Sempre acho interessante quando alguns documentários conseguem prender nossa atenção para algo que sabemos que é bem assim (infelizmente, pelas leis, pela forma do governo, pela cultura, e por tudo de errado que existe em nosso país), e até poderiam se aprofundar mais em diversos meandros caso quisessem, mas que acabariam saindo do rumo proposto. E com "Diários de Classe", a trama é desenvolvida em cima da tentativa de entregar educação para alguns grupos minoritários, que nem sempre estão com disponibilidade, vontade, ou até mesmo possibilidade de aprender, e coloco com esses três verbos, pois mesmo mostrando três protagonistas empenhadas em tentar melhorar suas vidas, ao redor delas, vemos outros tentando atrapalhar elas, e claro, eles próprios, de modo que ficamos interessados pelos atos, emocionamos com alguns momentos, e até sentimos a necessidade do longa fluir para outros vértices, porém, nessas idas para outros rumos, vemos pouco da análise da educação mesmo, aparecendo espalhada no começo da trama, e voltando com textos ao final do filme. Ou seja, acabaram indo de forma bacana nas denúncias, mas pecaram nas formatações que a história poderia ter trabalhado.
A sinopse nos conta que em três salas de aula para adultos se destacam três mulheres que têm em comum o desejo de melhorar de vida por meio do estudo. Vânia frequenta as aulas no presídio feminino enquanto acompanha o lento desenrolar de seu confuso processo criminal, a empregada doméstica Maria José todas as noites vai às aulas da Educação de Jovens e Adultos levando junto a filha pequena, e a adolescente transexual Tifany busca se adaptar à vida em abrigo e ser tratada pelo nome que escolheu, não mais pelo que consta em seus documentos.
Os diretores do longa, Maria Carolina Silva e Igor Souza, foram bem sábios na pesquisa e no desenvolvimento do projeto, de modo que as três protagonistas não só tiveram boas dinâmicas para contar seus problemas, como desenrolaram a trama para eles, de modo que tirando algumas cenas, o filme parece quase uma obra contínua como as contadas em longas de ficção, claro que aqui envolvendo muita realidade, aonde as protagonistas se desenvolvem com outras pessoas, vão falando e tendo seus momentos, e com muita desenvoltura acabam nem quase parando para depor, e a equipe foi condizente em escolher os locais para colocar suas câmeras, fazendo com que tudo parecesse até estar escondido (tirando uma cena no presídio, e outra na escola de adultos, aonde uma detenta e uma senhora não quiseram ser filmadas, e acabou entregando que o pessoal estava ali). Ou seja, souberam ser invisíveis, da melhor forma possível que uma equipe de documentário não engessado deva ser. O único detalhe, que já disse acima, mas vale frisar, foi o deles começarem o longa como algo voltado para a educação, e já irem para os frutos das discriminações que ocorrem nas minorias, entre elas, a educação, e sendo assim o filme é muito bem feito.
Não vou alongar o texto falando de cada entrevistada, mas diria que cada uma merecia até mais tempo de tela para desenvolver seus atos, desde Vânia com seu processo criminal complicado, seu filho desaparecido, e tudo mais que dariam um longa ainda mais cheio de detalhes, Maria José com suas atitudes para ter uma creche para a filha, e trabalhando em busca de direitos para outras empregadas como ela pudessem estudar tranquilas para conhecer mais direitos, e até mesmo a adolescente Tifany (que soou deveras confusa em alguns depoimentos), tem muito para ser mostrado, e talvez um rearranjo na montagem desse até outras virtudes para a trama, mas nada que fosse muito além.
Enfim, é um longa simples, forte, e que funcionou bastante, mesmo que indo por outros caminhos, como disse, o mote educação em si dá uma leve sumida em diversos momentos, mas no contexto geral, o resultado completo agrada. Sendo assim, acabo recomendando o longa para quem gosta de bons documentários, que fluem naturalmente sem muitas entrevistas, e claro que vale muito para vermos como o sistema nacional anda bem falho para quem ainda não viu isso. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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