Intrigante e fora dos padrões, essa deve ser a melhor definição para "Velvet Buzzsaw", principalmente por misturar crítica artística com terror, trabalhando bem os momentos, mas talvez falhando um pouco na entidade em si, que se fosse melhor desenvolvida seria daquelas para vibrarmos e tremermos com tudo o que ocorre, porém tirando esse detalhe, todo o suspense em cima, todas as mortes, e a forma de condução em cima dos trejeitos do meio artístico, faz a trama ficar bem interessante e boa de acompanhar. Porém, quem não for muito ligado ao meio artístico, talvez ache o longa um pouco maçante e cansativo, mas ainda assim vale a conferida pelo ótimo trabalho do elenco, e claro pelos efeitos bem feitos.
O longa nos mostra que quando o mercado da arte colide diretamente com o mercado do comércio, artistas e investidores milionários encontram-se em um duro embate financeiro que pode sacrificar muito mais do que suas carreiras, mostrando o que ocorre quando um temido crítico, uma fria galerista e uma ambiciosa assistente roubam as pinturas de um artista recém-falecido - com graves consequências.
É engraçado como alguns diretores possuem estilos tão moldados que quando vamos ver um filme seu, acabamos enxergando muitos momentos semelhantes ao outro, e aqui em diversas cenas nos remetemos ao seu "O Abutre" para comparar com essa nova obra de Dan Gilroy, e isso não é algo ruim de se falar, pois lá em sua estreia como diretor, ele já havia conseguido tirar grandes cenas do protagonista que agora volta a trabalhar, de tal maneira que tudo aqui soa como algo mais reflexivo, e em diversos momentos até trabalhando uma certa imposição para mostrar o conflito entre arte abstrata e comercial, brincando com olhares críticos e tudo mais, mas se tem algo que poderia ter entrado nesse nicho, e o diretor pecou um pouco foi no jeito de criar o terror, pois ao invés de ousar para o lado psicológico, ele já foi mais para um estilo mais forte, com mortes pesadas, e situações bem ousadas. Não digo que isso tenha sido uma escolha ruim, mas pelo estilo do longa, mereciam ter feito algo mais experimental que resultaria em algo melhor exibido.
Sobre as interpretações, temos de pontuar que o senso crítico de todos os atores foi colocado em um nível fora dos padrões para que interpretassem seus personagens nesse longa, de modo que todos estão com trejeitos abstratos, olhares céticos, e principalmente sentidos preparados para traquejos cheios de desenvoltura, fazendo com que alguns até entreguem uma personalidade completamente diferente de tudo que já vimos eles fazerem, e isso é muito bom de ver. Jake Gyllenhaal nos entrega um Morf cheio de tino, com muita classe (e também alfinetadas) conseguiu mostrar bem o estilo de diversos críticos (e não só os de arte), dando opiniões favoráveis compradas, em outros casos não entendendo mais o que está vendo, mas certamente seus melhores momentos ficaram para o final, quando passa a ficar bem maluco com tudo o que está acontecendo, e como o ator tem ótimos trejeitos, o resultado foi perfeito. Rene Russo é uma tremenda atriz, e sabemos bem disso, mas anda aparecendo tão pouco que chega a ser até surpreendente quando entrega algo mais centrado como sua Rhodora, de modo que ela vai com tudo para cada cena, envolvendo, atacando, e principalmente chamando a responsabilidade cênica para si, o que é um luxo de ver. Zawe Ashton foi bem expressiva com sua Josephina, servindo bem de entremeio para os diversos momentos, mas talvez alguns trejeitos menos forçados agradariam mais, pois em determinados atos parece que está desesperada até para mostrar o que está sentindo. Talvez a Gretchen de Toni Collete nem seja uma personagem que a atriz seja lembrada mais para frente, mas certamente quem conferir o longa saberá quem é ela, pois a atriz pegou uma personagem bem ruim, e conseguiu dar personalidade e moldá-la para empolgar nos melhores atos possíveis, principalmente no seu fechamento. Até poderia falar de outros grandes nomes como John Malkovich, Tom Sturridge, Billy Magnussen, pois todos tiveram rápidos, mas bons personagens na trama, mas me alongaria demais, valendo apenas dar o seguinte conselho, se você precisar de uma assistente, não contrate Natalia Dyer, pois quem assistir ao longa entenderá que ô mulherzinha pé na cova, a sua Coco!
No conceito cênico, a trama entregou obras de arte bem elaboradas (outras estranhas apenas) com um trabalho de pesquisa bem desenvolvido para trabalhar tanto a forma que críticos analisam as artes de museus, como que os comerciantes lidam com isso, e claro como os colecionadores também trabalham, fazendo com que o filme tivesse elementos luxuosos e bem ornamentados dentro de instalações bem ousadas, cheias de envolvimento e tudo mais, não tendo espaço para falhar nem nos apartamentos, casas, estúdios e tudo mais aonde os protagonistas passassem, sempre colocando as obras do artista morto nas paredes, ou outras obras conceituais bem moldadas, de tal maneira que onde quer que olhássemos víssemos arte espalhada, e além disso, arrumaram algumas casas e apartamentos bem luxuosos para dar valor ao longa, ao exemplo da casa nas montanhas de Rhodora, que é praticamente uma pintura vista do alto, ou seja, a equipe de arte teve certamente muito trabalho para fazer tudo, e principalmente precisou pesquisar muito para que o filme não ficasse falho. Os efeitos especiais nas cenas das mortes, e claro, nas dos movimentos dos quadros ficaram bem trabalhados, criando perspectivas fortes, dinâmicas e bem colocadas, de tal maneira que alguns até nos assustam, mas que certamente poderiam ter ido além.
Enfim, é um longa bem maluco, cheio de boas virtudes, que até consegue ser empolgante e interessante em diversos momentos, porém o estilo escolhido para a trama pedia uma coisa, e o filme foi num vértice completamente diferente, fazendo com que o terror seja forçado, mas a tensão fique tênue demais, o que acaba um matando o outro. Não digo que seja um longa ruim, muito pelo contrário, pois ele consegue prender o espectador na tela, mas talvez um pouco mais de tensão e/ou terror psicológico em cima da trama, traria toda a maluquice que ele já causa, com paranoias e tudo mais, fazendo com o filme ficasse algo de arrepiar o público também, e não apenas os personagens. Ou seja, mesmo com leves defeitos, é um longa que dá para passar um bom tempo, e agrada quem gosta do estilo, que até recomendo para quem estiver com tempo livre pela Netflix. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, agora das estreias dos cinemas, então abraços e até logo mais.
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