Já tinha dito esses dias atrás o quão difícil é para uma família ter uma pessoa viciada em drogas, que dificilmente consegue sair da situação, e geralmente acaba machucando mais seus entes do que tudo, mas se no outro filme a situação era light apenas pelas internações e sumiços, aqui em "O Retorno de Ben" o problema é bem mais embaixo, pois tendo como base uma cidade pequena aonde alguns morreram envolvidos com o protagonista, sua volta de uma clínica de reabilitação vem como uma facada monstruosa trazendo outros problemas, além claro da iminente possibilidade das crises, e claro que para uma mãe isso é o fim, não conseguir confiar no filho, não saber como pode ajudar, e tudo mais. Pois bem, usando desse argumento fortíssimo, com um teor tenso a cada momento, colocaram uma atriz que sabe dominar essa tensão com primor, e o resultado é único, um filme que amargura a cada ato, e que comove com dor no peito a cada nova situação, mas que por ser meio trancado de opiniões, e praticamente ser o miolo de um filme, já que não sabemos muito do que ocorreu antes (só sendo colocado alguns motes jogados), e não vamos saber muito do que rola após o filme, o resultado não flui tão bem, e sendo assim, poderiam ter ido até mais forte em tudo, para aí sim o chão desabar.
A trama nos conta que Ben Burns é um problemático jovem que volta para a casa de sua família certa noite de Natal. Sua mãe preocupada, Holly, o recebe com todo amor, porém logo percebe que ele ainda pode trazer perigo para seu lar. Durante 24 horas que podem mudar sua vida para sempre, Holly deve fazer de tudo para impedir que sua família seja destruída.
Embora seja calorosa a recepção que a mãe dá para o filho num primeiro momento, podemos dizer claramente que o filme de Peter Hedges é extremamente frio, com nuances duras a todo momento com a desconfiança familiar (afinal aparentemente o jovem já destruiu outros natais e celebrações da família!), com diversas aparições de ex-amigos traficantes e problemas para todo lado, mas principalmente pelo diretor ter colocado uma pulga a mais jogando a responsabilidade para seu filho Lucas, o colocando como protagonista da trama, e se no longa anterior que ele dirigiu o filho ainda era bem jovem, agora ele poderia mostrar para o pai que é extremamente expressivo e conseguiria agir com responsabilidade para cada ato importante da trama, ou seja, é nítido em todas as expressões do garoto a necessidade de entregar um filme perfeito, e o diretor claro que exige isso a todo momento também. Com esse jogo de atitudes, a trama só precisava claro para fluir melhor a tensão alguém que soubesse se entregar para o filme a sensação de desespero, e claro que o diretor teve uma ajuda imensa da ótima personalidade de Julia Roberts, ou seja, com seu roteiro forte, atores bem dispostos, e ele colocando fogo no gelado clima tenso que criou, Peter só necessitava ter criado uma história melhor de começo (ou talvez alguns flashbacks fortes mostrando os conflitos passados do garoto, as coisas que ocorreram na cidade com ele, e por aí vai), e talvez fechar seu filme uns 5 minutos a mais, que aí sim teríamos algo incrível para lavar o cinema, mas ainda assim da forma que é apresentado, muitas mães certamente irão se desesperar muito, e o resultado será funcional ao menos.
Sobre as atuações, de fato Julia Roberts está incrível como sempre, e desesperada para tentar colocar seu filho debaixo de suas asas maternas e não deixar que nada lhe aconteça, e que principalmente ele não volte para as drogas, e dessa forma cheia de personalidade, sua Holly é mais forte do que o comum, conseguindo mostrar a personalidade que tanto coloca em seus filmes, mas sendo coesa para não soar exagerada, e assim sendo, a atriz dá mais um show. Diria que Lucas Hedges tem estilo, mas é meio que sem expressão, de modo que seu Ben é intrigante por tudo o que passa, mas não consegue comover com suas atitudes, e isso é algo ruim de observar, pois ele poderia ter sido daqueles que o público se apaixonaria ou odiaria pelo que faz, mas não atinge nenhum grande ápice. Quanto aos demais, praticamente todos ficaram em segundo plano, e não chamam a atenção devida, tendo raras cenas de desespero por parte de Kathrryn Newton com sua Ivy, e uma superproteção por parte de Courtney B. Vance como Neal, mas como falei no começo, não tivemos as histórias antes do momento atual do longa, e assim sendo eles parecem meio que jogados na trama também.
A parte cenográfica foi bem trabalhada, mas funcional para representar alguns momentos, como a ida ao grupo de dependentes, o passeio conturbado numa loja de shopping, as casas de possíveis pessoas que pudessem ter cometido o crime, e claro a própria casa com a grandiosa lembrança do sótão, além claro da conturbada ida à missa aonde todos olharam caoticamente para o protagonista, ou seja, o filme nesse primeiro ato foi denso de olhares, mostrando tudo o que um passado ruim trouxe para a família, e até esse ponto a dose ficou a cargo da tensão pelo garoto, mas num segundo ato, a equipe já passou a mostrar o lado do tráfico, indo em lugares escuros, com usuários se drogando em vielas, na beira do rio, e claro, o traficante atiçando ainda mais o jovem, e claro a mãe se desesperando ao passar por esses lugares. Ou seja, a equipe artística pesquisou bem para entregar um longa denso para ambos os lados, e ainda funcionar como quase um road-movie nas cenas dentro do carro passando por todos esses pontos, ou seja, uma façanha imensa, que a fotografia soube dosar os tons sempre puxados para o mais escuro para criar tensão, mas por ser um inverno natalino, o clima frio e o branco da neve sempre contrapondo para criar as nuances.
Enfim, é um filme forte, bem trabalhado, mas que poderia ser muito mais impactante contendo mais informações cênicas gravadas, e não apenas ditas pelos personagens, de modo que o filme acaba sendo muito subjetivo, e funcionando mais para familiares e/ou pessoas que conhecem outros viciados em clínicas, que tiveram grandiosos problemas na vida social, mas que mesmo da forma singela entregue vai comover muitos, e envolver bastante o público, sendo algo com um bom tom, que agrada e funciona razoavelmente bem, valendo a recomendação. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, encerrando a semana nos cinemas, mas volto em breve com alguns textos do streaming, então abraços e até logo mais.
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