Se tem um estilo que não é muito comum vermos nos cinemas são os longas investigativos bem feitos, seja pela forma, ou principalmente por diretores não serem ousados o suficiente para conseguir contar uma história mais coerente e forte ao ponto de prender o espectador na poltrona. Digo isso, pois sempre que vem algum longa do gênero de cara já falo, que ou vai ocorrer algo no final que me surpreenderá e ficarei de queixo caído, ou o filme vai se enrolar inteiro para no final nada ser considerado forte e empolgante como poderia, e dito e feito, "Crimes Obscuros" tenta se verter em um crime do passado, investigado por um policial com passado conturbado que em momento algum conseguimos entender seus anseios e impactos, com personagens desenvolvidos sem muita precisão, e que ao final até temos uma cena ao menos coerente com tudo o que foi entregue, mas que também não causa muito, e sendo assim fica até fácil entender a demora do longa em ser lançado nos cinemas, pois filmado em 2016, certamente ficaram na dúvida de se daria bilheteria, e ao menos a sala tinha um bom público, mais de curiosos do que de pessoas que saíram felizes com o resultado final.
O longa nos conta que o policial Tadek (Jim Carrey) investiga um caso de assassinato não resolvido e encontra semelhanças do crime em um livro do artista polonês Krystov Kozlow (Marton Csokas). Ele começa a investigar a vida do escritor e da sua namorada, uma mulher misteriosa (Charlotte Gainsbourg) que trabalha num sex club. Sua obsessão aumenta e Tadek fica cada vez mais atormentado, adentrando num submundo de sexo, mentiras e corrupção.
Embora a trama tenha uma produção americana, podemos dizer que ele é quase que 90% polonês, e lembra bem mais filmes europeus dramáticos pelo estilo, do que uma investigação policial americana, e o diretor Alexandros Avranas fez questão de manter esse estilo na pegada, nas cenas fortes de estupros, nas demonstrações dos clubes de estupro, e quando focava na personalidade do protagonista e em suas desventuras investigativas quase sem muito eixo, ele permeava para algo mais mental do que de atitudes, o que é um bom contraponto, porém não conseguiu ir muito longe, e dessa forma o filme ficou um pouco vazio de ação, mais cansando do que empolgando, o que não é comum no gênero, fazendo com que o lado obscuro (como o próprio título diz), não ficasse impactante nem no final escolhido, mostrando que embora seja baseado em algo que realmente aconteceu, a falta de ficção forçada em algo mais dinâmico, resultasse em um longa fraco e que acabamos olhando no relógio para ver quanto tempo já passou, mesmo o filme sendo de apenas 92 minutos.
Sobre as interpretações, Jim Carrey já estava com problemas em 2016 quando gravou o longa, e seus olhares, estilo de interpretar, e até mesmo a forma condutiva do personagem que ele colocou aqui demonstra o motivo dele ter se privado de um bom tempo longe das câmeras, e embora tenha colocado muita personalidade em seu Tadek, ele não fluiu como costumeiramente fazia, entregando até um bom policial problemático, mas como o diretor também não mostrou muito a origem e os problemas do personagem, ele acabou ficando vazio demais para empolgar e dar o seu máximo. Marton Csokas é daqueles atores dúbios que adoramos ver, e aqui seu Krystov veio preparado para confundir, desenvolver e instigar tanto o protagonista, quanto o público, fazendo ótimas cenas, mas que por serem poucas, acabam não chamando tanto a atenção, e certamente se o filme focasse mais nele, do que em Tadek, o resultado seria incrível. Já estou quase acreditando que Charlotte Gainsbourg é ninfomaníaca, pois depois de fazer a personagem principal de um longa com esse nome, aqui sua Kasia ataca bem nesse estilo, fazendo formas dinâmicas, e sendo misteriosa na medida, mas entregando sempre pontas soltas para a acusarmos, ou seja, fez o papel bem, mas nada que surpreenda. Quanto aos demais, tivemos boa conexões para mostrar muito a corrupção na polícia, mas nada que merecesse pararmos para reparar em alguém, fazendo que não tivéssemos ninguém mais para destacar.
O visual da trama é bem escuro, cheio de nuances moldadas, com locações fortes e chamativas, mas sem muitos objetos cênicos para valorizar a trama, tirando claro o começo com videocassetes mostrando os clubes de estupro, as diversas formas de acontecer, e claro a investigação de um crime do passado, mas sempre sendo simples de tramas, e criando apenas as dinâmicas necessárias para que o filme fluísse, ou seja, uma arte condensada que acaba até bem colocada, mas sem nada surpreendente realmente para mostrar o trabalho da equipe de arte. A fotografia ficou muito gelada, com tons azuis, cinzas e pretos, que tentaram dar um ganho de tensão para o filme, mas nada que valorizasse realmente a investigação.
Enfim, é um filme até razoável, mas que por não chegar realmente num clímax que valesse a pena, acaba sendo falho e deixando o público na mão de algo que fosse chamativo como a sinopse e o trailer prometiam entregar. Não diria que é um longa totalmente esquecível, mas também não posso dizer que é daqueles que recomendo que você vá conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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