É bem raro aparecer pelo interior longas japoneses, tirando claro os mangás e terrores clássicos, e quando costuma vir, geralmente vemos dramas bem secos, sem muita força, que sempre puxando para um ar bem clássico acaba não sendo envolvente como poderia, e indo para um ritmo calmo demais acaba mais cansando do que agradando. Mas como bem sabemos, sempre existem exceções, e "Assunto de Família" é uma das mais belas exceções que o cinema japonês já nos entregou, pois é um longa com uma proposta séria, forte e bem imposta, mas que possui uma essência doce e emocionante, que acaba sendo desenvolvida num ritmo tão coeso, que mesmo sendo quase algo de âmbito casual (que esse Coelho sempre reclama!), o resultado nos comove e ficamos torcendo para ter mais momentos belos continuando tudo o que vai sendo entregue. E sendo assim, fica fácil entender o motivo do longa ter levado a Palma de Ouro em Cannes, pois a simplicidade aliada à boa técnica, trabalhando dramaticidade em síntese bem colocada, acaba nos permitindo uma obra gostosa de ver, e que causa atitudes para vermos o quão bela pode ser uma família bagunçada. Ou seja, um filme que norteia muita beleza na essência e nas situações, e que até poderia ser mais forte, mas ao escolher a simplicidade ao invés da ousadia, o diretor acaba atingindo mais o coração do que a mente do público, e isso é algo que anda funcionando muito ultimamente.
A trama nos conta que depois de uma de suas sessões de furtos, Osamu e seu filho se deparam com uma garotinha. A princípio eles relutam em abrigar a menina, mas a esposa de Osamu concorda em cuidar dela depois de saber dos abusos que ela sofre de seus pais. Embora a família seja pobre e mal ganhem dinheiro dos pequenos crimes que cometem, eles parecem viver felizes juntos até que um incidente revela segredos escondidos, testando os laços que os unem.
Como disso no começo, é raro aparecer algo do Japão por aqui nos cinemas, mas por mais incrível que pareça, um dos poucos filmes que vieram para cá também foi do diretor e roteirista Hirokazu Koreeda, que maravilhosamente já trabalhava bem com ideias familiares lá em 2014, com "Pais e Filhos", e aqui ele conseguiu ser singelo no formato, entregou com coesão cada momento, e principalmente, soube envolver o público com praticamente seis pessoas completamente diferentes que se envolvem harmonicamente em um cubículo que chamam de lar, e brincando com ares bem determinados, ele acaba nos comovendo com cada ato, apontando diretamente onde saberia que veríamos algo além. Ou seja, seu longa poderia ser incrivelmente duro, tratando de uma formação familiar completamente incorreta, com abusos formais de integridade, mas que com muita sabedoria tratou tudo de uma forma doce, e gostosa de ver, acertando na medida com cada expressividade, e principalmente nas escolhas dos ângulos para não ficar comum.
Falar dos atores aqui é soar repetitivo, pois todos sem exceção entregaram ótimos trejeitos, trabalharam suas virtudes, e foram condizentes com cada momento para que o filme tivesse uma ótima essência visual, e com isso, desde Lily Franky com seu Osamu trambiqueiro, mas que não esconde suas virtudes como pai de família, Sakura Andô como Nobuyo, uma mulher amável, cheia de sonhos, mas que não pode ir muito além, Kirin Kiki como Hatsue, uma doce senhora, mas que esconde muitas coisas de todos, e vive bem com todos, Mayu Matsuoka como Aki, que também tem seus mistérios, mas como toda jovem sonha com um grande amor, até chegarmos nos jovens Jyo Kairi como Shota e Miyu Sasaki como Yuri, que foram tão graciosos nos seus atos, que quando fazem seus gestuais para roubarem conseguem nos comover com muita graciosidade, o que é incrível de ver. Diria que ao surgirem todos os policiais, agentes de infância e tudo mais na última parte do longa, o filme acabou ficando com um tom completamente diferente, mudando até mesmo os trejeitos dos artistas, mas ainda assim vemos nos olhares dos protagonistas que todos fizeram um longa feliz e dispostos para tudo o que o diretor propusesse.
Embora não seja um longa muito complexo de cenários, a cenografia foi bem recheada de detalhes, entregando diversos elementos cênicos para cada ato ser bem representativo, trabalhando bem as cenas nos mercados e lojinhas para os furtos, mostrando a convivência da família toda dentro de um cômodo só, e tendo claro alguns pontos fora do eixo para mostrar a vida extra-familiar de cada elemento, como o trabalho do marido, as visitas da idosa ao banco e à outra família, a jovem que frequenta o prostíbulo, a mulher na fábrica quase falida, e claro as crianças caçando cigarras, ou seja, a equipe artística foi bem coesa em cada cena, mostrando detalhes para funcionar realmente, não exagerando, e nem soando simples, deixando que a essência funcionasse realmente.
Enfim, sabia que veria um bom filme, por ter ganho Cannes, por estar indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, por ter concorrido à vários outros prêmios e tudo mais, só não lembrava do filme ser desse bom diretor que já tinha gostado no passado (e que agora ficarei bem ligado nos seus lançamentos!), e que conseguiria novamente passar uma linda mensagem familiar, que mesmo tendo seus dramas, problemas e tudo mais, consegue nos comover com sensibilidade e boa interação entre todos os personagens. E sendo assim, recomendo com toda certeza o longa para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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