Existem alguns filmes que praticamente assistimos já sabendo bem o que esperar deles, e filmes de assaltos planejados costumam ter um formato sempre bem casual: primeiro a organização parece meticulosa, com alguns na dúvida de se participam ou não, até que de praxe todos estão juntos para fazer acontecer, depois tudo parece tão fácil que até uma criança de 10 anos conseguiria pegar todo o dinheiro de um grande traficante, aí temos claro a fuga aonde tudo dá errado, e a confusão começa, e ao final sempre acabam com alguns fazendo o bem para alguém, e alguém dando uma sacada de como ficarem felizes com o resultado final. Pois bem, quem for conferir o longa da Netflix "Operação Fronteira" pode esperar exatamente tudo isso, nessa mesma ordem, pois o diretor não quis ousar muito, e quando assumiu o projeto no lugar de Kathryn Bigelow, que estava fazendo o longa para os cinemas, e depois desistiu ficando apenas como produtora do filme, e sendo assim, a trama tem até uma boa desenvoltura, mas aparenta sempre ir para um lado mais comum, ao invés de termos algo com mais personalidade, e embora seja um filme bacana de curtir pelas boas cenas de guerra no meio dos Andes, mostrando que a América Latina dominada pelos diversos cartéis não deixa que ninguém saia vivo fugindo com sua grana, o resultado final acaba bem sem dinâmica para empolgar como poderia.
O longa nos conta que Tom Davis, Santiago Garcia, Francisco Morales, William Miller e Ben Miller são cinco ex-soldados das Forças Especiais dos Estados Unidos que decidem se reunir para executar um plano arriscado: roubar um poderoso senhor do crime na fronteira que separa o Brasil da Argentina e do Paraguai. No entanto, quando o esquema dá errado, os antigos companheiros de batalha se verão forçados a embarcar em uma épica luta por suas vidas.
O diretor J.C. Chandor soube trabalhar com o roteiro para que não ficasse somente preso no miolo da floresta, mostrando que para um longa singelo virar algo maior é bem fácil. Digo isso dele, pois esse foi ao mesmo tempo a grande sacada de um filme de roubo num lugar remoto, mostrando que os grandes terroristas não estão tão preparados para serem assaltados (ao menos passaram isso), mas que também fugir deles é algo que também não será fácil, e ao desenvolver demais a fuga, com situações bizarramente malucas, ele foi deixando seu filme incoerente demais. Claro, que estamos falando de uma ficção, mas mesmo nas mais loucas histórias, precisamos ser coerentes, e quando estamos falando de um assalto à líderes de cartéis, com uma fuga gigantesca passando pelos Andes até chegar ao oceano, precisamos mostrar que não só falando espanhol para negociar as coisas que vai ser tudo moleza. Ou seja, o diretor foi coerente nas situações que lhe pediram para filmar, mas o roteiro poderia ter sido menos floreado para algo mais cheio de guerras mesmo, e menos road-movie florestal com tiros. Sendo assim, o problema prefiro optar em dizer que foi terem aumentado demais a história, e o diretor ter ainda magistrado algo maior que saísse do comum.
Agora algo que não podem reclamar de forma alguma foi a escolha do elenco, e sua disponibilidade para falarem muito em espanhol, trabalharem o espírito de guerreiros, e principalmente andarem muito nas filmagens, pois nesse contexto todos deram seu sangue e suor, para que o longa ficasse coerente. Oscar Isaac deu um tom bem normal para os policiais que acabam trabalhando inicialmente de forma legalizada, mas que acabam surtando com o pouco que ganham, e partem para o ilegal para dar um jeitinho, de modo que seu Santiago é impactante, consegue trabalhar bons momentos, e sabiamente encaixa os olhares numa ótima confidencialidade com seus antigos, e agora atuais parceiros. Ben Affleck se mostra o capitão da ação com seu Tom, e com muito desespero pelo atual momento que vive, o personagem foi conduzido pelo ator com muito eixo forçado, mostrando força e instinto para as cenas mais fortes, mas certamente poderia ainda ter sido mais lapidado em alguns atos para chamar melhor a atenção. Charlie Hunnam fez seu tradicional personagem de olhares vazios, mas criando algo forte para sentirmos tanto a pressão para com os amigos, quanto para com seu irmão aqui, vivido por Garrett Hedlund, mostrando que tanto William, quanto Ben são dois que querem viver o momento, e ir atrás de aventura, independente de como a loucura pode ser feita na trama, e ambos agradaram bastante. Pedro Pascal deu o tom mais latino para a produção, e fazendo o piloto Morales, conseguiu encontrar dinâmica nas suas poucas cenas, mas sempre chamando o ato para si. Quanto aos demais, diria que todos foram figurantes, tirando Adria Arjona com sua Yovanna que teve alguns momentos de luxo e um pouco mais de diálogo, mas nada que impressione, apenas fazendo olhares mais cadenciados.
O visual do longa foi bem denso no meio da floresta, na mansão do traficante com uma ótima sacada para o termo usado como a casa ser um cofre, boas cenas de ação no meio das favelas com traficantes, algumas boas cenas no meio do frio andino e nas montanhas, e claro boas sacadas nas cenas da praia, mostrando que os adolescentes fazem o papel de policiais do tráfico, de modo que cada ato vai acontecendo bem, tendo bons elementos cenográficos para funcionar, e o resultado até chama bem a atenção. Com uma fotografia bem esverdeada, o resultado visual não chega a criar tanta densidade, e mesmo nas cenas mais cinzas dos Andes, toda a tensão acontece morna, de modo que diria que necessitavam ter colocado mais momentos com tiros e sangues para que o filme ficasse mais forte e interessante.
Enfim, não é um longa de todo ruim, mas que merecia ter sido melhor trabalhado para chamar mais a atenção, e talvez com uma direção mais dura em cima das cenas, e não floreando tanto o roteiro, o resultado final empolgasse mais, quem sabe resolvam criar uma continuação a partir do ponto deixado para que possam melhorar as situações, mas acho bem difícil disso acontecer. Sendo assim, recomendo ele apenas para quem não tiver muitas outras opções. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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