De certa forma já acostumamos que alguns livros necessitam ser feitos em mais do que um único filme, ou até mesmo virar uma série, pois possuem muitos personagens, diversos motes para serem explicados, relações interpessoais, e tudo mais que se entregue em um único longa acaba deixando o público confuso, não bota nada em jogo de forma decente, e acaba sendo levado a baixo pelas altas críticas negativas, ou seja, gastam horrores do orçamento em algo que acaba perdido. E comecei o texto de "Máquinas Mortais" dessa forma exatamente por ele ser um exemplar claro dessa atitude, pois é um longa com uma história bem marcante, possui uma proposta ousada e bem coesa de ser vista, mas possui muitas amarrações que foram jogadas de lado, personagens que surgem do nada sem muitas explicações, e temos de tentar entender quem são, ou o porquê de estarem ali, além claro de tudo ser num nível de ação gigantesco (o que não é ruim, mas desde que não tivesse tanta gente importante no miolo). E sendo assim, tivemos um filme bem dinâmico, com uma produção gigantesca, efeitos de grande porte, mas que ao final da sessão ficamos nos perguntando: "O que foi que assistimos mesmo? O filme era sobre o que?", e certamente isso não é algo bom de sair falando após algo desse porte, ou seja, faltou Peter Jackson que é o rei da divisão de longas (fez um livrinho minúsculo como "O Hobbit" virar três longas) chegar no diretor e falar: "vamos lançar em duas partes, de um jeito de gravar mais coisas!", e aí sim o resultado seria bem imponente de ver na telona, mas da forma que resultou, ficou algo bem mais ou menos.
O longa nos situa anos depois da "Guerra dos Sessenta Minutos". A Terra está destruída e para sobreviver as cidades se movem em rodas gigantes, conhecidas como Cidades Tração, e lutam com outras para conseguir mais recursos naturais. Quando Londres se envolve em um ataque, Tom é lançado para fora da cidade junto com uma fora-da-lei e os dois juntos precisam lutar para sobreviver e ainda enfrentar uma ameaça que coloca a vida no planeta em risco.
Talvez um problema que ocorreu foi o de Christian Rivers fazer sua estreia na direção de longas logo em uma produção gigantesca como essa, pois ele que já ganhou um Oscar pelos efeitos especiais de "King Kong" pareceu desesperado e ansioso demais com a trama, acelerando tudo (mas como disse tinha coisa demais para mostrar, e certamente a aceleração é devida à isso), mas diria que o problema dele nem foi tanto esse desespero, pois ele poderia até ter uma trama gigantesca, mas poderia ter optado por desenvolver menos personagens e a trama se auto enxugar, deixando que tudo ocorresse somente em cima dos protagonistas, mas isso seria algo para um diretor mais experiente, o que não era o caso aqui. Em síntese, o trabalho de Rivers não chega a ser ruim, pois como sabe trabalhar bem com efeitos, ele acabou entregando uma obra cheia de técnica e muita movimentação, mas que não consegue segurar o tino completo que a trama pediria, e assim sendo os defeitos acabam sendo realçados, como por exemplo os personagens sem muita química, alguns sem desenvolvimento, mas que são importantes para os atos, e assim o resultado acaba não ficando ruim, mas estranho de modo geral, parecendo que o livro de Philip Reeve foi mal adaptado para o cinema.
Sobre as interpretações, não lembro muito de Hera Hilmar em "Anna Karenina", nem em outros longas, mas posso dizer que aqui, como a protagonista Hester Shaw, ela foi bem colocada, fez boas caras e bocas, e conseguiu chamar a atenção momentaneamente, trabalhando os olhares e impondo seus diálogos, só diria que faltou um pouco mais de química dela com os demais personagens, parecendo estar solta demais na produção. Robert Sheehan foi singelo e bem determinado com seu Tom, e conseguiu entregar um personagem bem coeso e que até dá para torcer pelos seus motes, mas poderia ter entregue uma vivência cênica maior para não sobrar no longa. Hugo Weaving é o mais conhecido do público, e fazendo o vilão Thaddeus Valentine conseguiu surpreender pela imposição junto aos demais, entregando boas cenas, mas sempre oscilando demais acabou que não nos conectamos à ele, nem ficamos bravos com suas maldades (se é que tem mais que uma, que é querer o poder destruindo os demais). Chega a ser engraçado a forma que Jihae e sua personagem Anna Fang foi inserida na produção, pois usando um sobretudo vermelho e com um avião bem vermelho, acaba destoando tanto dos demais personagens e cenários que fica parecendo ser algum tipo de protagonista na trama (talvez do livro!), mas embora tenha cenas fortes de luta e tudo mais, ela acaba sempre em segundo plano, ou seja, estranha de ver atuando. Quanto aos demais, tivemos tentativas fortes com outros aviadores de aparecer, também tivemos leves destaques com um dos coletores de Londres, interpretado por Ronan Raftery, e até Leila George teve alguns grandes atos como filha do vilão, mas todos aparecem tão pouco que nem dá para relevar como destaques.
Com uma produção grandiosa e cheia de ambientes visuais, certamente grande parte computacional, tivemos Londres com algo muito imponente, cheia de detalhes, mostrando lugares bem conhecidos, mas agora moldados para caber dentro de um super carrão destruidor, tivemos as cidades menores, em carros precários sujos e estranhos parecendo até insetos perto da monstruosa máquina que é Londres, mas além disso tivemos grandes sacadas dentro das máquinas, como ocorreu na cena em que a Londres come a cidade menor, mostrando ótimos efeitos (e sendo a única cena que o 3D realmente funciona!) com tudo sendo picado e destruído para virar lenha para a máquina, e as pessoas sendo incorporadas na cidade para trabalharem. A produção também entregou boas cenas externas mostrando uma cenografia do planeta arrasado após a super guerra quântica, e ao chegar do outro lado do muro, mostrou algo tão bonito que valeria um desenvolvimento maior por ali, mas aí acaba o filme, então valorizaram muito a correria, e faltou um pouco mais de tempo para desenvolver tudo o que poderia. A fotografia trabalhou tons fortes e escuros, com muito marrom para determinar a sujeira do local, mas ousando em efeitos de luz para as cenas de tiros, e ainda estou me perguntando o motivo do vermelhão da japonesa, mas isso só o diretor poderia falar o motivo! Quanto do 3D, foi completamente desnecessário, funcionando apenas na cena da cidade sendo devorada e nada mais.
Enfim, é um filme que possui uma proposta bem ousada, que certamente caberia no lugar que "Divergente" e "Jogos Vorazes" deixou aberto, mas que foi mal desenvolvido num projeto corrido, que resultou em algo mais confuso do que efetivo, que até vai entreter quem for conferir com boas cenas de ação, mas como falei no começo, sairá da sessão se perguntando o que realmente viu. E sendo assim, recomendo ele com tantas ressalvas, que nem sei se recomendo realmente, então quem gostar desse estilo apenas pela ação vá, mas se prepare para algo bem confuso. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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