Sabe quando você termina um livro ou um filme, e se questiona se o que viu ou leu foi satisfatório para o que você esperava dele? Diria que mesmo sem saber praticamente nada fora a sinopse do longa "Em Chamas" tinha uma ideia de que ele conseguiria me prender mais, e no final até fiquei bem interessado pela proposta, entrei em dúvida das várias possibilidades, mas certamente não passou nem perto da tensão que poderia ocorrer, mas é o estilo coreano de cinema, que segura demais tudo, procura criar relações e nem sempre chega aonde propôs. E dessa forma, diria que o filme ficou denso, mas sem uma criatividade finalizada, deixando no ar demais tudo, o que não é bacana, ao menos ao meu ver.
A sinopse nos conta que durante um dia normal de trabalho como entregador, Jong-soo reencontra Hae-mi, uma antiga amiga que vivia no mesmo bairro que ele. A jovem está com uma viagem marcada para o exterior e pede para Jong-soo cuidar de seu gato de estimação enquanto está longe. Hae-mi volta para casa na companhia de Ben, um jovem misterioso que conheceu na África. No entanto, o forasteiro tem um hobby peculiar, que está prestes a ser revelado aos amigos.
A direção de Chang-dong Lee em cima do conto de Harumi Murakami é bem imponente, e joga muito com o benefício da dúvida em cima de todas as situações, de modo que ficamos sempre presos dentro dos diversos contextos, criando situações em nossa mente sobre quem seria o amigo, para onde foi a jovem, se tudo não foi o pensamento criativo do jovem escritor, e por aí vai, de modo que a essência da trama acaba sendo condizente e bem densa, porém como costumo dizer, sou do time que prefere que o diretor entregue sua idéia, e não aqueles que nos deixam livres demais para pensar, e sendo assim, o resultado final aqui acabou me desapontando, pois ele poderia fechar com algo a mais se dissesse sua opinião fechada.
Dentro das atuações, também faltou personalidade para sentirmos mais os atores dentro dos seus personagens, de modo que o protagonista é insosso demais para acreditarmos e nos envolvemos com ele, de forma que Yoo Ah-In nos entrega um Jong-soo com ideias demais e atitudes de menos, de tal maneira que seu fechamento é irreal com o que fez o filme inteiro, e isso soou até estranho de ver. Por outro lado, Steven Yeun, que é mais conhecido pelo seu papel em "The Walking Dead" nos entregou um Ben forte de expressividade e que nos causa diversos pensamentos com suas falas e atitudes, de maneira a ficarmos também esperando algo a mais dele no final. Jeon Jong-seo veio extremamente falante e cheia de atitudes com sua Hae-mi, mas trabalha suas virtudes de forma desenfreada para na sequência sumir, e isso soou um pouco estranho, embora funcional para com a ideia do longa, mas poderiam ter exigido um pouco mais dela. Quanto aos demais, a maioria apenas surge na tela, não indo muito a fundo, nem se desenvolvendo com os demais protagonistas.
Dentro do conceito artístico o filme possui um certo lirismo belo de ser visto, trabalhando o campo, a economia coreana com personagens bem pobres morando em casas minúsculas e/ou em completo abandono no campo, enquanto o outro possui algo riquíssimo cheio de detalhes, muitos elementos simbólicos para realçar as chamas de um crime iminente a qualquer momento, e claro os campos abertos para planos fotográficos bem moldados para termos um charme incrível em duas ótimas cenas.
Enfim, é um filme que diria interessante de proposta, mas que a falta de posicionamento do diretor em deixar o campo aberto demais para nossas interpretações, além de um alongado primeiro ato de apresentações, resultou em algo mais cansativo do que brilhante, e sendo assim, só o recomendo para aqueles que realmente gostam do cinema coreano de suspense, pois o estranhamento cênico pode não chegar a lugar algum se a mente do espectador não estiver preparada para ser criativo ao ponto que desejavam para a trama. Bem é isso pessoal, com esse longa encerro a Itinerância da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mas ainda tenho muitos longas para conferir nessa semana, então abraços e até logo mais.
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