Costumo dizer que o maior problema de um diretor é definir como trabalhar um roteiro para que ele se encaixe dentro de algum estilo próprio, ou pelo menos se adeque próximo a algo para poder se dizer uma revolução do estilo, e quando ele não consegue isso, o resultado acaba soando mais estranho do que interessante de acompanhar. Diria que "Cam" é um desses filmes que ficaram bem no meio do caminho dos estilos, e a proposta até vai para um rumo bem colocado, mas não incita muito o que acaba sendo/acontecendo do outro lado do site, e esse talvez seja um problema até maior do que a definição como falei, pois ficamos interessados pelo desespero da garota em buscar respostas de como sua conta foi duplicada, e tudo mais, mas acaba não aprofundando como poderia, e ao final apenas temos um encerramento não muito propício, ou seja, o longa até pode trabalhar bem com a funcionalidade de mostrar que ninguém é insubstituível, que a efemeridade pode ser subjetiva, e tudo mais, mas quando entra no acaso de algo do estilo do terror, como era a proposta da trama, não vemos um bom final para tudo.
A trama nos conta que Alice é uma ambiciosa jovem mulher que trabalha com pornografia de webcam. Quando uma misteriosa mulher idêntica a ela toma seu canal, ela se vê perdendo o controle sobre os limites que estabeleceu em relação a sua identidade online e os homens na sua vida.
Em seu primeiro longa, o diretor Daniel Goldhaber mostrou que já vivenciou muito a vida de garotas que fazem vídeos eróticos na internet, e que com essa boa pesquisa conseguiu trabalhar bem a sintonia das cenas com a protagonista e com as demais que aparecem na trama, e as coloco como demais realmente, pois elas têm pouquíssima atividade senão ajudar fazendo outros vídeos, ou em raros momentos alguma conversa com a protagonista. Mas somente essa pesquisa não foi suficiente para que ele moldasse a trama de uma forma condizente, a não ser que fosse mostrar algum tipo de documentário sobre a vida de garotas desses sites, e não algum suspense sobre roubo de personalidades/vidas como basicamente aparenta ser a ideia principal do longa, ou seja, faltou acreditar no que estavam fazendo para que o público também acreditasse no que é mostrado, e sendo assim, infelizmente a falha é bem grande, mesmo que tendo um leve mote interessante para se pensar na possibilidade das pessoas nem terem personalidade suficiente para existirem hoje, ou seja, faltou tudo.
O trabalho da protagonista Madeline Brewer foi até bem coeso com sua Alice/Lolla, e entregou uma personificação bem interessante, entregou boas expressões para os mais diversos momentos, e foi razoável na caça desesperada pelo seu clone, mas acredito que nem ela acreditou e/ou entendeu o que realmente era o ser do outro lado da câmera, e isso foi algo bem falho de ver, pois ela acabou entregando dúvida para nós não acreditarmos nem no que ela via, e assim, o longa ficou perdido também, talvez uma descrença mais leve, ou mostrar mais personalidade mostraria algo a mais. Quanto aos demais, nem vale gastar o teclado digitando, pois foram expressões jogadas para nenhuma serventia, tendo um ou outro uma tentativa de se mostrar para a câmera.
A concepção da cenografia do longa foi bem trabalhada para mostrar bem esse mundinho das garotas que ficam fazendo vídeos eróticos com câmeras em quartinhos, recebendo pontuações ao satisfazer os desejos dos seus seguidores/espectadores diversos, e foram bem coerentes com muitos objetos cênicos, brincaram com o lance familiar, com os clubes e tudo mais, mas como já disse, faltou algo a mais para o fechamento do longa, e a parte técnica poderia ter ajudado também, ou seja, quem sabe a brincadeira ficasse mais relevante quando a garota descobre o algo a mais no computador sobre a outra garota, e aí sim o resultado chamaria a atenção nossa. A fotografia exagerou no vermelho/rosa do quarto da garota, e poderiam ter cansado menos nossa vista, mas ainda assim o resultado nesse quesito não é dos piores.
Enfim, é um filme que foi feito para algo, alguns vão enxergar de uma forma bem diferente, mas que infelizmente não me cativou até o final, parecendo faltar algumas coisas para ser considerado um mote além do que é mostrado em cena apenas, ou seja, fraco. Sendo assim, não o recomendo, mesmo tendo um bom começo, e um miolo razoável, pois literalmente jogaram o final no lixo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas amanhã já volto com as estreias da semana nos cinemas, então abraços e até logo mais.
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