Que atire a primeira pedra quem nunca teve o sonho de voltar no passado para corrigir alguma cagada que fez, e quem sabe se tornar algo melhor do que é hoje, mas e quando você acha que já está bem melhor e é obrigado a voltar para alguma época que deseja esquecer que passou? Pois bem, esse é o grande lance do filme "Eu Sou Mais Eu", aonde até temos uma dinâmica interessante por entregar o estilo tradicional dos filmes jovens que víamos na saudosa Sessão da Tarde original, mas que peca um pouco na força que poderia ter, ao deixar que o longa recaísse para o estilo de uma "Malhação" mostrando briguinhas de colégio. Não digo que a trama é ruim, muito pelo contrário, ela tem uma boa função, atuações bem desenvolvidas, e boas situações que poderiam até ser mais divertidas caso quisessem, ou quiçá jogar de vez a bola para a relação da amizade, que foi um grandioso desfecho, mas no miolo o resultado enrola tanto com alguns momentos desnecessários, que por pouco o diretor não se perdeu em achar um caminho que funcionasse e divertisse. Ou seja, temos bons atos, mas nem tudo chega a ser as mil maravilhas para salvar o longa de falhar, de modo que acabamos nos divertindo por lembrar que 2004 já passou faz tanto tempo, mas que se pararmos para pensar, nossa vida mudou tanto nesse tempo que talvez uma ajeitada por lá poderia até melhorar o dia de hoje. Diria que é um filme bem feito, mas que passa bem longe de ser uma obra digna de ser lembrada.
A sinopse nos conta que Camila Mendes é uma popstar arrogante, que busca o sucesso a todo custo. Prestes a lançar uma nova música, ela é surpreendida em casa pela visita de sua fã número 1, que insiste em tirar uma selfie com ela. O que Camila não esperava era que tal situação a levasse de volta à adolescência, quando sofria bullying de praticamente todos no colégio. Seu único amigo é Cabeça, que tenta ajudá-la a encontrar seu verdadeiro eu, já que só assim conseguirá voltar à sua realidade.
O interessante é vermos que o diretor Pedro Amorim quis entregar algo mais jovial, meio que adolescente mesmo na trama, e deixou que tudo fluísse para esse lado, pois mesmo a trama se passando praticamente toda em um colégio, e no período em que a protagonista mais sofreu bullying, o longa poderia ter trabalhado os rumos para algo mais formatado ao invés do que foi entregue, porém sairia desse estilo clássico, e talvez viraria algo mais dramatizado. Não digo que foi errado essa escolha, apenas não pareceu ser o estilo que o diretor costuma ter, que vimos em longas como "Divórcio" e "Superpai", mas como bem sabemos roteiros caem nas mãos dos diretores, e esses procuram se adequar, e foi o que fez aqui, requebrando um pouco para não deixar a trama cair no gracejo, mas também tentando trabalhar vértices mais condicionados para que o filme ficasse divertido, principalmente ao mostrar algumas da "super-invenções" da época. Diria que se o longa talvez tivesse brincado mais com esses elementos, com as sacadas entre passado e futuro, o longa teria uma dinâmica bem mais coesa do que a entregue e certamente seria incrível, mas como não tem jeito de mudar o que já aconteceu, o resultado foi ao menos satisfatório e não cansou como outros longas do estilo costumam cansar.
Sobre as interpretações, felizmente Kéfera Buchmann já começa a tomar um molde bem mais simpático nas suas atuações, e trabalhando bem trejeitos e traquejos acaba saindo do usual com sua Camila em cena, de tal forma que nos diverte bastante, e juntamente com a equipe artística conseguiu entregar duas pessoas completamente diferentes (aliás, faltou algo no miolo para mostrar como a bullynada virou popstar, pois um desastre de apresentação não explodiria ninguém para o estrelato!), que conseguiram extrair ao menos duas boas personalidades para a jovem atriz mostrar bastante serviço e agradar. Sabemos que João Côrtes costuma sempre entregar personagens atrapalhados, cheios de traquejos visuais, e até acertar pelo estilo que faz, mas aqui ele abusou um pouco demais da loucura, fazendo coisas exageradas demais e até algumas bizarrices com seu Cabeça, mas ao menos soou divertido e foi bem colocado no personagem, talvez pudesse ficar mais espantado com alguns outros momentos para aí sim ficar completo suas cenas. Estrela Straus apareceu praticamente 4 vezes como a fã bruxa que joga a personagem de volta para o passado, e cheia de cores faltou um pouco com expressividade para chamar mais a atenção e encaixar melhor a ideia toda. Assim como aconteceu com a protagonista, Giovanna Lancelotti conseguiu entregar bem menos anos do que possuem, caindo muito bem como adolescentes na produção, e além disso, a atriz soube dosar bem sua Drica nos três atos para entregar algo quase de uma "vilã", e mostrar algo que realmente vemos nesse estilo de garotas em filmes adolescentes, ou seja, foi um bom acerto expressivo que agradou pela forma que fez, mas como seu papel não pedia que fosse muito além, ela também não foi. Quanto aos demais, a maioria foi encaixe, desde o "par romântico" popular, passando pelo avô malucão bem interpretado por Arthur Kohl, e até a mãe bem trabalhada por Flávia Garrafa, mas nenhum tendo nada que destacasse para chamar a atenção.
Dentro do conceito artístico, a equipe de arte brincou com o começo dos anos 2000, entregando alguns objetos icônicos como mixadores de música, tocadores portáteis de CD, máquinas clássicas, computadores imensos e até as tradicionais visitas à videolocadoras com garotos catalogando os DVDs, e além disso ousou brincar com os figurinos bizarros que alguns "nerds" usavam na época, ou seja, até que foi feita uma boa pesquisa para entregar algo bem trabalhado, mas que foi usado tão pouco que ficamos triste de não ver mais elementos. A fotografia foi básica, tendo apenas a cena no ginásio aonde a bruxa some como algo mais elaborado de tons e tensões, mas isso não é ruim, pois conseguiram segurar bem de forma a criar duas épocas bem diferentes.
Enfim, volto ao começo do texto dizendo que a trama tinha vértices bem coesos para serem trabalhados (que pelo trailer transpareciam ser até mais engraçados), mas que foram pelo lado básico e acabaram entregando um longa até bacana de acompanhar, mas que não quiseram ousar nem trabalhar mais tudo o que poderiam, e com isso o resultado passa bem longe de ser algo que iremos lembrar, e ficar indicando para todos, mas que nem chega perto de ser algo ruim para esquecermos, e sendo assim, aqueles fãs da protagonista que forem conferir e levar seus pais ou amigos, certamente terão ao menos um filme bacana de ser conferido, e sendo assim não irão rasgar o ingresso pago. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica, mas volto em breve com mais textos de filmes online também, então abraços e até logo mais.
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