Alguns filmes possuem essências simples, mas conseguem transparecer muito mais do que apenas entregam, traduzindo ao pé da letra o ar romântico que beira a êxtase, e permeia a mente dos corações apaixonados, e certamente essa foi a principal ideia que o diretor pensou quando estava criando "Guerra Fria", pois soube dosar bem o clima cênico em cima de um romance gostoso ao longo dos anos sem se preocupar muito com uma história problemática entre os protagonistas, mas sim segurando uma estética bem introspectiva, e agradável de acompanhar pela doce e melosa música tema. Ou seja, um filme até que simples de trama, mas com uma dramaticidade bem pensada, e que funciona dentro da proposta sem muita ousadia, porém com uma coerência bem discreta e interessante para sentir a paixão maluca entre os personagens.
A sinopse é bem simples e nos conta que durante a Guerra Fria entre a Polônia stalinista e a Paris boêmia dos anos 50, um músico amante da liberdade e uma jovem cantora com histórias e temperamentos completamente diferentes vivem um amor impossível.
O diretor e roteirista Pawel Pawlikowski ganhou Melhor Direção em Cannes pelo filme, e é fácil entender o principal motivo para isso, pois ele priorizou a estética com uma câmera quase sempre bem aberta, num formato quadrado interessantíssimo que consegue expandir o grau de vivência da trama, encontrando tanto dinâmica para um filme que poderia soar bem cansativo, mas que flui muito bem, agradando nos diversos momentos, e recaindo sempre para algo que parece ser direcionado para um conflito, mas que acaba indo claro para a cama, como geralmente acaba ocorrendo nas discussões amorosas mais intensas de grandes apaixonados. E com esse estilo próprio, ele acabou entregando um filme diferenciado que agrada bastante, mas que certamente poderia ter um conflito maior para causar, o que não atrapalha o resultado final, mas certamente daria um toque a mais.
Sobre as atuações, não sei dizer se Joanna Kulig realmente pôs sua Zula para cantar, mas se fez isso, conseguiu soar doce e incrível com a voz que muitas cantoras nunca tiveram, e olhando pelo estilo expressivo, a jovem também sou e entregar carisma, e envolver com bons olhares e dinâmicas. Tomasz Kot entregou um Wiktor tradicional, sedutor, e claramente com estilo clássico de grandes filmes noir hollywoodianos, se modo que sua imponência técnica e estética certamente será lembrada por algo bem impactante e interessante de ser visto. Quanto aos demais, tivemos algumas boas cenas com Borys Szyc com seu Kaczmarek chamando a atenção pelos ares formais e rapidamente conhecemos Cédric Kahn como Michel, mas nada de muito forte que roubasse a cena dos protagonistas.
A estética do longa pode até ser questionada por entregarem um longa em preto e branco, de modo que os elementos cênicos acabam nem sendo tão valorizados quanto a fotografia, mas certamente o teor forte encontrado nas locações e figurinos, juntamente com toda a essência folk do começo, as jogadas políticas, e o ar boêmio do final conseguiram encontrar uma saída estética tão bem coesa, que acabamos nos envolvendo no clima noir e indo na mesma toada da fotografia que o longa entrega e agrada demais.
Enfim, é um filme mais doce com uma ode dramática do que algo que cause impacto no público, fazendo o romance noir voltar com força em um longa de época bem clássico e interessante de ser acompanhado. Certamente foi um bom começo para a Itinerância da Mostra Internacional, mas ainda tenho muitos longas para conferir, então apenas digo que foi um bom exemplar, e recomendo ele para quem gosta desse estilo. Bem é isso pessoal, vamos para mais uma sessão, e até mais tarde.
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