Alguns longas surgem em modelos tão teatrais que acabamos observando eles pensando como ficariam bem postos em um palco, as vezes até melhor do que nos cinemas, e um exemplar claro disso é "Um Homem Comum", que entrega algo até comum demais, sem muitos vértices e que acaba indo por um caminho de diálogos quase que simples demais entre um general e uma empregada, mas que não fluem tanto como poderia, e nem encontram tensões de impacto como deveria, ficando sempre na expectativa de alguma fagulha, algum acontecimento mais forte, e o resultado de quando isso ocorre é simplesmente o final do longa, ou seja, acabamos vendo algo comum demais, que ao virar incomum acaba sem graça demais, e assim mais cansa do que agrada.
A sinopse nos conta que alcunhado apenas de “O General”, um infame criminoso de guerra no conflito bélico no período 1991-2001 entre Sérvios e Croatas na ex-Iugoslávia, caçado sem tréguas, vive escondido graça a protetores. No novo esconderijo, recebe uma empregada, Tanja, 20, também com um passado misterioso, o que os aproxima. Ele tem a cabeça à prêmio e precisa da ajuda dela para fugir do esconderijo.
Diria que o diretor e roteirista Brad Silberling foi seguro demais na proposta de algo histórico, aonde um personagem fica contido dentro de sua bolha para tentar não ser capturado, e lhe arrumam alguém para que esses momentos sejam ao menos mais prazerosos, mas por apostar tanto na segurança de algo comum como o próprio título diz, de o general ser alguém comum com vontades também de um passeio, um baile, um cigarro, um joguinho, e por aí vai, que ele esqueceu de ousar e/ou causar algo no espectador comum também, pois ver algo que não vai a lugar algum, que fica contido demais, é como diria muitos, brochante, e deveras cansativo, e sendo assim, seu filme ficou muito em cima do muro, o que é ruim. Claro que a tentativa de uma paixão e/ou algo proibido entre os protagonistas pode até ser lembrado como algo do começo da carreira do diretor lá em 1998 com "Cidade dos Anjos", mas faltou aquela queima e emoção que tivemos lá, e que aqui talvez seria algo que certamente mudaria o clima, ou então que ele fosse para o rumo de guerra realmente, aonde o impacto causasse um pouco mais de tensão nas ações, ou qualquer outra coisa, mas que saísse da casinha, pois o que tivemos não tem como ser aceitado, ao menos no cinema.
Dentro das atuações, como falei no começo, a coesão teatral é ótima de ser vista, e claro que por ter um ótimo ator, Ben Kingsley conseguiu dar nuances interessantes e bem ditadas para com seu general, entregando e puxando para si todo o protagonismo e responsabilidade cênica, de modo que mesmo o filme tendo pouquíssimos personagens, se algum dia me perguntar sobre esse filme, irei lembrar apenas dele, de sua forma ranzinza e autoritária característica de militares, e com isso ao menos o longa se vale de sua presença. Quanto a Hera Hilmar, sua Tanja é doce, misteriosa e interessante da forma que foi colocada, mas poderia ao menos ter trabalhado seus diálogos de uma maneira mais sólida, ou ao menos se expressado melhor, pois ficou muito secundária, quase sendo engolida por Kingsley, de modo que se o ator fizesse um monólogo em cena, seria mais válido. Quanto aos demais, praticamente todos aparecem apenas rapidamente, buscando o general nos lugares, ou andando para lá e para cá a pé ou nos carros, de modo que não dá nem para dar um leve destaque para o que mais apareceu, no caso Peter Serafinowicz com seu Miro.
No conceito visual encontraram boas locações em Belgrado na Sérvia para mostrar bem o clima de pós-guerra, com prédios semi-abandonados, casas com muita poeira para mostrar passagem de tempo, e até mesmo uma certa escassez de alimentos, mas isso não foi o suficiente para termos algo que impressionasse, e dessa forma, o longa parece bem econômico, aliás com apenas 6 milhões diria que mais da metade foi em cachês e sobrou nada para o resto.
Enfim, é um filme bem básico mesmo, que tem um ou outro momento de impacto, mas que infelizmente não atinge nenhuma expectativa, deixando o público apenas indignado com um final que poderia ser completamente diferente, ou pelo menos que o miolo fosse mais desenvolvido para criarmos algum carisma para com os personagens, mas nem isso nos foi entregue, então diria que ele não é algo totalmente ruim, mas que não chega nem a ser mediano, e dessa forma não tenho como recomendar ele. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã já com os primeiros textos da Itinerância da Mostra Internacional de São Paulo, então abraços e até logo mais, pois teremos muitos textos por aqui nessa semana.
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