Não sou muito bom de memória, mas acho que não fiquei um Domingo sequer sem conferir o programa "Sai De Baixo" quando passava na TV, e mesmo nos episódios mais fracos, sempre ria de alguma bobeira que acontecia, de algum erro técnico, ou até mesmo dos famosos bordões colocados somente para a platéia do teatro falar junto com os grandes atores da época, e claro, os diversos convidados da esquete, que embora forçasse bem a barra para o riso (algumas vezes até com o ator parando a cena para esperar o público rir), sempre conseguia nos deixar felizes para encerrar o domingão e ir dormir pronto para a segundona brava. Pois bem, passados muitos anos desde o último episódio do seriado original (praticamente 17 anos, já que o último episódio foi ao ar em 2002, se não contarmos os especiais feitos em 2013!), resolveram que seria uma boa ideia criar um longa em cima da história, e acabaram criando um episódio alongado de 83 minutos apenas, aonde infelizmente não conseguiram manter o tino divertidíssimo que a série tinha, e o resultado praticamente vira uma tragédia de falhas técnicas, de quebras de roteiro, de falta de comicidade, e tudo mais, que até poderia ser relevado se pensássemos o quanto isso ocorria naquela época, mas lá ao menos os erros funcionavam para a esquete ficar boa com os improvisos, aqui a equipe não soube empurrar para frente, e o longa acaba soando falhado. Ou seja, não diria que foi algo completamente sem graça, pois ri muito com diversas piadas bem colocadas, espalhadas pelo filme inteiro, mas como cinema não tem como ser conivente com o desastre entregue, e sendo assim, confesso que poderiam ter caprichado melhor a mão em tudo, e talvez uma direção mais eficiente melhorasse a ideia para que os veteranos do humor não precisassem se esforçar tanto para entregar algo bagunçado como foi o caso aqui.
A sinopse nos conta que depois de uma longa temporada na prisão, Caco Antibes volta ao Largo do Arouche para descobrir que todos estão mais falidos do que nunca. A família foi despejada do apartamento e, como se não bastasse, está morando de favor com o porteiro Ribamar. Como algumas coisas nunca mudam, não demorou muito até Caco meter a família inteira em uma nova roubada. Ao lado de Magda, Ribamar, Vavá, Cassandra e Cibalena, o trambique dessa vez será a nível internacional e ninguém vai querer ficar de fora desse esquema.
Se você pegar a lista dos grandes diretores que trabalharam no seriado semanal, verá que qualquer um certamente que pegasse a obra escrita novamente por Miguel Falabella conseguiria entregar algo divertido e bem coerente, mas aqui a direção de Cris D'Amato foi algo completamente fora de eixo, jogada no meio do caminho entre coisas teatrais e tentativas de se fazer cinema, aonde cada ato parecia não estar encaixado com o outro, tendo apenas um mote de fundo que era a fuga do elenco com joias roubadas por um trambique político, ou seja, tentaram também dar uma atualizada no contexto do país, mas ainda assim o resultado não foi para lado algum. Ou seja, pode ser que tentaram trabalhar demais a esquete para que ela saindo do teatro funcionasse também como um filme, mas ao não acertar o eixo e colocar uma direção mais efetiva para que tudo o que víamos funcionando lá no passado (mesmo com falhas, pois o engraçado mesmo era ver os erros de gravação!) fosse agradável e condizente aqui, o longa acabou marcado por divertidas esquetes jogadas no vento, como se um show de stand-up fosse apresentado por alguém que nunca fez isso antes, e sendo assim, infelizmente o resultado não empolgou em momento algum, deixando o público calmo demais para uma comédia.
Quanto das atuações, podemos dizer que todos pelo menos se esforçaram para fazer seus trejeitos clássicos, mas que mesmo assim não acertaram o ritmo que faziam para divertir o público, de modo que temos o trambiqueiro Caco Antibes bem vivido por Miguel Falabella, mas se antes seu escracho era condizente, agora em um mundo completamente voltado para o politicamente correto, suas piadas não puderam ser mais tão pesadas, e com isso, o resultado soa fraco tanto para o personagem, quanto para o ator, pois ele usava demais esse estilo sujo. Marisa Orth parece que não envelheceu uma ruga, de modo que sua Magda ainda está com o tradicional corpão que exibia no programa, mas também se segurou com as piadas, de modo que mesmo fazendo suas burrices tradicionais, ainda mostrou-se esperta em diversas situações, dando uma "empolerada" como veio a dizer já no trailer, ou seja, fez bem seu papel, mas não empolgou como poderia. Tom Cavalcante como bem sabe fazer por ser humorista, usou das tradicionais câmeras duplas para brincar com mais de um personagem em cena, fazendo seu Ribamar e Dona Jaula, cada um forçando mais, entregando boas piadas, mas voltando no politicamente correto, ele não pode exagerar no seu improviso tradicional, nas suas jogadas como tradicionalmente faz de estar muito bêbado, e assim sendo, o resultado do ator pareceu meio desanimado com tudo. Lúcio Mauro Filho fez da mesma jogada de Tom, e com dois papeis acabou nem sendo uma vilã imponente com sua trambiqueira Angelita (apenas servindo para a brincadeira com o sobrenome Rollas), nem um criminoso monstruoso e vingativo como poderia ser com seu Banqueta, de modo que como casualmente faz com trejeitos para todos os lados, resultou simples demais em tudo. Do elenco original, Aracy Balabanian e Luis Gustavo estão bem velhinhos, e praticamente nem apareceram em cena, com Cassandra ainda tendo três ou quatro cenas para ter algum destaque bem colocado, mas Vavá só fez a participação mesmo no final. Dentre os demais, tanto Cacau Protásio quanto Katiúscia Canoro apenas foram desenvolvidas como pano de fundo para as confusões de Ribamar com seus diversos casos conjugais com empregadas, de modo que suas Cibalena e Sunday não chegaram nem perto do sucesso e estilo de Claudia Gimenez e Márcia Cabrita fizeram no passado, e quanto aos outros, melhor nem falar.
No conceito visual, a trama brincou bem com a ideia da perda do apartamento, e o uso do quartinho de porteiro, para dar o famoso ar pobre para Caco tanto reclamar, trabalharam bem as sacadas com apetrechos de ricos, deram uma leve jogada com as piadas de política no país (sem forçar muito), mas praticamente todo o longa se passa num hotel e no ônibus exageradamente rosa, com malas rosas, pessoas vestidas de rosa, que com toda certeza fez o diretor de fotografia usar óculos escuros para tanto reflexo na câmera, além de não abusarem cenograficamente de quase nada, o que é uma pena, pois como estávamos acostumados com um ambiente só na série, aqui com algo quase como um road-movie, o resultado não foi entregue para lado nenhum, e nem empolgou como poderia, pois não usaram os elementos simples colocados à disposição. E falando em diretor de fotografia, alguns podem até não notar, mas em muitas cenas, acabaram movimentando a câmera sem necessidade, quase como algo caindo desastrosamente, e isso embora possa funcionar como um erro cênico charmoso para o filme, nos momentos em que ocorre acaba sendo algo mais como falha técnica do que algo pensado realmente, e isso não é legal de ver numa obra cara como é o caso aqui.
Enfim, é um filme que certamente irá fazer uma boa bilheteria pelas pessoas irem pensando na saudosa diversão que o programa lhes causava, aonde todos riam muito, no dia seguinte comentavam entre os grupos, e que sempre torcíamos por reprises dos episódios, numa época aonde a internet não dominava, mas que infelizmente não posso recomendar como filme, pois não tem uma conexão bem moldada, não apresenta uma situação formada, sendo somente esquetes em movimento, que saem completamente fora do eixo divertido que o programa tanto fez. Não digo que seja o pior filme que já vi, pois como vejo tudo o que é lançado, acabo vendo altas bombas, mas aqui a expectativa era bem melhor já que tinha uma memória afetiva muito boa do programa, e apenas fazendo rir praticamente em meia dúzia de cenas, o resultado não empolga nem funciona. Bem é isso pessoal, fico por aqui agradecendo o pessoal da Difusora FM 97,1 MHz pela ótima pré-estreia, que levou muitos ouvintes para conferir a trama, e volto em breve com mais textos, então abraços e até breve.
2 comentários:
Ótimo artigo amigão!
Obrigado Fábio! Abraços!!
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Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...