Alguns diretores conseguem achar doçura em temas fortes, que trabalhados com muita simplicidade acabam envolvendo o público em histórias que não conseguimos nem pensar na possibilidade de nos emocionar, mas que acabam encantando pela graciosidade dos personagens, e claro por consequência, dos atores que pegam o papel. E aqui em "Yomeddine - Em Busca De Um Lar", tivemos algo tocante pela ótima forma de condução de um road-movie singelo, sem muitos enfeites, mas que encontrou dois ótimos atores/personagens encontrando grandes momentos em cada ato, seja através de suas atitudes, ou dos demais que cruzam seus caminhos, de tal maneira que o diretor não força nada, e isso é o grande acerto do longa, pois como ouvimos já no final uma frase até dura e dolorosa sobre a vida que o protagonista viveu ser o que tinha de melhor para ele, mas que não deixa de ser uma realidade, pois no mundo misturado, infelizmente seria julgado e acabaria mal-amado por todo o preconceito existente na face humana. Sendo assim, recomendo o longa como uma caminhada leve, que possui uma essência impactante por trás de tudo, mas que mais emociona do que causa.
A sinopse nos conta que após a morte de sua esposa, Beshay decide deixar a comunidade isolada onde foi abandonado quando criança. Junto com Obama, seu jovem amigo órfão, e seu amado jumento, ele embarca em uma jornada pelo Egito até sua cidade natal para descobrir por que seu pai nunca cumpriu a promessa de voltar. Beshay não é um homem como os outros homens, ele é um leproso, agora curado, cujas cicatrizes o levaram a viver longe do mundo. Juntos, ele e Obama enfrentarão os problemas do mundo unidos pela amizade e compaixão, em sua busca por uma família, um lugar para pertencer e um pouco de humanidade.
Em sua estreia na direção, A. B. Shawky soube fazer do simples o efetivo, pois a trama aqui poderia ser elaboradíssima, ter tons duros e fortes, criar perspectivas morais e emocionais, mas o diretor não quis nada disso, ele pegou dois bons atores também estreantes, com um carisma moldado e incrível no olhar, dispostos a fazer uma viagem bem trabalhada e envolvente, e criou seus bons momentos em cima disso, colocando atos fortes para trabalhar como religião, morte, fé, preconceito e tudo mais que certamente seria facultativo de explicações, e apertou os eixos de sua câmera para expressar as emoções dos personagens com cada ato, o que resultou em algo além de uma amizade bem mostrada nas telonas, mas sim um caminho sendo percorrido de forma agradabilíssima, e que conta a história sozinha, sem precisar dizer muita coisa, e nem enfeitar o que já era bonito de se ver, trabalhando com muita simplicidade e doçura, o que seria raro de ver em um longa dessa temática, ou seja, um acerto na condução para que a temática saísse sim do eixo, mas ficasse encontrada na mente do público por um tempo até maior do que o que ficamos na sala do cinema.
Nem diria que Rady Gamal e Ahmed Abdelhafiz interpretaram seus Beshay e Obama, pois o que eles nos entregaram foi algo além do que a expressão artística que um ator costumeiramente faz, e o que vemos na telona por trás de seus olhares é algo como uma vivência plena do que estão nos contando, de modo que acreditamos neles, emocionamos com eles, e torcemos para que consigam seus objetivos, ou seja, foram completamente coerentes, e pelas mãos e instruções de um bom diretor, conseguiram cativar o público com muita simplicidade nas expressões de tal maneira que certamente se fizerem muitos filmes ainda em suas vidas da mesma forma entregue, irão agradar sempre. Quanto aos demais, vale o destaque maior para os amigos de debaixo da ponte, que infelizmente não possuem nomes na ficha técnica do longa, e como não sei ler as letrinhas desenhadas em árabe nos créditos irei ficar devendo, mas foram sinceros também nas expressividades e chamaram atenção por mostrar que a felicidade está nas pequenas coisas, e que mesmo com suas deficiências estão sempre dispostos a se envolver e ajudar alguém que precisa também.
Por se tratar de um road-movie, vemos paisagens diferenciadas por meio de cidades e locações simples, mas bem fortes, que muitos nem estamos acostumados a ver em grandes blockbusters que se passam pelo Egito, e entregando muita coerência na colônia para leprosos, juntamente com imagens fortes no lixão, depois passando pelas margens do Nilo, e claro indo parar em delegacias, hospitais da cidadela, até chegar embaixo da ponte com os demais deficientes, a arte visual do longa consegue ir completamente coerente na proposta desde o começo até o fim, trabalhando os elos com muita simplicidade, e agradando por não vir com nada chamativo que atrapalhasse, de modo que desde o jumento Harby, até a motinha com muitos atores em cima vão sendo conduções de trajeto, mas também elementos visuais incríveis de serem moldados na análise, e assim o acerto visual funcionou bem. A fotografia trabalhou bem os tons de modo que a aridez do deserto tivesse um destaque bem importante e iluminasse tudo com uma pegada bem forte, de modo que mesmo nos momentos mais tensos aonde poderiam ter escurecido a imagem, a força do sol vem e entrega algo mais profundo ainda, e assim o resultado dramático não ficou tão forte, mas sim doce e gostoso.
Enfim, diria que o longa até possui alguns momentos desnecessários, mas acabamos embarcando na viagem dos protagonistas com um envolvimento tão grande que acabamos deixando eles de lado, e com muita doçura na forma de condução o resultado agrada bastante, emociona e funciona de uma maneira bem bela para ser refletido por nós que somos sem deficiência alguma e reclamamos de tudo, e assim sendo recomendo muito o longa para todos se emocionarem e pensarem também. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.
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