Sei que muitos que me leem são novos, então alguns não devem lembrar de um programa que tinha na Globo nos anos 90 chamado "Você Decide?", aonde mostravam uma história, e faziam dois finais, aonde a maioria decidia qual final era exibido... pois bem, passamos quase 30 anos da estreia do programa, e eis que surge sua versão moderna, ou melhor, quase aparente de um jogo de RPG só que mais dinâmico e inteiramente filmado com diversas opções de escolha, levando o público para diferentes finais em "Black Mirror - Bandersnatch", que praticamente é um teste (ou melhor um jogo) para ver a aceitação e como pode talvez investir nessa linha mais para frente, sendo visto atualmente como um jogo com atores reais interpretando as diversas possibilidades, e assim como no "longa" nos é mostrado que o protagonista acaba entrando num buraco com as tantas possibilidades de programação para que seu jogo tenha um final diferente cada vez, aqui o roteirista e o diretor tiveram certamente muito trabalho para filmar todas as possibilidades, encaixar elas na medida para que não ficasse um filme cheio de soquinhos (apesar de ser possível de notar as emendas), e entregar para o público em torno de 6 a 7 finais (consegui fazer 7, incluindo o mais rápido que acaba o longa com menos de 40 minutos!! Mas segundo o diretor o longa possui mais de 10 - e eu não voltarei para tentar outros). Ou seja, chega a ser até decepcionante falar dele como um filme, mas vou tentar expressar um pouco sobre a experiência e sobre alguns momentos abaixo.
A sinopse em si é bem simples nos mostrando que em 1984, um jovem programador começa a adaptar um romance fantástico para videogame e põe em questão a própria realidade. Uma história alucinante com múltiplos finais.
Diria que a tentativa, ou melhor, o sucesso da proposta feita pelo diretor David Slade e o roteirista Charlie Brooker é o fato do povo ser tão reclamão (me incluo nesses) ao ponto de falar como deveria acontecer tal coisa e não a que ocorre no filme, ir por ali, ao invés de ir lá, e por aí vai... e aqui com as várias possibilidades e o controle nas mãos do público, cada um vai ter seu resultado (agradável ou não da forma que imaginava acontecer) e talvez poderá parar de reclamar do final que chegará, mas como aqui é praticamente um teste, e quase todos os finais são muito semelhantes, tendo algumas variações, talvez em um futuro próximo quando adaptarem uma aventura maior, ou quem sabe um suspense policial, ou ainda talvez uma comédia romântica cheia de possibilidades de encontros, o longa seja mais funcional, pois aqui trabalhar com programação, matar os pais, e outros detalhes não muito usuais do público em massa acaba resultando em algo não muito interessante. Ou seja, diria que a ideia até é válida para quem quiser brincar na TV com o controle remoto, escolhendo múltiplas possibilidades, tentando chegar a todos os finais possíveis e só, pois como filme (que no caso é a minha análise) o resultado é básico e deprimente pela falta de algo a mais.
Sobre as atuações, diria que fui muito surpreendido, e não é pelo protagonista! Pois sempre falei mal e odiava quase tudo o que Will Poulter fazia com seus personagens, e aqui seu Colin é muito bem trabalhado, possui uma estética forte e coesa, e em todos os momentos que se entregou para os diversos finais, ele fez muito bem, sendo dinâmico (com sua lentidão casual) e trabalhando olhares de forma simples e efetiva, ou seja, irei repensar minha crítica em cima dele nos próximos longas, pois melhorou e muito. O protagonista Fionn Whitehead até conseguiu nos entregar um Stefan interessante, com boas interações, e principalmente, com muitos conflitos em sua mente para tentarmos desvendar, de modo que acabamos nos condicionando e entrando na sua onda, ao mesmo tempo que fazemos ele entrar na nossa ideia, mas aí é que entra o jogo, quem é manipulável, ele ou nós, e o jovem soube dominar bem essa técnica com olhares e bons traquejos nos diálogos, agradando mais do que atrapalhando o resultado. O pai e a médica, interpretados por Carig Parkinson e Alice Lowe poderiam ter feito muito mais pela trama, mas soaram apáticos demais, mesmo nos momentos de maior chamariz para seus personagens, e isso claro para não ter tantos desenvolvimentos, mas poderiam ter agradado bem mais. Quanto aos demais, só vale um leve destaque para Asim Chaudhry com seu Mohan, por ser o dono da companhia de jogos, e ter alguns momentos marcantes em alguns finais, mas nada que seja surpreendente para pararmos e analisarmos seus atos.
Sem dúvida alguma, o grande feito do longa está na parte artística, pois conseguiram retratar muito bem os anos 80, com videogames clássicos programáveis em linguagens cheias de códigos de sim e não, com números pra todo lado, ambientaram as drogas, discos, roupas e tudo mais para que o longa ficasse interessante, e brincasse realmente com o público, de modo que o acerto é bacana de ver nesse sentido para imergirmos na produção e voltarmos no tempo, ou seja, funciona de modo agradável.
Enfim, posso dar duas notas para o longa, como entretenimento jogável, e uma aposta interessante para futuras produções do estilo, daria um 7 ou 8 pois ainda precisa ser melhorado a cadência, e principalmente as opções darem finais bem diferentes entre si, e não apenas poucas mudanças, mas como filme realmente de uma produção que valha a pena parar para ser assistida, daria no máximo um 3 ou 4, mais pelas boas atuações e pela produção artística, mas o roteiro é extremamente básico, e falta um cerne mais elaborado para seguirmos realmente uma história, ou seja, como média dá para ficar no 5 a 6, e essa será minha nota. Então se você quer perder um tempo tentando todos os finais, jogando todas as possibilidades da vida do protagonista, vá fundo e brinque com a proposta, mas se quer ver um filme realmente, passe longe, pois não será aqui que você irá conseguir isso. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas logo mais volto já com as estreias do cinema dessa semana, então abraços e até logo mais.
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