Alguns filmes tentam criar histórias para mostrar diversas vidas da mesma pessoa, trabalhando o lado cármico que alguns acreditam ter de acontecer sempre a mesma sina em épocas diferentes, inclusive com as mesmas pessoas ao lado, mas quando algum diretor resolve trabalhar usando inclusive os mesmos atores, mudando apenas cortes de cabelos e barbas, figurinos e locações, geralmente resultam em tramas extremamente cansativas, e sendo assim ultimamente no cinema haviam poucos malucos que se arriscavam a isso, deixando para trabalhar essa essência em séries e novelas. Mas como bem sabemos, os portugueses já foram malucos de descobrir esse país que vivemos, e aqui junto com uma produtora nacional resolveram entregar "Pedro e Inês - O Amor Não Descansa", que muitos sairão da sessão (aqueles que aguentarem as 2 horas que parecem 5 no mínimo!) exaustos e com a nítida certeza de ter visto uma novela bíblica produzida pela Record, que parece nunca ter fim, que intercala os diversos momentos para não termos respiro, e com cortes cênicos dignos de um açougueiro nervoso, ou seja, algo que não tem como gostar se você não for um amante nato dessas novelas. E o que apenas salva no longa certamente foi a boa produção cênica, pois os atores sofreram para viver diversos personagens, tendo muitas trocas de figurino, muitos cortes e tonalidades de cabelo, e tudo mais que se possa pensar, o que ao menos deu uma valorizada na poética e cansativa história de amor dramático dos protagonistas.
A sinopse nos conta que internado em um hospital psiquiátrico por dirigir com o cadáver de sua amada na intenção de transformá-la em uma rainha depois de morta, Pedro (Diogo Amaral) começa a recordar os acontecimentos de suas vidas passadas junto a Inês (Joana de Verona). Deslumbrado, ele descobre como foram todas as suas existências, que passam da Idade Média, até o presente e um futuro distópico.
Volto a frisar que não tem como ver a direção de António Ferreira sem ser no estilo mais novelesco possível, pois sua trama é completamente poetizada, e entrega com satisfação o que se propõe, que é uma novela de duas horas para ser vista rapidamente e acabar, mas ele alonga demais o romance de Rosa Lobato Faria, "A Trança de Inês", trabalhando praticamente cada verso de forma que me senti lendo um daqueles livros obrigatórios do vestibular que nem com muito café conseguia passar da página 10 de tão enrolado que era cada estrofe. Ou seja, o diretor tentou romancear algo que funcionaria perfeitamente numa novela bem longa, com capítulos imensos para trabalhar cada personagem, mas que no cinema teria de ter encontrado uma dinâmica melhor para que o filme não ficasse enjoativo, pois na segunda cena se repetindo tudo novamente já entendemos que veríamos a mesma cena em 3 épocas diferente toda vez, o que mais cansa do que agrada.
O ar novelesco também dominou as expressões dos protagonistas nas suas diversas interpretações, e Diogo Amaral entregou três Pedros bem colocados, cada um de uma maneira, mas todos com olhares vagos demais, quase que filosofando para falar cada palavra sua, tendo leves destaques nos momentos de ira, mas nada que surpreendesse sem ser o tanto de maquiagem que necessitou para fazer cada época com cortes de cabelo e barba bem trabalhados. Joana de Verona entregou sua Inês quase como algo angelical nas três versões, que mesmo sendo a amante era vista pelo protagonista como quase uma deusa, e isso acabou ficando deveras enfadonho de ver. Quanto aos demais, tivemos alguns leves destaques positivos para Vera Kolodzig com sua Constança bem constante nos três atos, agradando claro pela dinâmica mais enlouquecida e coesa, e como destaque bem negativo temos João Lagarto com seu Afonso inexpressivo e quase estático em todas as cenas, sendo bem desagradável ver sua tentativa de atuar. Ainda tivemos muitos outros atores fazendo sempre três personagens iguais, e divertidamente sempre com as mesmas características e olhares, o que poderiam ter ousado um pouco mais.
Agora sem dúvida alguma o melhor do longa foi o gasto com a produção artística, pois trabalharam bem nas épocas antigas, criando castelos, usando figurinos encorpados cheios de detalhes, tendo uma comunidade ecológica estranha, mas bem envolvida de regras e símbolos, e até mesmo no momento presente foram trabalhados objetos e locações elaboradas para que os momentos do protagonista fossem destacados junto de sua amada, ou seja, uma equipe de arte que pegou todo o orçamento e quis usar sem pensar, brincando sempre muito com figurino, cabelo e maquiagem para traçar bem as diversas épocas dos protagonistas.
Enfim, é um filme que cansou muito conferir, mas que pode ser valorizado pelo elo artístico em si, porém é enfadonho demais pensar nele sem ser vendo uma novela arrastada que quem sequer estiver conferindo em casa irá terminar de assistir inteiro de uma vez, e sendo assim não tenho como recomendar ele de forma alguma. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda faltam muitos filmes para conferir nessa semana, então abraços e até logo mais.
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