A sinopse nos conta que uma famosa atriz iraniana recebe um vídeo perturbador de uma garota implorando por ajuda para escapar de sua família conservadora. Ela então pede seu amigo, o diretor Jafar Panahi, para descobrir se o vídeo é real ou uma manipulação. Juntos, eles seguem o caminho para a aldeia da menina nas remotas montanhas do norte, onde as tradições ancestrais continuam a ditar a vida local.
O diretor e roteirista Jafar Panahi ganhou o prêmio de Melhor Roteiro em Cannes pelo filme, mas diria que não temos algo tão original na concepção da história, mas sim na forma de desenvolvimento criativo para que seu mini-road-movie funcionasse para entregar sem ser forçado um documentário sobre a vida nas aldeias, e claro sobre como a mulher principalmente é vista nesses lugares, aonde o machismo e a religião predominam, e com muita simplicidade, ângulos envolventes parecendo que a câmera está viva conduzindo as opiniões para onde devemos olhar, ele acaba nos vertendo aos poucos com tudo o que desejava mostrar, e mesmo sem o filme ser forte, o resultado é completamente funcional.
O longa em si não tem personagens, mas acabamos conhecendo um pouco mais do diretor Jafar Panahi na frente da telona como mais do que um condutor de câmeras e da história, mas sim um motorista e amigo da atriz, que a leva para aquele meio para conhecer uma outra face de sua terra, aonde mais do que uma língua é falada, e também nos permeia não apenas com o olhar de sua câmera, mas sim seu olhar próprio para cada momento. A atriz Behnaz Jafari mostra como é bem conhecida mesmo nos lugares mais remotos por suas séries e filmes na TV do país, e soube dosar bem sua dramaticidade tanto nos momentos dentro do carro, quanto nas ruas conversando com o povo, mostrando claro seu vértice artístico dentro da personalidade que escolheu. Marziyeh Rezaei e Maedeh Erteghaei foram duas jovens bem colocadas na proposta para dar um certo realce no longa, mas não tiveram grande destaque como poderiam, funcionando para a primeira mais o ar de seu vídeo de celular, e claro sua cena de briga com a protagonista, mas certamente tivemos alguns aldeões mais interessantes nas dinâmicas de diálogo do que elas.
O conceito cênico nem é algo que temos muito o que falar, pois como já disse o filme é quase algo documental, então no passeio de carro do diretor (uma Pajero bem apropriada para rodar as estradas de montanha), vemos as estradas minúsculas em meio a precipícios nas montanhas, aonde a famosa regra da buzina funciona (assim como em muitos outros países), vemos casebres minúsculos em vilas e sub-vilas aonde mal tem iluminação, mas que praticamente ninguém dorme andando para lá e para cá, e claro vemos muito dos costumes do lugar, com pessoas sempre procurando lhe oferecer um chá e conversando como tradicionalmente vemos em cidadelas do interior, ou seja, muita semelhança, mas claro com vértices mais fortes impregnados na concepção total, ou seja, a arte nem foi muito ousada, pois não desejaram criar nada, e sim usar o local como cenografia própria, e assim sendo o resultado é simples também. Quanto da fotografia, temos boas passagens de tempo, com a iluminação natural funcionando, e usando de artifícios de celulares, faróis de carros e lâmpadas simples para dar tons, mas nada muito elaborado para que não saísse do contexto real que o filme desejava passar.
Enfim, temos um filme mais cultural do que algo ficcional que impressione, mas ao menos temos cenas bem colocadas que divertem e impressionam também, mostrando algo que até sabemos da existência, mas que somente confirmamos nos filmes. Acredito que poderiam ter feito algo mais ficcional realmente que impressionasse para dar as nuances que desejavam, pois aí o resultado chocaria mais do que a realidade, mas ainda assim é um bom filme para conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dois textos da Itinerância.
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