Tem filmes que marcam pela história, outros pelas atuações, outros pela grandiosa produção, mas quando um filme impacta pelo teor forte que acaba entregando, acabamos saindo da sessão quase com um peso na mente por tudo o que nos foi entregue, e é exatamente essa a sensação que sentimos quando acaba o longa "Infiltrado na Klan" mostrando não apenas a história do policial que conseguiu se infiltrar em uma das organizações, mas também muitas partes documentais ao final duríssimas de ver, e que nos bate uma tristeza imensa de saber que mesmo o filme se passando lá nos anos 70, atualmente ainda vemos muito preconceito e pessoas destruidoras por achar que sua verdade é a certa. Ou seja, com um longa bem trabalhado, cheio de virtudes impressionantes pelo estilo de direção mais crua, aonde vemos discursos de ódio sobrepondo níveis incríveis de força, que sabemos até da existência (não no nível mostrado!), e que acabam sendo duros até de ouvir, o resultado da trama impressiona e entrega até mais do que qualquer filme do gênero, não sendo algo simples de vermos atuação ou qualquer outra coisa da arte cinematográfica, mas sim sentir a presença marcante na alma do diretor para ter capacidade de entregar algo assim, e sendo assim, o resultado do filme só pode ser sentido com muito impacto e dureza.
O longa nos mostra que é o início dos anos 1970, uma época de grandes convulsões sociais à medida que a luta pelos direitos civis continua. Ron Stallworth torna-se o primeiro detetive afro-americano no Departamento de Polícia de Colorado Springs, mas sua chegada é recebida com ceticismo e hostilidade aberta por parte do departamento. Destemido, Stallworth resolve fazer um nome para si mesmo e uma diferença em sua comunidade. Ele bravamente parte em uma missão perigosa: infiltrar e expor a Ku Klux Klan.
Posicionando-se como um extremista racista, Stallworth entra em contato com o grupo e logo se vê convidado para seu círculo íntimo. Ele até cultiva um relacionamento com o Grande Feiticeiro da Klan, David Duke (Topher Grace), que elogia o compromisso de Ron com o avanço da América Branca. Com a investigação secreta se tornando cada vez mais complexa, o colega de Stallworth, Flip Zimmerman, posa como Ron em encontros cara-a-cara com membros do grupo de ódio, ganhando conhecimento de um plano mortal. Juntos, Stallworth e Zimmerman se unem para derrotar a organização cujo objetivo real é desinfetar sua retórica violenta para atrair o público.
Se antes pensava, o que Spike Lee com toda sua estranheza fez para que tanto se falasse de seu filme, de forma a mostrar algo impactante no formato? E a resposta vem bem rápido, logo na abertura com um discurso de ódio tão forte que você pensa, será que o longa vai maneirar depois, e a resposta vem com muita facilidade, pois na sequência dramática, já vamos vendo o jovem policial sofrendo ao ser colocado em um arquivo, aonde os seus "companheiros" de profissão só vão escrachando mais e mais, ou seja, Lee não ameniza, só vai pontuando cada vez mais o discurso que certamente ouviu muito em sua vida, e que ao final ainda conclui com a volta de grandiosos ataques por parte do governo atual do país que deu voz aos malucos do estilo que viviam nessa época e apenas andavam mais escondidos. Ou seja, o diretor soube trabalhar a parte ficcional de maneira bem coesa, cheia de bons vértices, mas não entregou algo grandioso nessa parte, pois o filme até cansa um pouco em alguns momentos, porém trabalhou tão bem a ideia, misturando o documental com o ficcional, segurando a ousadia na medida certa para que o ódio predominasse, e fosse claro combatido dentro da dramaticidade da trama, que o resultado soa incrível de ser acompanhado, e choca como deveria e poderia, não tendo como ser diferente do que foi entregue.
O longa em si possui um elenco tão afiado e bem encaixado, que praticamente teria de falar de todos para não deixar ninguém de lado, mas como bem sabemos o texto ficaria longo demais, então vou priorizar os protagonistas, mesmo que esses tenham apenas sido bem colocados dentro de suas posições. E claro tenho de começar pelo filho do grande Denzel, John David Washington, que colocou seu Ron de uma maneira tão icônica e cheia de personalidade que acabamos criando um carisma com seu personagem de modo a torcermos para que destruísse a organização em um nível monumental, pois sendo jovem e simpático, o ator soube criar dinâmicas bem encaixadas e trabalhar seus trejeitos com muita simplicidade e boa desenvoltura, ou seja, foi perfeito. Adam Driver também mostrou um estilo completamente diferente do que já vimos em outras atuações suas, de modo que seu Flip nem possui uma grande eloquência visual, mas acaba entrando de cabeça em situações, trabalhando olhares e trejeitos, de modo que acabamos gostando do personagem, e ele acaba superando bem o estilo sem ficar muito preso ao modo comum. Jasper Pääkkönen entregou um Félix medonho, cheio de trejeitos fortes, com uma personalidade daquelas que a pessoa mais corajosa encararia qualquer movimento de dedo uma ameaça para sair correndo da presença do personagem, e isso foi um grande acerto por parte do ator. Paul Walter House foi muito bem colocado com seu Ivanhoe, parecendo ter gravado o longa inteiro bêbado para dar uma personalidade tão bizarra, mas agradou bastante. Ryan Eggold também entregou seu Walter de maneira simples, porém efetiva para que como chefe da divisão da organização chamasse a responsabilidade em alguns momentos bem colocados. Topher Grace entregou seu David Duke com grandioso primor, e quando vemos ao final as cenas do verdadeiro Duke, vemos que o ator foi preciso e muito formatado para não errar, o que chama bastante atenção, e mostra seu estudo. Quanto das mulheres, tivemos dois pontos bem extremos, primeiro com Laura Harrier com sua Patrice, uma militante forte pelo black power, que mesmo sendo forte, tem um carisma bem grande e chama a atenção em suas cenas, e a por outro lado tivemos a maluca e inconsequente Connie, brilhantemente bem interpretada por Ashlie Atkinson, que com atitudes e olhares bem precisos chega a ser assustadora.
No conceito artístico, a equipe foi bem preparada ao criar uma época cheia de força nos EUA, aonde praticamente ocorreu grandes guerras de segregação racial em cidades mais interioranas, mas também foram simples demais em locações, não criando nenhum vértice expressivo demais para simbolizar os momentos mais tensos que acabaram ocorrendo realmente, deixando se levar pelos telefonemas na delegacia bem montada, nos encontros numa casa cheia de imponência armamentista de caçadas e seus troféus de caça, e também por mostrar algumas reuniões de grêmios e nomeações em igrejas, ou seja, trabalharam mostrando um pouco de cada coisa, sem ousar muito, nem pecar pela falta também. A fotografia não quis errar, e usou um tom mais amarelado para manter a época, e dando leves tons mais escuros em algumas cenas para criar certos ares de tensão, mas sem forçar para lado algum.
Enfim, temos um filme tenso pela proposta, cheio de atitudes, que encontra as palavras certas para mostrar o discurso de ódio dentro da política, que faz com que certos atos acabem ficando grandiosos e bem moldados. Só diria que o filme não é perfeito por faltar um pouco com a forma ficcional, deixando a trama mais presa em um cerne mais verossímil e quase que documental dos atos, pois se trabalhassem mais com um ar fantasioso, violento e até duro com o que sabemos como foi a KKK, talvez o longa fluísse de uma forma mais dinâmica, emocionasse mais, mas talvez chocaria menos, e assim não atingiria o objetivo do diretor. É apenas uma questão de gosto, mas ainda assim é um filmaço que recomendo demais para todos, pois o mundo anda meio bagunçado novamente com esses atos voltando a tomar forma, e fica assim sendo a dica. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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