Que coisa mais deliciosa foi assistir "Dumplin'" na Netflix, ou traduzindo como no filme "Fofinha", que mesmo usando de clichês tradicionais, ousa em desconstruir uma imagem, e sendo fofinho, mas direto no ponto, consegue passar lindamente a mensagem de seja você mesmo, independente de padrões, de se achar não capacitado para algo, ou até mesmo de estar fora de algo que você mesmo se julga não sendo como deveria, pois você pode ser maior do que isso, e o resultado quando bem encontrado no seu fundo, pode ser maravilhoso. E dessa forma o longa soa maravilhoso também, trabalhando ótimas interpretações, homenageando na medida certa a cantora Dolly Parton (que sempre coloca essa ideia em diversas de suas canções), e trabalhando de uma maneira muito coerente, a trama até lembra um pouco "Miss Simpatia", mas que com um gracejo bem mais ousado, acaba envolvendo muito mais quem gosta desse estilo Sessão da Tarde, com leves pitadas dramáticas bem colocadas. Ou seja, um filme muito gostoso de conferir, que faz você ao final já estar batendo os pezinhos durante as canções, mesmo sabendo tudo o que vai acontecer.
O longa acompanha a história de uma adolescente plus size desinibida chamada Willowdean. Ela é chamada de Will pelas amigas e de Dumplin’ por sua mãe, uma ex-miss que agora organiza um concurso de beleza. Moradora de uma pequena cidade do Texas, Will ignora comentários sobre seu peso e ouve obsessivamente canções de Dolly Parton. E, quando decide entrar no concurso da mãe como forma de protesto, sua ação encoraja outras competidoras a seguirem seus passos, mudando as tradições da cidade para sempre.
A diretora Anne Fletcher foi muito consistente na construção da trama, pegando um roteiro bem moldado em cima do livro recordista de vendas de Julie Murphy, e criando as situações com carisma principalmente, não deixando que o longa ficasse preso em nenhuma das pontas, de modo que a protagonista poderia ir por rumos completamente simples que conseguiria empolgar o público. Claro que o gênero, e o estilo do filme já tinham uma prerrogativa bem montada na cabeça do público, e isso nem que a diretora quisesse, poderia inventar uma forma diferente de entregar, então logo no começo já vamos nos preparando para cada ato que aconteceria com certeza mais para o final, e foram até bem coerentes nas frases ditas para que o filme não fugisse do eixo, e com uma desenvoltura totalmente bem divertida, leve e gostosa, ela conseguiu passar a sua mensagem, conseguiu trabalhar cada momento para soar bonito sem precisar forçar a barra, e principalmente entregou algo digamos fofo para uma proposta que poderia até soar pesada (caso quisessem!), e assim sendo, o resultado nos pega emocionando e torcendo para a jovem protagonista, sem precisar aplaudir suas atitudes, que até soam pessimistas demais em alguns momentos (e sendo até refletidas na nossa forma de pensar muitas vezes!). Ou seja, um acerto completo para a forma de condução, e claro para a adaptação do livro, que não li, mas que pelo desenvolvimento consegue ser bem trabalhado na tela.
Com um elenco afiadíssimo o resultado não poderia ser outro senão diversas cenas bem trabalhadas que nos fazem sorrir a cada ato do longa, trabalhando desde personalidades fortes até situações mais desembaraçadas para encontrar afinco no desenvolvimento de cada personagem. E para começar tinha de ser por Danielle Macdonald que nos entregou a protagonista Will com muita vivência, desenvolvendo cada momento da personagem como se fosse algo único e impactante, agradando nos trejeitos, trabalhando o carisma, e até encarando certas ranhuras no miolo, fazendo com que a odiássemos também pelas atitudes, mas que com o desenrolar da trama, voltamos a torcer por ela, ou seja, perfeita. Jennifer Aniston é sempre precisa no que faz, e aqui mesmo sua Rosie não ficando tanto em evidência, aparecendo sim como a mãe metódica com suas tradições no concurso de misses, mas que sempre deixa o palco para os demais darem seu show, e assim quando precisou veio e encaixou olhares e boas dinâmicas para que a personagem também tivesse o devido destaque. Dentre as garotas, todas foram muito bem colocadas, passando por Maddie Baillio com sua graciosidade em cima de sua Millie com toda imponência e vontade de se superar, Bex Taylor-Klaus com sua imponência e rebelião em cima de sua Hannah, mas completamente despojada nas cenas finais, e claro Odeya Rush como Ellen, a melhor amiga, que mesmo nos momentos de briga, sabemos que podemos contar, ou seja, todas colocadas na medida certa. O par romântico foi meio que fora de eixo, e embora num conto de fadas meio forçado até poderia ocorrer, mas Luke Benward até que entregou bons momentos para seu Bo. E claro para fechar temos de colocar em pauta as drags incríveis feitas com muito carisma por Harold Perrineau, Joshua Allan Eads e Sam Pancake, que deram o tom para a fase final do longa ficar muito divertida.
Quanto da cenografia, o longa deu outro show de elementos cênicos, principalmente no desenvolvimento da personagem com sua obsessão por Dolly Parton, e claro, usando isso para remeter aos bons momentos com sua tia Lucy, de modo que a trama acaba encontrando objetos importantes, as tradicionais colagens de parede, e claro levando isso para o bar de estrada aonde ocorrem shows de drags performando Dolly também, cheias de brilho, com muita simbologia e tudo mais para dar o luxo para a trama, enquanto do outro lado, a equipe também trabalhou muito para simbolizar os concursos de misses, com ensaios, figurinos, camarins ornamentados, e claro muito luxo nas apresentações, mesmo estando no meio do Texas, ou seja, um trabalho minucioso por parte da equipe de arte. A fotografia embora seja bem colorida, trabalhou bem os tons mais avermelhados e escuros para dar uma certa dramaticidade nos atos mais pessimistas da garota, brincando bastante com o humor, e claro com a dinâmica da trama, ou seja, um filme bem desenvolvido na proposta cênica.
Como o longa usa muito das canções de Dolly, e coloca a trilha quase como personagem envolvido na trama, não poderia ter outra cantora senão Dolly Parton como diretora da trilha sonora, emprestando diversas canções suas, e até lançando novas, de modo que o filme acabou até sendo indicado para o Globo de Ouro, e certamente o ritmo country deu um bom tino para o filme, e claro que deixo aqui o link para todos ouvirem depois as ótimas canções, e quem não a conhecer, passe a admirar.
Enfim, um filme que nos pega de forma bem despretensiosa, que certamente pararíamos numa Sessão da Tarde para conferir bem tranquilamente, e que nos remete diversas lições para pensarmos, ou seja, mesmo lotado de clichês do estilo, que logo de cara já vamos apontando para os rumos que terá, sem termos grandiosas surpresas e tudo mais, mas que agrada bastante, nos diverte, e principalmente, mesmo emocionando consegue nos deixar com um enorme sorriso na cara pelo desenvolvimento completo feito, e assim sendo, mais do que recomendo essa ótima comédia da Netflix para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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