Confesso que hoje minha vontade era escrever: "Chato." e nada mais, mas como costumo dizer, preciso justificar o que me incomodou demais nessa versão biográfica de Vincent Van Gogh, que poderia ser incrível para mostrar suas loucuras, de onde vieram suas inspirações para as pinturas, motivos fortes para cortar fora sua orelha, e tudo mais, mas o diretor tentou fazer de seu "No Portal da Eternidade" algo extremamente artístico, com uma trilha enfadonha e cansativa, com repetições de frases sem parar para dar ecos de loucura, que somente a ótima interpretação de Willem Dafoe consegue salvar algo na trama, e isso bem próximo ao fim quando já temos algo mais consistente no longa, pois exageraram tanto na forma conceitual, que me esforcei por demais para não dormir durante a exibição.
O longa nos situa em 1888, aonde após sofrer com o ostracismo e a rejeição de suas pinturas em galerias de arte, Vincent Van Gogh decide ouvir o conselho de seu mentor, Paul Gauguin, e se mudar para Arles, no sul da França. Lá, lutando contra os avanços da loucura, da depressão e as pressões sociais, o pintor holandês adentra uma das fases mais conturbadas e prolíficas de sua curta, porém meteórica trajetória.
O diretor Julian Schnabel tentou trazer para a trama um viés artístico demais para que o lado da pintura encontrasse a beleza da natureza, e junto com os traços frenéticos do pintor, o público recaísse o entendimento de sua loucura, brincando demais com vértices imaginários, vozes e deixando que o ator construísse algo mais sólido dentro da maluquice que foi essa época na vida do pintor. Porém costumo falar que deixar nas mãos de um tremendo ator é um risco, pois o ator pode se destacar (o que aconteceu muito aqui), e a obra desabar (o que também ocorreu), e acabamos não vendo em momento algum qualquer destaque por parte do diretor, que sabiamente até escolheu boas locações, moldou bem a vida do protagonista nos hospitais que frequentou, e rapidamente mostrou seu encerramento, o que acabou diferindo demais do outro longa da vida do pintor, "Com Amor, Van Gogh", que brilhantemente através de pinturas retratou de uma maneira bem mais simbólica e gostosa de acompanhar a vida dele. Ou seja, o filme aqui até teve uma proposta ousada e interessante, de trabalhar a loucura como ponto da arte, fazendo com que a cenografia e as pinturas valorizassem o roteiro fraco, mas milagres assim são raros.
Sem dúvida alguma, o melhor do filme fica a cargos das ótimas atuações, e bem por isso Willem Dafoe está sendo indicado à diversos prêmios, e até levando alguns, pela maravilhosa interpretação que deu para Vincent Van Gogh, pintando com precisão, entregando ótimos trejeitos, e sendo sutil nas cenas que mais precisava sem jogar o cansaço da trama para o personagem, ou seja, deu show. Outro que caiu muito bem no papel de Paul Gauguin foi Oscar Isaac, que só é uma pena ter poucas cenas dele no longa, pois certamente como já vimos em outros filmes, Gauguin foi bem polêmico, e certamente com esse estilo forte de Isaac, resultaria em algo impactante. Rupert Friend deu alguns bons tons como o irmão Theo do protagonista, mostrando sinceridade nas suas cenas mais próximas, e envolvendo nas mais dinâmicas, mas como também ficou bem de lado na trama, seu resultado nem chamou tanta atenção. Dentre os demais, a maioria aparece bem pouco, e quem teve um leve destaque foi Mads Mikkelsen como um padre numa ótima discussão com o protagonista sobre religião, e que certamente é uma das melhores cenas do filme no conceito dos diálogos, e sendo assim, ele ao menos se sobrepôs.
Outro ponto bem bonito do filme foi ver que a equipe artística foi bem coerente em arrumar pintores bem próximos do estilo de Van Gogh, para deixar as obras mais próximas dos fechamentos, e claro, treinarem Dafoe para dar os últimos acabamentos, além de diversos momentos com dublês de pintura, de modo que a parte artística é bem desenhada pelo estilo chamativo das obras do pintor, bem como tendo sua cor predileta, o amarelo, espalhado por todos os ângulos, dando tons para a fotografia, e junto de ótimas escolhas de ambientes e locações, fazendo com que a trama tivesse elementos chamativos para retratar bem a vida do pintor.
Enfim, muitos podem até ir por uma outra ideia e se apaixonar pelo longa, mas confesso que o ritmo ficou absurdamente lento, com uma trilha sonora de um piano amaldiçoado de chato batendo o tempo inteiro na mesma toada, me fez por pouco não pensar em levantar para sair da sala, ou ao menos ficar passeando na sala até o final da sessão, mas como hoje tinham muitos espectadores na sala, nem deu para fazer isso. Diria que o longa poderia ter sido moldado com mais nuances sobre a vida do pintor, e não focar tanto nas suas paranoias e medos, de modo que teríamos uma biografia mais diretiva do que introspectiva como acabou acontecendo, ou seja, em resumo, deixando o filme menos chato do que foi. Sendo assim, não tenho como recomendar o longa para ninguém, mas sei que por ter a indicação de Dafoe ao Oscar irá ter uma bilheteria até que considerável de curiosos, mas quem quiser pular, fica a dica. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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