Já vimos diversos longas que entregam o amor por São Paulo, outros mostram problemas da cidade, alguns pontuam bairros, e já tivemos até alguns que procuraram trabalhar a personalidade dos moradores, e claro, já tivemos inúmeras novelas desenvolvendo a vida na capital do estado, e certamente por isso, acredito que esperava algo além disso em "A Voz Do Silêncio", que trabalha bem sete personagens comuns, que possuem uma certa interligação, alguns são parentes, outros vizinhos, e por aí vai, de maneira tão orquestrada com pontuações tão semelhantes às novelas, que embora não seja cansativo e os 98 minutos passem até rápidos, não vemos nada além do tradicional e costumeiro da vida de sete pessoas em busca de alguma satisfação pessoal, almejando algo a mais, e vivendo, tendo um conflito ou outro dentro do seu pequeno mundinho em meio a algo imenso que é a cidade, mas nada que tenha uma vivência desenvolvida para criarmos um mote realmente. E sendo assim, fica parecendo que o longa não aconteceu, ou que você perdeu algo na essência que o diretor desejava passar, de tal maneira que só posso dizer, que vi um ajuntado de situações, com um ar esteticamente bonito, e nada mais.
A sinopse nos conta que o passar dos anos é impiedoso para todos. No filme, sete personagens aparentemente comuns conduzem suas vidas buscando, cada um, aquilo que acredita lhe trazer satisfação pessoal. Mas, mesmo com vidas distintas e distantes, eles se aproximam pela maneira como orientam suas existências com base em preocupações mundanas.
O diretor André Ristum tem um estilo próprio de trabalhar a personalidade de seus personagens, valorizando a apresentação e desenvolvendo cada um para mostrar seu potencial, o que certamente já vimos acontecer em muitas novelas, e aqui ele ficou desenvolvendo, desenvolveu mais um pouco, e esqueceu que precisava mostrar uma história realmente, de modo que apenas conhecemos cada um, vemos os seus problemas, eles se trombam no final com seus fechamentos do dia, e pronto fim do filme, aonde a voz entrou? Aonde o silêncio predominou? O que a cidade tem de conflitivo além do que já conhecemos, que os personagens não nos entregaram? Diria que nem responder isso o longa pode, ou seja, longe do silêncio, o que o filme nos entrega é um vazio imenso, e o resultado apenas é bonito de ver pela boa montagem, algumas leves mensagens bacanas dos atores argentinos, e nada mais.
Das atuações é mais bacana olhar para as essências dos personagens, do que para cada ator conhecido ou não que acaba entregando com simplicidade, bons olhares, e principalmente coesão para o que cada um acaba fazendo, de modo que vemos a velhinha bem interpretada por Marieta Severo, com problemas de memória que botou o filho doente para correr, mas ainda vive achando que ele está viajando por países chiques pelos postais que envia. Vemos o mesmo rapaz como um atendente de ligações de reclamações, e vivendo num cubículo, mas desejando voltar a ter a vida entre amigos, também bem colocado por Arlindo Gomes. Temos a stripper que faz o serviço apenas para manter o apartamento da mãe que já não pode mais trabalhar, e sem a ajuda do irmão sumido deixa de ser cantora argentina que é sua grande paixão, mas floreia ainda sua ânsia as vezes, feita de maneira coesa por Stephanie de Jongh. Temos o cobrador durão que está com a mulher internada e vive sonhando com ela boa vivido por Marat Descartes. Temos a filha argentina que tenta vender imóveis para pagar as dívidas e a escola do filho, mas que praticamente abandona o pai já no fim da vida, que precisa da ajuda do porteiro do prédio que sofre para trabalhar em dois empregos para conseguir pagar uma faculdade, vividos muito bem em conjunto pelos argentinos Marina Glezer e Ricardo Merkin, o jovem Enzo Barone e Claudio Jaborandy. Ou seja, atores que entregaram bem mais do que personagens, mas tiveram atos bem trabalhados nos seus grupos, sendo desenvolvidos sem ter realmente uma história, mas que envolvem ao menos.
No conceito visual, a trama entregou momentos singelos que costumeiramente não vemos só na capital (claro tirando o trânsito monstruoso), mas empresas de telefonia com suas baias, restaurantes com funcionários sendo maltratados, cobradores passeando e abusando de seus devedores, velhinhos esquecidos em casas cheias de memórias, e boates de quinta categoria (tirando o fato de uma criança poder entrar acompanhada do avô!!), e até uma rádio clássica pop bem moldada, ou seja, a equipe de arte foi elaborada para não ir muito a fundo, mas entregou algo bem feito ao menos. A fotografia nos brindou com cenas bem desenvolvidas de tons, mas mantendo o cinza clássico da capital envolvendo sempre tudo e todos, tendo leves cores vermelhas de contra, com iluminações pontuais para realçar os personagens, ou seja, o clássico bem feito.
Enfim, não diria que é algo completamente ruim, pois a essência desenvolvida é interessante, mas faltou um pouco mais de coesão, de conflitos, e principalmente de uma história maior para ser entregue, pois como costumo dizer, uma colcha de retalhos não esquenta se os retalhos não tiverem bem costurados, e sendo assim, o filme ficou vazio de impacto como cinema realmente, tentando levemente dar existência para a solidão dentro de uma cidade cheia de pessoas, mas nada que se atreva a dizer isso realmente, e dessa forma, não tenho como recomendar ele para ser visto numa sala grandiosa como um bom filme. Bem é isso pessoal, encerro "finalmente" essa semana bem gigante de estreias, mas amanhã já começo outra nova com uma pré-estreia, então abraços e até logo mais.
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