teria outra desenvoltura, mas como não é isso o que ocorreu, diria que o filme é bonitinho, e funciona ao menos com boas atuações, e uma entrega coesa da proposta.
A sinopse nos conta que a empregada doméstica Ratna trabalha para um homem rico, que tem uma vida de fartura e conforto, mas passa seus dias desesperançoso e desanimado. Enquanto isso, Ratna, que tem uma vida simples, segue determinada para alcançar seus sonhos.
Após dirigir um documentário em 2013, a diretora Rohena Gera estreia na ficção com um longa bem entregue, aonde vemos algo bem moldado no estilo novelesco, aonde ela até consegue sair a priori por não desenvolver tantos elos paralelos, mas ao exagerar num drama romantizado impossível, e colocar uma vivência sonhadora exagerada, acabamos tendo mais semelhanças com novelas do que com longas romanceados que poderiam dar até um outro tom para a trama. Não digo que essa escolha tenha sido errada por ela, mas talvez algum problema maior para ser resolvido na trama, um pouco mais da vivência da protagonista com seu sonho de virar estilista, e/ou uma atitude mais forçada por parte do patrão (eu pegaria a amada e partiria logo para NY, e resolveria o filme!) talvez desenrolasse melhor, mas não teria o final fofo e bem colocado como teve, mas acredito ainda que ela vá melhorar seu estilo, e sendo assim, para um primeiro trabalho à frente de uma ficção ela conseguiu ser coerente e bem disposta para ousar na discussão do envolvimento das castas, pois falar disso num país totalmente machista e segregado é algo ousado para uma diretora.
Quanto das atuações, praticamente temos de falar apenas dos dois protagonistas, pois os demais acabam aparecendo apenas como leves encaixes, mas dando também bons tons para os momentos, e dessa forma é claro que a jovem Tillotama Shome soube se entregar bem com sua Ratna, mostrando ao mesmo tempo devoção pelo seu "Senhor"(Sir - como é o nome original do filme, o qual a jovem fala o longa inteiro, e tem até uma marcação forte), mas também trabalhou bem sua atitude para que a personagem tivesse um peso interessante num misto de carisma bem colocado e dinâmica agradável, de modo que acabamos nos envolvendo com tudo o que faz, e isso certamente é um grande acerto. Por outro lado, Vivek Gomber nos entrega um Ashwin que inicialmente vem bem desanimado, mas que durante a trama toda vai sendo trabalhado, passa a se envolver mais com sua empregada, e num misto de ar sedutor/galanteador que o ator soube entregar bem, ele consegue agradar e se pontuar bem, resultando em cenas fortes e bem colocadas.
No conceito visual, a beleza da cidade vista pelo topo dos prédios, seja ele o do protagonista, mas que é usado pelas empregadas para se sentir por cima, ou nas construções aonde vive o jovem trabalhando para que cada vez mais os nobres estejam no topo, agrada por muitos sentidos, e juntando a isso, os figurinos foram tão bem simbolizados para mostrar o sonho de costura da jovem protagonista em ser estilista, de modo que tudo parece ter cor e sentimento, juntando a isso tudo, temos claro a boa separação das castas para mostrar desde a vila em que vive a família da protagonista, os casamentos arranjados, a comunidade pobre, e claro uma das cenas mais fortes da dona de uma loja chamando um segurança para apenas a visita da jovem, ou seja, um longa cheio de artifícios cênicos visuais bem trabalhados para representar tudo o que já falei, da grande divisão de classes, que é mostrada aos montes na trama. A fotografia não brincou muito com a iluminação, deixando tudo sempre num tom mais escuro, mas brincando com os tons dos figurinos para ambientar os momentos alegres e separar claro dos mais tensos, ou seja, algo simbólico, mas ainda assim simples.
Enfim, é um longa que não vai surpreender ninguém, mas que soa bonito e agradável de assistir, e mesmo tendo um ar novelesco não cansa como muitos outros casos, e sendo assim recomendo ele com a ressalva de que poderiam ter ido muito além caso quisessem, mas garanto que não vai incomodar ao menos. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto daqui a pouco com mais um texto do outro filme de hoje, então abraços e até logo mais.
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