O mais interessante de conferir a animação "Tito e os Pássaros", é ver através de traços diferentes do usual, uma história densa, com uma pegada bem forte para trabalhar o drama das doenças modernas (o isolamento, a solidão, e o medo da combinação de tudo isso junto), com um formato forte, sem linhas tradicionais, dando um estilo para a trama de quase abstração, aonde vemos um filme que dificilmente agradará ou envolverá crianças pelos tons escuros, mas que trabalhando bem o conceito, criando dinâmicas ilustradas com síntese bem moldada acabou resultando em algo metódico, mas com um simbolismo incrível. Ou seja, é uma animação bem diferenciada, que procura mostrar com estilo algo que poucos conseguem enxergar, que vai além do comum, mas que para isso precisaram ir por um rumo digamos controverso, que é o de ser um longa para poucos, pois mesmo com uma beleza interior bem moldada, o pacote acaba assustando o público por fora, já que não temos nada de padrão, nem no formato, nem no desenho, muito menos nas cores, e assim sendo até recomendo bastante o longa para refletirmos, pois como arte, o resultado é impecável, mas como algo que seja vendável para o grande público, passa bem longe.
O longa nos conta que Tito é um menino tímido de 10 anos que vive com sua mãe. De repente, uma estranha epidemia começa a se espalhar, fazendo com que pessoas fiquem doentes quando se assustam. Tito rapidamente descobre que a cura está relacionada à pesquisa feita por seu pai ausente sobre o canto dos pássaros. Ele embarca numa jornada com seus amigos para salvar o mundo da epidemia. A busca de Tito pelo antídoto se torna uma jornada para encontrar seu pai ausente e sua própria identidade.
Em momento algum poderemos falar que os diretores aqui não são apreciadores de arte abstrata, pois é inegável ver o longa e não lembrar de obras de arte dos museus, aonde olhamos as vezes com olhares estranhos, em outros conseguimos ver algo a mais, e em alguns até enxergamos um mundo que vai muito além do nosso conhecido, e dessa forma Gustavo Steinberg, Gabriel Bitar e André Catoto conseguiram criar sua própria desenvoltura em cima de um mundo muito peculiar que vivemos, o mundo com medo de tudo, aonde um susto pode fazer você se encolher tanto até acabar virando uma pedra, enquanto os que sabem a cura para esse mal procuram fazer com que você se esconda mais ainda dentro de casa, ou até mesmo de uma redoma protegida, ou seja, trabalharam uma ideia muito bem desenvolvida, cheia de nuances, colocando isso em algo mais belo, cheio de cores (escuras, mas ainda assim são cores), que acaba fazendo o público refletir, e se encantar também por diversos momentos. Não digo que teria feito essa mesma ideia indo por esse fluxo, pois poderiam ter pesado um pouco menos a mão, para que o filme contivesse a essência inteligente, mas também fosse agradável para os pequeninos que tanto gostam de animações, e que com certeza passariam as mensagens entendidas, mas infelizmente não é um longa que dá para indicar para os menores, pois a chance de estranhar o que verão é alta.
Outra situação que não foi muito trabalhada foi a dos personagens não terem um carisma cativante como vemos em muitas animações, pois geralmente nos conectamos à eles torcendo para conseguirem algo, ou nos surpreenderem com algo, e aqui todos são bem simples, possuem seus defeitos e qualidades, mas não chamam a responsabilidade para si, porém com uma desenvoltura bem colocada, o jovem Tito que foi dublado com perfeição pelo jovem Pedro Henrique conseguiu nos envolver com sua persistência em querer fazer com que sua máquina funcionasse, e isso deu um bom tom para a trama. Dentre os demais personagens, chega a ser completamente engraçado o Alaor vivido pela voz entonante de Mateus Solano, que funcionou quase como um vilão secundário, estando atrás apenas do medo das pessoas, e que com muita sagacidade conseguiu chamar o teor forte para si, mesmo com um super sorriso estampado na cara. Os demais foram bem colocados ao menos para mostrar diferentes representatividades de pessoas que vemos normalmente em nossa vida, e mesmo sem chamar muita atenção, conseguiram ser funcionais para a história.
Quanto ao design da produção, não posso falar que é algo que não impressione à primeira vista, pois é muito diferente do que estamos acostumados a conferir em longas, principalmente os animados, com muita cenografia abstrata, imagens distorcidas de fundo, parecendo quadros pintados por pintores malucos que desejavam mostrar algo diferente, com um primeiro plano mais coeso, porém ainda assim com uma personalidade diferenciada, de modo que o filme não vem com uma desenvoltura sólida e clara do que desejava passar, mas que fluindo com belos tons de vermelho, verde, preto e amarelo, o longa acabou ficando denso e teve ainda sua mensagem bem expressada no formato escolhido, ou seja, arte sendo arte apenas.
Enfim, é um filme bem feito, mas que por ser tão diferente do usual acaba assustando um pouco o público, mas que vale ser recomendado pela estética, pela mensagem, e principalmente por ser algo artístico dentro de um mundo que é pouco valorizado, e sendo assim recomendo ele (mais para adultos do que para as crianças) como uma proposta reflexiva de atitudes, que pode até soar estranha num primeiro ato, mas que com o desabrochar da história acaba sendo coeso e interessante de conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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