É engraçado que nesse quase um mês praticamente que adentrei aos longas comprados pela Netflix observei que se existe um estilo de filmes que gostam de colocar em sua grade, são os mais introspectivos, que procuram alguma essência na vida, na forma contextual que vai além das quatro linhas de uma produção, e também gostam muito de longas pós-apocalípticos, de maneira que é algo que dá para empregar bem esse conceito de como viver após o fim do que conhecemos. Pois bem, usando dessa linha de raciocínio, o que é passado no novo lançamento, "IO", é algo que trabalha bem esse formato de pensarmos na sobrevivência na Terra com tudo o que cada dia mais destruímos do planeta, se a opção por ir embora daqui é algo iminente ou se dá para de alguma forma sobreviver aqui, como a adaptação pode ser mesmo que forçada algo positivo para tudo, e até onde você deseja ir, ou conhecer para saber se está pronto ou não para essas mudanças. O longa é bem filosófico, muitos acabarão vendo ele esperando algo com muito mais ação, mas a proposta não é bem essa, e dessa forma, muitos poderão até se frustrar um pouco, porém diria que a ideia é muito bela de ser vista, que dá para refletir bastante, e até trabalhar bem dentro dos diversos pensamentos propostos pelos quatro protagonistas (dois que vemos, e dois que apenas vemos mensagens e vozes), e assim sendo, o filme é bem trabalhado, mas que certamente poderia ter ido muito além.
O longa nos mostra que com a Terra em ruínas, a cientista Sam é uma das últimas sobreviventes e está determinada a encontrar uma forma para a humanidade se adaptar e sobreviver no mundo pós-apocalíptico em vez de abandoná-lo. Pouco antes da partida da última nave rumo a uma colônia distante, ela conhece Micah, outro sobrevivente. Agora, Sam terá que escolher: partir com o resto dos humanos e começar uma nova vida ou ficar para lutar pela sobrevivência do planeta.
Não diria que o diretor Jonathan Helpert se mostrou alguém com uma ousadia para fazer seu filme, pois temos na essência da trama estilos vistos em diversos outros, e de certa forma até pode parecer pegadas clichês em muitos momentos, porém ele soube trabalhar o roteiro que lhe foi entregue para que saísse do eixo tradicional de pós-apocalípticos que saem desesperados em busca de uma cura, em busca de sobreviver, para algo mais clássico, mais filosófico, mais cheio de referências mitológicas para criar ao menos na mente da protagonista a forma certa de se adaptar sem precisar se mudar, e essa é a grade mudança que vemos com o final escolhido, pois se achávamos completamente que o longa iria para um rumo, a alternativa escolhida foi bem pensada, e com certeza irá deixar dúvidas e raiva em muitos, ou seja, o diretor soube usar o clichê para virar o seu como algo diferenciado, e isso é um grande feito que faz valer a reflexão.
Sobre as interpretações, foram feitas duas boas escolhas para os protagonistas, encontrando em Margaret Qualley aquele olhar que muitas pesquisadoras/cientistas entregam em sua vitalidade e busca por encontrar o que tanto deseja, e sabiamente a atriz foi desenvolvendo cada ato seu como algo bem simples e efetivo, não entregando nada antes da hora, o que demonstra uma segurança precisa e bem colocada de ver em sua Sam, e assim sendo, o resultado completo dela é agradável e bem interessante de acompanhar. Por outro lado, Anthony Mackie veio com a desenvoltura de alguém traumatizado com o que ocorreu em sua família, em busca de respostas originalmente com seu Micah, mas que acaba desenvolvendo algo além, e o experiente ator entrou na trama justamente com essa ideologia, de dar uma experiência de vida para a protagonista, e interpretar bem as filosofias mitológicas que a trama trabalha em segundo plano, ou seja, foi o elo mental que o filme precisava. Além dos dois, vemos bem rapidamente alguns momentos de Danny Houston como Henry, que nem precisaria ter, mas que funciona para termos algumas explicações do desfecho da trama, e ouvimos muito a voz de Tom Payne como Elon, mas também foi algo que gasto para ter outra voz masculina na trama, pois como todas suas cenas são de leituras das cartas, poderiam ter economizado e deixado que a moça lesse.
No conceito artístico, diria que o trabalho da produção foi bem preciso, criando uma cidade completamente devastada após a morte tóxica das pessoas, mas bonito de ver pelas mudanças adaptativas das plantas, do ar, de tudo ao redor da protagonista, e claro conseguiram construir um laboratório muito detalhado nas montanhas, aonde a jovem sobrevive com seu oxigênio e com suas pesquisas (o que lembra bem "Perdido em Marte"), tudo com muitos objetos cênicos servindo para referências de aonde desejavam chegar, muitos símbolos nos livros e obras de arte, e até muita tecnologia para termos algo científico realmente, ou seja, um trabalho feito com louvor. A fotografia soube dosar bem a densidade da trama, e encontrar bons ares nos tons cinzas e marrons, criando algo mais dramatizado e menos acelerado como acabaria acontecendo numa trama tradicionalmente desse estilo.
Enfim, é um longa bem interessante, mas que por ser cheio de filosofias, e ter um ritmo um pouco lento demais, é capaz de muitos acabarem nem vendo a beleza por trás das mensagens passadas, e acabarem até se cansando com tudo por esperarem algo a mais, mas que não era dentro da proposta da trama. Sendo assim, recomendo o filme, com a principal ressalva de que vejam com calma, sem esperar muito, e reflitam sobre a ideia completa, pois assim o resultado certamente será bem melhor. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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