Existem diversas palavras que daria para definir o novo longa de Jordan Peele, "Nós", mas a principal é genial, pois é daquelas tramas que se diferem de tudo o que já vimos, que brinca com duplicidade, que entrega expressões icônicas, que sabiamente se encaixa em um perfil para discutirmos, e muito mais! Aí você vem e me fala que o longa anterior do diretor também foi assim, e sim, ele ousa beber da mesma fonte, mas se lá a trama entregava algo com mais sutilezas, aqui o filme inteiro flui causando tensão, vai nos permeando com dúvidas, sagacidades e tudo mais, para que ao final, ligássemos tantos pontinhos que nossa cabeça parece até que vai explodir, e aí vem a dúvida: como vou escrever do longa sem entupir de spoilers, e eis que estou aqui, escrevendo e me acorrentando para não soltar nada que esse novo gênio do terror sem assustar, conseguiu encontrar em sacadas bem dinâmicas que vão deixar todos com muitas pulgas nas orelhas, alguns odiando tudo o que foi mostrado, mas outros desejando aplaudir tamanha a loucura e o impacto que o longa causa. Felizmente, estou nesse último grupo, pois estou em êxtase com tudo, que só estou imaginando a quantidade de prêmios que esse cidadão ainda vai ganhar com o filme.
A sinopse nos conta que assombrada por um trauma inexplicável e não resolvido de seu passado e agravada por uma série de coincidências estranhas, Adelaide sente sua paranoia se elevar quando sente que algo ruim vai acontecer com sua família. Depois de passar um dia tensa na praia com os seus amigos, os Tylers, Adelaide volta para sua casa de férias com a família. Quando a escuridão cai, os Wilsons descobrem a silhueta de quatro figuras iguais a eles de mãos dadas. NÓS coloca uma cativante família americana contra um adversário terrível e estranho: eles mesmos.
São inúmeras as qualidades do longa, e incrivelmente o diretor, roteirista e produtor da trama Jordan Peele, certamente sabia o que entregaria em sua obra, pois o filme tem nuances tão certeiras, que com apenas dois longas em seu currículo, ele nos permeia com sabedoria atos dignos de grandiosos gênios do gênero, encontrando vértices puros que conseguem fazer nossa cabeça ficar pensando demais após conferirmos o filme, e diferente do casual que ocorre em longas de terror, que ficamos com nojo de algumas cenas, arrepiados com outras, ou até pulando de susto em outras, aqui nada disso acontece, pois ele brinca com nossa mente, e causa todo o efeito após, o que faz do filme quase uma diversão durante a sessão, e um turbilhão de ideias enquanto estamos indo para nosso carro no estacionamento. Outro ponto extremamente favorável ao que o diretor fez no longa foi o fato de entregar sua opinião completa com o fechamento da trama, não deixando pontas abertas para que o público decida, entregando em flashbacks tudo o que ocorreu com a garotinha nos anos 80, toda a sacada em cima do que ocorre nos tempos atuais, e principalmente envolvendo com excelentes sacadas cada momento para que o filme flua explicando detalhes, mas não deixando nada bobo demais, ou seja, perfeição em cima da genialidade, e ainda se dá ao luxo de saborear cada momento para mostrar repetidamente e enfaticamente sua ideia. E assim sendo, que venham os louros das premiações, pois novamente ele merece.
Sobre as interpretações, no trailer já achava que era outra atriz ao invés de Lupita Nyong'o como a protagonista Adelaide, pois com uma desenvoltura bem jovem, não aparentava ser uma mãe de família tão cheia de detalhes, mas não, a jovem atriz não só pegou o papel duplo, como deu um show de olhares, de lutas, de enfatizações, e tanto na versão real, quanto na vermelha, a atriz entregou trejeitos tão fortes e bem colocados que chega a assustar a perfeição de movimentos, ou seja, há potencial para ela também nas premiações. Winston Duke funciona bem como alívio cômico para a trama com seu Gabe, e embora tenha cenas tensas, seu personagem acaba mais divertindo do que causando em qualquer um dos momentos, e não que isso seja algo ruim, só poderia ter sentido mais a pressão para que o personagem não destoasse do restante. Os jovens Shahadi Wright Joseph e Evan Alex também foram imponentes com atuações maduras, trejeitos espantados, com medo, e claro, muita desenvoltura cênica para que cada um com seus dois papeis soassem não só diferentes no estilo, mas permanecessem com semelhanças, de modo que tanto Zora e Jason, quanto Umbrae e Pluto são personagens de mesmo nível que a mãe na maioria das cenas. Dentre os demais, tivemos boas cenas também com a família Tyler, de modo que as expressões sarcásticas de Elisabeth Moss e Tim Heidecker encaixaram bem na versão casual com seus Kitty e Josh, mas quando voltaram como Dhalia e Tex, deram um tom expressivo tão bem colocado e monstruoso, que chega a dar medo só de olhar, ou seja, foram muito bem também.
O conceito visual brincou muito com o figurino dos personagens, trabalhando bem com o uniforme vermelho dos "acorrentados" para destoar dos personagens de cima da superfície, então aqui deixo até uma dica, preste bastante atenção no texto colocado na primeira cena do filme, e com uma maquiagem incrível também para diferenciar cada um, o resultado foi algo de primeiríssima linha. Além disso, tanto as casas de praia, como o parque em si, visto nas duas épocas já é algo assustador em si, moldado com linhas tensas ao redor, que mesmo tendo uma desenvoltura alegre, afinal estamos na praia, temos um parque pronto para se divertir com muitos brinquedos, o resultado sabemos só de olhar de relance que não será algo tão bom, e o acerto fica perfeito em todos os momentos, além claro, das cenas subterrâneas, aonde temos os milhares de coelhos, as cadeiras escolares, e na cena que explica tudo, temos atuações de figurantes tão bem feitas, que acabam virando elementos cenográficos precisos e bem incorporados para a trama. Com o tom colocado num nível bem escuro, o longa quase brinca com jogos de sombras, e claro que quando descobrimos o que seriam as outras pessoas, o resultado fica mais denso ainda, porém poderiam ter brincado mais com essa forma subjetiva para causar medo, e infelizmente usaram bem pouco esse recurso, e talvez esse seja o único motivo para que eu não desse uma nota máxima para o filme.
O filme contou com grandes clássicos musicais de rap, e o melhor, trabalhando bem a letra para o público ficar horrorizado com toda a situação, e mudando alguns tons do ritmo original, até "I Got 5 On It" acabou ficando tensa para toda a situação, que juntamente de outras boas entonações musicais da trilha orquestrada, acabou dando teor e ritmo para o longa. E claro que deixo aqui o link de uma playlist com as canções tocadas, e também o link da trilha orquestrada completa.
Enfim, é um filme muito sagaz, cheio de situações bem montadas, que talvez desagrade alguns por não assustar tanto como é comum de vermos em longas de terror, mas que pelo estilo trabalhado, pelo roteiro envolvente, e principalmente pelas ótimas interpretações cheias de trejeitos que vão nos encontrando aos poucos até o derradeiro e certeiro fechamento, o longa não só vale a recomendação, como mais para frente iremos colocar ele como um dos clássicos do gênero, pois tudo foi muito bem trabalhado e cheio de situações para serem lembradas com muita certeza. Como disse mais para cima, talvez alguns detalhes fariam que eu desse um 10 para o filme, e cogitei até a última linha escrever essa nota, mas fico com um 9,7 para ser preciso, e como não tenho notas quebradas, irei dar um 9 para talvez me arrepender muito mais para frente. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
2 comentários:
Já queria agora vou com toda certeza assistir!
Vá sim amigo... você vai gostar!!
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