Todos sabem o quanto gosto dos longas franceses, principalmente aqueles que passam lições de vida incríveis entregues através de boas atuações, aonde a história acaba nos envolvendo e resultam em algo tão satisfatório que acabamos nos emocionando com facilidade por tudo o que é demonstrado. Digo isso com muita facilidade de "Sementes Podres", uma das indicações que o algoritmo da Netflix após eu conferir outro longa me indicou, e olha, posso dizer muito obrigado pois foi incrível, divertido, emocionante e tudo mais que costumo sentir nas comédias dramáticas do Festival Varilux, porém agora em casa. A trama consegue soar bem moldada pela sintonia que o diretor e protagonista Kheiron trabalha com as crianças problemáticas, entregando algo mais sociável e amável frente aos duros encontros com a vida deles, de tal forma que vamos imergindo na proposta e se envolvendo com cada personagem, com os golpes dos protagonistas, com as sacadas de reclamações de biscoitos pela embalagem (uma dura crítica também à análise da embalagem ante o conteúdo), e assim o resultado não poderia ser outro, senão a perfeição, e claro a recomendação dele para todos que gostem de longas com uma proposta até bem dura, mas que tratada de uma forma leve acaba agradando mais do que causando.
A sinopse nos conta que Wael vive nos arredores de Paris dando pequenos golpes com Monique, uma mulher aposentada.
Sua vida se transforma no dia em que um amigo, Victor, oferece a ele, por insistência de Monique, um pequeno trabalho voluntário no centro de crianças excluídas do sistema escolar.
Wael se encontra gradualmente responsável por um grupo de seis adolescentes expulsos por insolência ou porte de armas.
Deste encontro explosivo entre "ervas daninhas" nascerá um verdadeiro milagre.
O trabalho de Kheiron como diretor é singelo, mas muito efetivo no que faz, entregando uma montagem bem sensata em dois vértices paralelos que vai mostrando seu relacionamento com os garotos problemáticos, e também a sua infância problemática pós-guerra, aonde vemos muitas semelhanças no âmbito sentimental, e com uma delicadeza ímpar o jovem diretor conseguiu transmitir com seu próprio texto algo que é muito comum de ver nos jovens de hoje: a falha no processo comunicativo, a falta de interpretação e o desespero por resoluções rápidas. Ou seja, poderia ser um filme mais forte, poderia ser mais duro, poderia até ser mais novelesco caso quisessem, mas o diretor trabalhou o ambiente e cativou o público a ir seguindo tudo o que propunha, trabalhando em paralelo suas ideologias que poderiam levar o longa para um final completamente diferente, mas como ocorre sempre em longas franceses, a surpresa é boa, bem explicada, e emociona com muito brilhantismo, ou seja, um filmaço realmente.
Assim como foi sereno como diretor, Kheiron entregou uma personalidade ímpar para seu Wael, de modo que ele conseguiu entregar um brilho no olhar tão bem colocado nas situações com os demais personagens que acabamos seguindo seus atos, envolvendo com suas cenas, e até torcendo para que ele consiga ir além em tudo o que está fazendo, ou seja, foi completo de expressões também. Acho que nem precisamos falar de Catherine Deneuve com sua Monique, pois a experiente atriz consegue entregar qualquer personagem com uma qualidade ímpar, e aqui ela foi precisa, divertida e muito agradável de conferir em cada um dos momentos. André Dussolier também foi singelo nos atos de seu Vitor, mostrando um ar incrível desses empreendedores que buscam melhorar as vidas dos jovens, encontrando simplicidade nos atos, e sendo coerente, porém divertido para com suas cenas junto de Deneuve. Quanto dos jovens, cada um com sua característica própria entregou com delicadeza, mas propriedade seus problemas, suas retrações, e foram nos envolvendo e determinando cada ato para com o público, de modo que poderíamos falar individualmente de cada um, mas o texto ficaria alongado, então vale ter destaque Youssouf Wague com seu Ludo, por mostrar o gigante preconceito de cores que ocorre, e claro o envolvimento em drogas, mas principalmente o abusivo policial por trás dele, fazendo com que ficamos até com muita dó do seu personagem ao percebermos o abuso, também vale o destaque para a cena que descobrimos o abuso por parte da personagem Shana de Louison Blivet, que é feito de uma maneira forte e bem contundente, e claro as forçadas por parte do excesso de inteligência de Ouassima Zrouki com sua Nadia, que foram bem trabalhadas também. Além disso, temos de dar os muitos cumprimentos para o jovem Aymane Wardane que faz Wael quando criança, de uma maneira dura e muito impactante.
No conceito artístico, a trama tem praticamente dois vértices muito bem feitos, o passado vivido numa época pós-guerra, com colégios religiosos e jovens uniformizados, e todo o passado duro do jovem sendo retratado bem coeso de elementos simples e moldados, e o segundo ato tendo as cenas de golpes do protagonista de uma maneira bem divertida em aeroportos, em supermercados e tudo mais, além claro da escola simples e efetiva para os problemáticos, com o escritório bagunçado de Vitor, tendo também o apartamento dos protagonistas cheio de detalhes simples, mas bem colocados para mostrar a simplicidade deles. A fotografia usou de artifícios simples, porém bem coesos para dar o tom da trama, envolvendo sem precisar deixar uma dramaticidade exagerada, tirando claro as cenas com o garotinho, aonde ali ao usar um tom mais amarelado, e puxado para o escuro, o resultado deu uma densidade mais forte.
Enfim, um filme que recomendo muito para todos, e que facilmente seria um exemplar claro para estar nos melhores festivais afora, inclusive no Varilux de Cinema Francês pela ótima qualidade técnica, e principalmente pela boa lição e mensagem de vida que conseguiu transmitir. Ou seja, finalmente um filme que realmente vale ser conferido na Netflix, e quem tiver já coloque aí. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas amanhã confiro mais um longa e volto com mais um texto, então abraços e até logo mais.
PS: Talvez um desenvolvimento maior de outros personagens daria outro tom para a trama, e não necessitasse tanto das brincadeiras dos protagonistas para encher o miolo, e só por isso, a nota não será máxima, mas valeria com certeza.
PS2: Não consegui localizar um trailer legendado do longa para colocar aqui, então quem conseguir achar um melhor, e quiser mandar, eu coloco.
2 comentários:
Excelente! Sou professor de adolescentes, assisti o longa hoje e adorei seu texto. Por mais filmes de qualidade como esse!
Opa valeu Rafa pelo comentário... bem bacana ver sempre o longa atingir quem precisa, pois o filme com certeza é uma ótima aula de atitudes para mestres passarem para os seus!! Abraços!!
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