E eis que M. Night Shyamalan conseguiu fechar sua trilogia iniciada em 2000 com "Corpo Fechado" e em 2016 com "Fragmentado", aonde vemos a base da formação de um super-herói, misturando loucura, desespero, múltiplas personalidades, e tudo mais em um único filme, o qual podemos chamar de "Vidro". Posso estar bem enganado, mas acho que dificilmente o diretor já tinha essa ideia completamente formada 19 anos atrás, e com o desenvolvimento dos demais filmes foi pescando uma personalidade aqui, outra ali, para que quando lançou toda a loucura das muitas formatações psicológicas de Kevin, ele viu que certamente tudo poderia virar um único filme imenso com um grandioso desfecho. E essa é a forma que se dá para o longa que vi hoje, um grandioso desfecho, com três grandiosas reviravoltas em minutos, mas que precisou ser bem alongado para se completar, e com isso tivemos um miolo bem moldado, mas que cansa um pouco, mas que valeu para dar a forma completa ao que o filme necessitava, e com isso, o resultado se faz presente, aliás poderia o filme ser até mais longo, visto que o primeiro corte do roteiro continha quase 70 minutos a mais de duração, e certamente veríamos até mais explicações, mas aí muitos reclamariam de tudo explicado, ou seja, vamos parar de reclamar e ver que o mote foi bem orquestrado e anima bastante quem gosta de HQs, quem gosta de longas dramáticos, e principalmente quem gosta de uma ação bem trabalhada.
O longa nos mostra que David Dunn parte numa implacável perseguição contra o psicopata Kevin Wendell Crumb, que se transformou na criatura conhecida como A Fera. Enquanto isso, Elijah Price, conhecido como Sr. Vidro reaparece com terríveis segredos envolvendo Dunn e A Fera.
O mais engraçado de falar de M. Night Shyamalan é que até lançar "Fragmentado" em 2016, toda a crítica já havia até encomendado um caixão para o diretor, pois diziam que após "Corpo Fechado" se tornar um clássico (muitos anos após sua estreia, pois na época o povo meteu porrada nele!), o diretor não acertava mais a mão errando nas escolhas e desenvolvendo longas de pouco destaque, o que é um certo exagero, pois tivemos bons filmes dele nesse meio do caminho. Pois bem, aqui ele trabalhou para que seus personagens agora já bem conhecidos de outros filmes tivessem um encontro glorioso, cheio de brigas e tudo mais, bem meio que referenciando o momento atual do cinema, que visa encontros de super-heróis para produções cada vez maiores, porém sem perder o tino de suspense/terror que é sua especialidade, e juntando bons momentos de tensão, criando referências às HQs de diversos personagens, trabalhando com muita força e ação, e claro surpreendendo cada vez mais com as grandiosas interpretações dos protagonistas, ele conseguiu unir impacto, boas dinâmicas, grandes lutas, e principalmente fazer o que mais costuma, que é ter imensas reviravoltas nos pouquíssimos minutos finais de seus longas, para que o público deixassem seus queixos no chão, e aqui ele fez nada menos que três, ou seja, deu show nesse quesito. Porém faltou um pouco de brilho nesse show de Shyamalan, pois lhe exigiram cortes demais para que o filme ficasse num formato que desse para ter mais exibições, e com isso arrecadar mais bilheteria, e isso custou algumas explicações que certamente deixariam seu filme mais conciso (o que não atrapalha em nada se formos bem a fundo), e assim sendo, o resultado que poderia ser memorável foi apenas bem feito.
Sobre as interpretações, tenho de começar falando claro de James McAvoy com as múltiplas personalidades de Kevin, que se em "Fragmentado" ficamos espantados com seus trejeitos, aqui o ator merecia muitas premiações, pois ele muda o corpo, o olhar, o jeito de falar, tudo de maneira tão precisa, que passamos a reconhecer quem está falando sem ele precisar falar quem "assumiu a luz" como o personagem costuma falar, e é de um brilhantismo tão impactante que se ele não colocar na sua biografia como o personagem que lhe marcou, ele estará mentindo, pois é algo de aplaudir de pé tudo o que faz em cena com tantas personalidades diferentes em um corpo só. Samuel L. Jackson é outro que aqui mostra olhares fortes e estrategistas de maneira que seu Elijah ficasse impressionante, cheio de virtudes, e envolvesse não só todos ali no hospital desde os enfermeiros até chegar na doutora, passando claro pelos dois amigos com "super-poderes" que mais para frente numa das grandes reviravoltas vamos descobrir que ele já tinha muita coisa nos seus planos, ou seja, acaba nos envolvendo também com muita imponência e ótima expressividade. Que Bruce Willis é um tremendo ator de filmes de ação já sabemos, que sabe trabalhar bem filmes de suspense também, porém aqui seu David Dunn ficou meio que em segundo plano para a trama, servindo apenas como galo de briga para os demais personagens, e claro para que as conexões funcionassem, então o ator nem precisou trabalhar muitos trejeitos nem ser expressivo para que o longa ao seu redor funcionasse, mas ao menos não decepcionou na pancadaria, e fez grandes cenas nesse quesito. Acho que se eu for conversar com uma psicóloga/psiquiatra com um tom de voz tão calmo como o entregue por Sarah Paulson para sua Dra. Ellie, não conseguiria manter a calma que os protagonistas têm de ficar quietinhos, pois ela foi muito enfática quase entrando na mente deles com suas ideologias, criando algo muito forte e preciso sem precisar levantar um segundo sua voz, ou seja, algo bem contundente, que mais ao final vamos entender melhor. Outro ponto bem engraçado, é você olhar para Joseph, o filho de Dunn e achar que parece o garotinho que fazia o filho no filme "Corpo Fechado", pois bem, ele cresceu nesses 19 anos, e sim é o mesmo Spencer Treat Clark, que entregou olhares completamente bem conectados, e agora como ajudante do pai por meio de microfones soube dosar bem as expressões e entregar algo simples, mas bem eficiente. A garota Anya Taylor-Joy que fez expressões marcantes em "Fragmentado", volta aqui com sua Casey quase como um objeto para amansar o protagonista, e a garota fez olhares de calma tão interessantes, que conseguiu chamar a atenção também.
No conceito cênico a trama foi efetiva no que se propunha, entregando momentos bem coesos dentro do hospital psiquiátrico, com celas "a prova" dos heróis/vilões, mas com muita simplicidade para não ficar algo exagerado, porém consistentes para lembrar bem os diversos filmes baseados em HQs, trabalhando com objetos cênicos marcantes, reuniões secretas, e claro figurinos próprios para que tudo chegasse a nos remeter aos muitos filmes de super-heróis que já vimos, ou seja, uma trama detalhada, mas sem trazer nada exagerado, tendo destaques claro para as cenas aonde as brigas rolaram forte, para que tudo fosse amassado na base da pancadaria. A fotografia brincou com tons fortes, e ambientações com sombras bem marcadas para que dessem destaque para cada protagonista no momento certo, e brincando com simbologias sempre para que o ar do longa ficasse mais denso dando a tensão correta para cada ato, ou seja, funcionalidade cênica sempre em primeiro plano.
Enfim, é um longa muito bem feito que serviu para fechar o ciclo e entregar muitas referências em cima do "universo" que o diretor criou, trabalhou bem as ideias em cima do que conhecemos de super-heróis, mas que certamente poderia ter ido bem mais longe caso quisesse, e pudesse, pois um longa maior daria um desenvolvimento melhor (não que aqui tenha sido ruim, mas faltou um pouco, e enrolou demais aonde não necessitaria), e sendo assim é claro que recomendo o filme, pois mesmo com defeitos ainda é algo bem grandioso e emocionante de ver na telona, então corra e confira logo para quem sabe Shyamalan resolva voltar com esse universo para mais longas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
1 comentários:
Boa Coelho...
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Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...