Todos sabemos bem que mesmo com salários monstruosos divulgados, boa parte do que ganham não chegam até os atletas, que pagam agentes, marketing, equipe, e claro, impostos gigantes, mas também sabemos que os donos de equipes recebem verbas infinitas das televisões, então qual o percentual ideal para cada lado? Usando essa base, e divulgando muito do conflito que ocorreu na NBA quando a greve dos atletas parou os jogos para negociações monstruosas entre agentes, empresários, sindicatos, deixando o clima esquentando de todos os lados com direitos e tudo mais, o grande diretor Steven Soderbergh conseguiu criar um longa cheio de vértices em seu "High Flying Bird", aonde optou por mostrar a vida de um agente desesperado por já não ter mais seus ganhos, mas que soube trabalhar de maneira coerente para conseguir atingir seu objetivo sem se desgastar, e quem sabe até ir além. Ou seja, é um filme que envolve muitos negócios, muitas boas discussões, mas que revela bem os bastidores de grandiosos campeonatos, aonde muitas vezes só vemos os jogos, e os grandes cifrões que circulam por aí, mas na hora dos negócios, pouco sabemos, e aqui o dedo foi apontado e bem desenvolvido, agradando quem gosta de longas mais empreendedores, e ousando ainda criticar bem os moldes atuais do sistema de ganhos nos esportes.
O longa nos conta que Ray Burke é um agente esportivo que se encontra com a carreira em risco em meio a uma batalha entre os donos dos times da NBA, liga de basquete profissional dos Estados Unidos, e os seus jogadores. Durante um locaute, uma "greve" promovida pelos empresários, ele decide executar um arriscado plano de negócios que pode mudar o jogo para sempre.
Juntar um diretor que sabe bem como trabalhar dramas como é o caso de Soderbergh, com um roteirista que afrontou o racismo de uma maneira completamente forte, como foi o caso de Tarell Alvin McCraney com seu "Moonlight", o resultado esperado não poderia ser outro senão um longa denso, cheio de atitudes, mas que trabalhou mais a essência dos atos do que o desenvolvimento em si, e assim sendo, cada ato do filme vai nos remetendo mais ao grande jogo de bastidores entre atletas, agentes, empresários de times, e claro seus associados, de modo que cada momento uma fagulha falsa poderia fazer tudo explodir. Ou seja, o longa foi muito bem desenvolvido, criou as possibilidades com muita coerência, e principalmente desenhou os atos praticamente não precisando de mais ninguém sem ser o protagonista, embora o filme se mostre norteado diversas vezes pelas laterais, mas sempre o pivô preparado para a cesta de três pontos era o protagonista, e ao final quando achamos que foi sua maior derrota, lá estava ele para balançar a cesta, junto com o diretor que fez a inversão mais forte e correta que o filme pedia.
Sobre as atuações, André Holland foi determinado do começo ao fim com seu Ray, entregando personalidade para o papel, segurando a onda ao falar do seu passado com o primo, e dando ótimos conselhos e virtudes nas jogadas com cada um dos personagens, de modo que o resultado não só impressiona pelo ótimo fechamento dele, como desde o começo já nos conectamos com o que entrega, sendo quase um guru bem moldado para entregar os atos, ou seja, foi preciso, coerente, e acertou em tudo o que podia fazer para o longa impressionar. Já havia achado bem interessante a performance de Zazie Beetz em "Deadpool" sem conhecer mais personagens seus, e aqui como Sam, ela nos entrega uma mulher ousada, que mesmo não sendo mais assistente do protagonista, passa a intervir muito em sua vida, e com uma boa dinâmica de conselhos mútuos, o resultado da atriz surpreende tanto pela forma que passa, quanto pela entrega pessoal da personagem. Melvin Gregg nos entregou com seu Erick, o tradicional novato de campeonatos, que entra com a bola lá em cima, faz altas críticas para os que já estão acima, que fazem banca e tudo mais, mas que no fundo está desesperado para acabar logo a greve e ver seu contrato firmado, e o mais engraçado é ver as diversas entrevistas reais mostrando que realmente todos os atletas draftados possuem esse mesmo sentimento. Bill Duke é sempre um clássico em qualquer filme que entre, e aqui com seu Spence ele dá a nota clara para todo tipo de racismo envolvendo seus jovens na NBA, mostrando precisão nas cenas, e envolvendo muito, sem precisar mover sequer um músculo. Dentre os demais, vale a pena falar de Sonja Sohn com sua Myra imponente como representante sindical dos atletas na briga dos dois lados, mostrando muita personalidade nos atos, e sendo precisa em tudo o que fez em cena.
Como é um longa de bastidores, não espere altos jogos de basquete (sim, eu fui assistir imaginando isso!), então com cenas em escritórios bem chiques, restaurantes, saunas, e até em eventos de caridade bem montados, a equipe de arte teve o trabalho mais simples para colocar os atos em cena, pois o que vale mesmo são os diálogos bem moldados do protagonista, independentemente de onde ele passe, e sendo assim o filme tem quase um ar de palestra misturada com documentário, o que não atrapalha visualmente, mas também não dá nenhuma nuance forte.
Enfim, é um filme simples, porém cheio de virtudes, que consegue mostrar bem como funciona o dinheiro na NBA, mas que poderia ser mostrado na NFL, na FIFA, ou em qualquer outro esporte, que geralmente chega até os bolsos menores quase nada, e esses precisam aparecer muito na mídia para ter seus ganhos aumentados um pouco, mas que mesmo com uma greve rolando, se tiver um esperto, esse pode reverter tudo da maneira mais ousada e perfeita possível. Ou seja, não é um filme que vai empolgar muitos, mas que passa boas ideias e dinâmicas empreendedoras, ao menos no meio dos esportes, mas que pode ser colocada em prática em outros lugares, e agradar quem gosta de saber um pouco dos bastidores dos esportes. Sendo assim, recomendo a trama com certas ressalvas, mas que vale uma conferida ao menos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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