Após conferir "Utøya - 22 de Julho", o que mais vem na mente é o que faria caso o local aonde estivesse começasse a sofrer um atentado com tiros para todos os lados, e não tivesse muito para onde correr, pois essa era a condição dos jovens no acampamento de férias situado em uma ilha da Noruega, e a resposta que vem é a de chorar, nadar na água congelante ou sei lá, levar um tiro logo, pois não dá para pensar em ser como a protagonista e ficar vagando para todos os lados, apesar de que ela tinha um motivo: o de tentar achar a irmã. Digo que a grande sacada da trama foi colocar o espectador quase como um personagem imerso no momento inserindo a câmera correndo ao lado da protagonista, se jogando no chão, no barro, na água, tropeçando e tudo mais, de modo que parece até ser alguém filmando o movimento ao lado dela, mas a ideia certamente foi inserir e não a de filmar, e com isso, nos sentimos desesperados junto de tudo o que está acontecendo, e certamente numa sala de cinema com um som com muitos canais os tiros virão de ângulos inimagináveis que darão uma imersão maior ainda, ou seja, recomendo o longa para que seja visto numa sala bem ambientada com um som interessante, pois aí os mesmos 72 minutos que os jovens viveram de tiroteios no acampamento serão passados para você quase que na mesma intensidade e desespero, ou seja, podemos ver o filme sim como uma experiência, mas que ao final até nos é contado um pouco de tudo o que ocorreu em 2011, e infelizmente isso não está muito longe de acontecer novamente com o mundo extremista que andamos vivendo.
O longa nos conta que no pior dia da história norueguesa moderna, Kaja se diverte com sua irmã mais nova Emilie, doze minutos antes da primeira bomba chegar ao acampamento de verão na ilha Utøya. Foi o segundo ataque terrorista de Anders Behring Breivik, em menos de duas horas, e matou 69 pessoas. Kaja representa o pânico, medo e desespero dos 500 jovens enquanto busca sua irmã na floresta.
A direção que Erik Poppe, mais conhecido pelo longa "Mil Vezes Boa Noite", entrega é algo digno de alguém que sonha bastante, pois são raros os diretores que ousam trabalhar com algo quase que totalmente em plano-sequência, tendo o filme um grande ensaio para que os personagens tivessem suas dinâmicas desenvolvidas, e facilmente entregasse algo quase sem respiro também para os espectadores, de modo que é fácil notar o artifício de movimento de câmera para observar de onde vem os tiros, ou criar alguma curiosidade para que o ângulo voltasse para a protagonista e recomeçasse um novo plano-sequência bem ornado, ou seja, Poppe trabalhou a experiência de estar em um conflito quase que na totalidade, mostrando ao final nos letreiros que o atentado durou 72 minutos, e é praticamente o mesmo tempo que passamos presos junto com a jovem atriz, correndo de um lado para o outro desesperada, pensativa e aflita para tentar encontrar a irmã mais nova, e também tentar sobreviver no meio do tiroteio. E sendo assim, diria que o longa não tem um roteiro muito trabalhado, pois temos um acontecimento, uma ação desenvolvida, e personagens desordenados, mas a intensidade dramática é tão grande, e tão bem conduzida (chegando a ser até irritante a câmera correndo ao lado, dando um desespero para pedir que o cidadão fique estático!) que o resultado final impressiona e envolve demais.
Quanto das atuações, temos bons jovens dispostos a se entregar na correria, se desesperar com boa expressividade, e principalmente não estragar o andamento coeso do longa, pois qualquer mero detalhe poderia botar o projeto inteiro no chão, e dessa forma Andrea Berntzen conseguiu colocar sua Kaja perfeitamente no eixo entre ousadia e desespero, disposta a enfrentar tudo e todos para achar sua irmã, e com olhares de pânico, voz quase embargada de choro e muita sinceridade nos olhares mais duros frente a tudo o que está ocorrendo mostrou um talento perfeito para o futuro que terá se seguir como foi aqui. Dentre os demais, a maioria funciona como conexões para os diversos momentos da protagonista, e não atrapalham felizmente, pois isso poderia dar um tom ruim para o longa, e Elli Rhiannon Müller Osbourne apareceu bem rapidamente com Emilie arrogante e chata com a irmã, de modo que até por um leve momento torcemos pra ter morrido logo, mas se acontecesse isso não teríamos filme, temos também Aleksander Holmen com seu Magnus, meio deslocado que acaba sendo jogado inicialmente no filme, mas que conseguiu ter boas cenas de diálogos com a protagonista, sendo coeso e bem interessante também, agora os demais praticamente surgiram rapidamente e não temos muito o que falar, tirando claro a jovem ferida sem nome no longa, mas que Solveig Koløen Birkeland entregou com perfeição.
Algo que parecia um grandioso problema, de não mostrar o atirador maluco, é genial por outra parte, pois só ouvimos tiros, vemos pessoas mortas pelo chão, crianças e adolescentes desesperados em uma floresta e na água, e isso fez a equipe de arte brilhar por entregar muita coesão em forma de histeria, pois se o longa fosse mais proximal do atirador, teriam de apelar mais para efeitos especiais, e isso aumentaria o orçamento e até talvez não resultaria em algo bem interessante de ver, enquanto da forma entregue tudo ao redor passa a ser desesperador de sentir, e os barulhos vindos de sabe-se lá onde aumentam a agonia para que os personagens corressem, perdessem tênis pelo caminho, e se sujassem realmente na terra e na lama. A fotografia não tem muitos floreios, afinal no meio de uma floresta não dá para brincar muito, mas sempre com ares bem colocados, e tons bem escuros, mas sem ofuscar nada, o resultado agrada bastante.
Enfim, um longa bem interessante, que consegue prender bastante o espectador na cadeira, trabalhando com muita agonia e desespero a ideia de você estar no meio do conflito, e sendo assim o que ocorreu poderia ser em qualquer lugar, pois a trama não fica fechada nos motivos e diretivas que resultaram na história do 22/07/2011, mas sim em algo mais aberto de terroristas extremistas que podem fazer um atentado a qualquer momento em qualquer lugar, ou seja, um filme mais amplo. Diria que quem quiser saber mais sobre o atentado em si talvez seja necessário conferir outros longas (aliás estreou semana passada outro sobre o tema na Netflix, que não conferi, mas quem tiver visto e quiser comentar, o espaço está aberto), mas como o resultado aqui é tão bom, vale muito a recomendação para que confiram. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou para mais uma sessão, então abraços e até logo mais.
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