Ainda estou me perguntando se realmente estamos no ano 2019, pois esse ano tem tantas refilmagens da Disney estreando que por vezes acho que voltamos lá trás, e eis que surgiu o primeiro do ano com "Dumbo", o clássico do bonitinho elefantinho que emocionou muitos nos anos 40/50/60/70/80/90, e até hoje quem consegue ver o desenho ainda deixa escorrer algumas lágrimas, porém agora com uma versão moderna, cheia de efeitos, e claro com um tom completamente diferenciado, afinal, nada menos que o maluco do Tim Burton foi escolhido para recriar esse mundo fantasioso, e ele felizmente não exagerou no que acabou entregando, tendo bons momentos emocionantes, trabalhando bem a alegoria circense para que o filme tivesse diversão, movimento e envolvimento, e facilmente os efeitos colocados por ele, juntamente de cores mais duras resultaram em algo que nos faça remeter bem a infância, dando boas lições de separações, de enfrentamento dos medos, e até sabendo dosar atitudes de humanidade. E sendo assim, o diretor nem quis colocar toda sua maluquice à prova, e nem exagerou no tom dramático demais que muitos esperavam de sua parte, deixando a trama gostosa de ver, emocionando bem de leve (esperava lavar o cinema!), e ainda assim fazendo um filme com sua cara, ou seja, um resultado agradável de acompanhar.
O longa nos situa em 1919, Joplin, Estados Unidos. Holt Farrier é uma ex-estrela de circo que, ao retornar da Primeira Guerra Mundial, encontra seu mundo virado de cabeça para baixo. Além de perder um braço no front, sua esposa faleceu enquanto estava fora e ele agora precisa criar os dois filhos. Soma-se a isso o fato de ter perdido seu antigo posto no circo, sendo agora o encarregado em cuidar de uma elefanta que está prestes a parir. Quando o bebê nasce, todos ficam surpresos com o tamanho de suas orelhas, o que faz com que de início seja desprezado. Cabe então aos filhos de Holt a tarefa de cuidar do pequenino, até que eles descobrem que as imensas orelhas permitem que Dumbo voe.
A grande sacada de Tim Burton foi fazer um filme com sua pegada, mas sem colocar força nem loucura suficiente para destoar do clássico, de modo que embora tenha mudado muita coisa, a trama funciona da mesma forma, os símbolos ainda estão colocados, e tudo deslancha maravilhosamente sem cansar, e o mais surpreendente é que o roteiro também foi de alguém que sequer pensou em fazer uma animação, afinal Ehren Kruger é especialista em filmes de terror e de ação, e ainda assim conseguiu encontrar carisma suficiente para que seu roteiro tivesse alma. E falando em alma, a dupla foi incrível em decidir que os animais não falariam, e só transmitiriam seus sentimentos com olhares, como realmente acontece na vida real, e dessa forma todos foram coesos nos olhares, e o pequenino elefante foi tão mágico nos seus olhares, que nos vemos como ele encantados a cada ato de aprendizado com os elefantes bolhas pulando, quase chorando ao ver sua mãe partindo, e cheio de expectativas a cada movimento de voo, ou seja, algo muito sutil e belo de ver, que funcionou juntamente dentro do contexto que a trama pedia por completo. Claro que se esperava muito do longa, principalmente por ser um clássico, por ter um diretor impactante, e claro por tudo de mágico que a Disney costuma proporcionar, e assim sendo, as expectativas estavam até altas demais, mas diria que o filme funciona de maneira leve, não causando tanto como poderia, e assim, o resultado também soa leve, e talvez um pouco mais de atitude e emoção daria um tom mais emotivo para o longa.
Antes de falarmos dos humanos em cena, temos de pontuar para a computação gráfica que criou os elefantes mais perfeitos e incríveis possíveis, com um carisma fora do comum, dando para o pequenino toda a simpatia gostosa de ver que emociona e agrada demais, e além deles, tivemos cavalos treinados, cachorros, e até ratinhos bem colocados, que no original tinham uma participação maior, mas aqui desaparecem logo no começo. Dito isso, temos de dizer de cara que o estilo Tim Burton de colocar personagens caricatos e excêntricos permanece em alta, pois tivemos um Michael Keaton tão cheio de trejeitos com seu Vandevere, que até chegamos a pensar que Johnny Depp foi contratado para a produção, mas não, Keaton estava lá presente, cheio de estilo, e com boas dinâmicas fortes fez seu trabalho, mas certamente poderia ter sido mais imponente em alguns atos para funcionar como um vilão ainda mais maldoso na trama, e claro, odiarmos ele. Colin Farrel é daqueles atores que possuem uma certa imponência nos personagens que faz, e aqui seu Holt até parecia que seria mais forte pelo trailer, impactando mais sem um dos braços, mas acabou que ficou bem encontrado na simplicidade, e até chega a nos envolver em alguns momentos, mas nada que o colocasse como alguém bem importante para a trama. Já Eva Green deu uma personalidade forte para os momentos de sua Colette, conseguindo não só chamar atenção pela beleza da personagem montada para o show, como em trejeitos marcantes e bem desenvolvidos para chamar atenção. Danny DeVito veio simples e efetivo para o show com seu Max Medici, sendo divertido, empolgado e até bem encaixado para o papel, de modo que valeria um desenvolvimento maior de sua gestão como dono do circo, mas ao final, ele volta com grande tino. As crianças Nico Parker e Finley Hobbins deram emoção para os atos junto do elefantinho, e com muita sagacidade, seus Milly e Joe acabam emocionando com ares tristes na face, mas trabalhando bem a doçura no encantar secundário. Quanto aos demais, todos tiveram momentos rápidos no longa, mas sempre procurando ter ao menos um ato de destaque, o que é legal de ver em longas circenses, mas certamente a imponência de Alan Arkin em suas cenas mais fortes valem a olhada para acertar em cheio.
No conceito artístico, a trama encontrou boas locações para erguer a lona, encantando tanto pelo lado mágico do espetáculo em si, sob o teto mais simples do circo dos Medici, aonde tudo soava familiar, cheio de problemas, mas sempre um ajudando o outro, até o colorido mundo de Dreamland, aonde um parque cheio de atrações revolucionárias para a época chama a atenção, conseguindo não só colocar o ato do voo do elefantinho para o centro do palco, mas mostrando que a equipe quis entregar um serviço de composição indo além do necessário, conseguindo encantar pela magia gigantesca nos olhares, pelo espetáculo imenso, e tudo mais, de modo que as cores da fotografia acabam mudando de tom, que enquanto inicialmente tínhamos algo mais puxado para o sépia, cheio de serenidade, ao mudar de rumos, o filme vai para tons mais fortes, imponentes, que desenvolvem o algo a mais, e claro ao final o tom muda novamente para ares mais abertos, em locações abertas, e que chamará muita atenção. Além disso tudo, a computação gráfica conseguiu encantar a todos não só com os personagens criados, como também os shows dos elefantes de bolha de sabão, os efeitos do fogo destruindo tudo em mais do que uma cena, e claro muita desenvoltura cênica para todos os lados. Quanto do 3D, o longa possui bons momentos de voo, alguns elementos saindo para fora da tela, e até alguns atos simples de profundidade visual, aonde o campo de visão chega a brincar com a vertigem do público, o que é bem legal de acompanhar com os óculos, mas também não chega a ser um longa obrigatório de ver com a tecnologia.
O longa foi bem desenvolvido musicalmente também, com entonações leves e bem formatadas para dar ritmo, criando leves compassos fortes nos momentos mais tensos para que o filme fluísse com impacto no público, o que mostra um ar bem coeso dos compositores, mas principalmente foram espertos em usar bons acordes circenses para que o filme ficasse sempre na mesma cadência. Além disso, tivemos uma ótima canção tocada por duas bandas diferentes, o que chama atenção da sonoridade, e os momentos usados, e claro que deixo aqui o link, para todos curtirem.
Enfim, é uma trama gostosa de conferir, que vai emocionar alguns, divertir a maioria, e claro encantar de fofura pelo personagem principal, que juntamente de uma trama coesa e funcional acaba agradando de certa forma. Diria que é um longa que acerta bastante, mas que por estar com uma expectativa alta para o que acabariam entregando, ficou levemente abaixo do esperado, mas que ainda assim vale muito uma recomendação. Ou seja, vá, se divirta, se encante, e claro volte a infância para alguns que viram quando mais novos o desenho, ou entregue para suas crianças uma trama simples e bem feitinha. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais estreias, então abraços e até logo mais.
1 comentários:
legal aqui é o fer
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