Sempre gostei de filmes europeus por não seguirem literalmente uma cartilha tão nominal como os longas americanos, mas sempre é bem engraçado ver que ficamos esperando esse formato para que um longa se encaixe na nossa visão e seguindo um caminho pelo menos agrade em algum ponto mais formatado. Digo isso, pois após conferir "Emma e as Cores da Vida" e não me empolgar com o que vi, fiquei pensando na mesma trama sendo dirigida por algum bom diretor americano, francês, ou até mesmo por algum argentino, e felizmente enxergo o longa muito melhor nas mãos de qualquer um sem ser o italiano Silvio Soldini, não por ser ruim, muito pelo contrário de forma que o longa feito por ele é até gostosinho de assistir, mas nas vertentes desses outros estilos de cinema, ou amaríamos demais tudo, ou sairíamos lavados de tanto chorar, ou ia ser daqueles que falaríamos que lixo de trama, enquanto nessa versão italiana temos um pouco de tudo, sem nada ocorrer. Ou seja, a trama trabalha bem o viés dos homens canalhas, das pessoas que se iludem facilmente com contos de fada, temos anseios de liberdade, e também diversos medos de atitudes, fazendo com que nada chegue bem profundamente como poderia, e assim a trama soa morna demais, embora volte a frisar, que é um longa bem interessante e gostoso, mesmo que um pouco alongado demais.
O longa nos mostra que Teo é um mulherengo publicitário que divide seu tempo entre a amante, a namorada e a elaboração de mentiras. Um dia seu caminho cruza com o de Emma, uma osteopata cega, e o que começa como mais um mero jogo de sedução se transforma numa relação inesperadamente íntima.
Um ponto extremamente notável da direção de Silvio Soldini é que ele conseguiu dois ótimos atores, e como não quis perder a essência de nenhum deles, deixou que ambos tivessem seus atos particulares ocorrendo de forma bem determinada, e quando ocorresse a junção, eles teriam seus eixos e quebras incorporados, e dessa forma o roteiro tem muitas aberturas e discussões, de modo que nenhuma vem de encontro com uma possibilidade bem encaixada. Claro que com essa desenvoltura o resultado até teve uma boa fluidez, conseguindo envolver o público com a força da protagonista em sua independência, que tenta passar para sua aluna, e claro para o público de enxergar muito além do que a própria visão permite, e também o elo do mulherengo que tenta ter coragem para assumir seus erros, mesmo gostando de sua liberdade moldada também. E nesse jogo o diretor trabalhou bem cada cena para que o filme não ficasse cheio de esquetes e até tentasse bem lá no fundinho enxergar um rumo coeso bem montado, mas infelizmente não explode, acabando até jogado demais, mas como disse no começo, o diretor foi bem esperto em alongar a trama, não deixando que as cenas fossem corridas, e muito menos suas ideias ficassem jogadas, sendo tudo encerrado na medida, mesmo que o filme não fosse encerrado realmente, e assim, o resultado acaba bonito, mas fraco como um grande e maior fruto.
Sobre as atuações, Valeria Golino encontrou bons momentos, entregou uma cega com ares fortes, e fez de sua Emma, uma mulher digna pelas atitudes, pelos ensejos, e principalmente por ser independente e ter uma vitalidade incrível de ser passada, conseguindo agradar não em uma ou outra cena, mas em todas do começo ao fim, dando vivência e envolvimento para a personagem, o que faz o público fixar completamente o olho em todas as suas atitudes cênicas. Adriano Giannini colocou para seu Teo todo o teor do homem garanhão moderno, que se acha o rei da cocada preta, se garante com diversas amantes, se acha super livre em tudo o que faz, mas que sempre tem seu ponto de quebra que ninguém vê, ou melhor, tenta não transparecer, e isso foi bom de ser mostrado, principalmente pelo ator conseguir entregar essa essência, de modo que mesmo fazendo algumas canalhices em cena, acabamos gostando dele, e assim sendo ele conseguiu agradar bastante também. Dentre os demais, tivemos leves destaques para Arianna Scommegna com sua Patti, uma cega que enxerga um pouco, mas é completamente deslocada de atitudes, sendo bem maluca e divertida suas cenas, na sequência de importância, Laura Adriani com sua Nadia, já sendo uma jovem cega que reluta em ter sua independência, e se rebela com a cegueira, e por último já bem mais simples e quase nem tão importantes, Anna Ferzetti como Greta e Andrea Pennacchi como Paolo, por serem as conexões que a trama pedia para as desventuras do protagonista, de modo que todos foram mais encaixados como bem secundários, deixando que os dois protagonistas entregassem tudo.
A equipe de cenografia foi singela nos elementos, colocando muitos obstáculos para que as jovens cegas tivessem de passar, mas trabalhando bem para que o público, e claro, o protagonista olhasse mais ao redor, vendo detalhes em seu apartamento, na vizinhança e até mesmo na família e no trabalho, criando vértices positivos bem encaixados que acabaram dando um tom bacana, e com boas escolhas de locações, a trama foi desenhada para envolver desde o simples consultório da protagonista, até o luxuoso escritório do publicitário, passando pelos apartamentos mais diferenciados possíveis, e chegando até um bar exótico no meio de um bosque, ou seja, tudo muito funcional e bem colocado no longa.
Enfim, como falei no começo a trama passa bem longe de ser algo ruim, pois consegue ser gostosa de conferir, tem bons momentos, e mesmo sendo um pouco alongada com praticamente duas horas de projeção, nos envolve de modo que não vemos o tempo passar, porém, poderia ter ido mais a fundo em alguma das propostas que o diretor nos apresentou, para que o filme ficasse mais comovente e chamativo, o que acaba não sendo um filmaço para recomendar. Mas fica a dica para enxergarmos um pouco além, e se envolver também com a trama, de forma que quem for conferir, certamente também sairá feliz de não perder tempo, pois volto a frisar, que é algo gostoso de acompanhar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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