Geralmente quando um longa trata de drogas, acabam focando mais no protagonista e/ou no parceiro(a), e ao entregar a dinâmica mais fechada nem paramos para pensar em quão devastador é o efeito de tudo em cima dos familiares, e isso é a principal diferença de "Querido Menino", que logo na primeira cena conhecemos mais o pai do protagonista, e logo na sequência e durante vários flashs acabamos entendendo mais a relação incrível de pai e filho que há entre eles, e como a decepção pelo envolvimento em não conseguir sair desse meio foi desgastando tudo. Ou seja, temos um filme denso em cima desse conflito familiar, mas também vamos vendo o quão duro, forte e intenso é o poder das drogas, e que sair desse meio é algo que é bem mais fácil de ir para o caixão do que para a felicidade. E com essa trama tensa, o filme só não é melhor por ter tantas quebras cênicas para os flashs, e que com uma montagem não usual, acaba cansando um pouco o público, porém ainda assim toda essa força entra no nosso peito e emociona com o resultado final, tendo boas nuances e acertando no impacto.
O longa nos mostra que David Sheff é um conceituado jornalista e escritor que vive com a segunda esposa e os filhos. O filho mais velho, Nic Sheff, é viciado em metanfetamina e abala completamente a rotina da família e daquele lar. David tenta entender o que acontece com o filho, que teve uma infância de carinho e suporte, ao mesmo tempo em que estuda a droga e sua dependência. Nic, por sua vez, passa por diversos ciclos da vida de um dependente químico, lutando para se recuperar, mas volta e meia se entregando ao vício.
Assim como fez em seus longas anteriores, o diretor Felix van Groeningen ("Bélgica", "Alabama Monroe"), usou da essência do livro homônimo de David Sheff e do livro "Tweak" de Nic Sheff para fluir sua trama, não deixando muita influência externa para que o público crie sínteses maiores pensando em outras alternativas, mas como ele é um dos diretores que mais sabe ousar em fluxos introspectivos, ele acabou encontrando bons meios na edição para que seu filme criasse densidade, e claro encontrasse boas saídas conectivas entre os dois pensamentos do pai e do filho, criando o elo de envolvimento, emocionando e acertando em cheio o público com cada momento, principalmente nas cenas finais. Ou seja, é praticamente um filme feito por 10 mãos, a do diretor, dos dois escritores (além dos roteiristas que adaptaram), e claro dos dois ótimos protagonistas, que souberam se entregar para seus personagens terem a vivência marcante na telona.
Sobre as atuações, é até engraçado ver como Steve Carell tem saído bem melhor nos dramas que tem feito do que quando fazia mais comédias, e aqui seu David é forte, e facilmente chama a responsabilidade para suas cenas, mostrando saber acertar seus atos tanto com bons olhares e trejeitos, quanto no tom dos diálogos para emocionar e envolver na medida perfeita. Timothée Chalamet certamente é o grande nome do momento, e só lhe falta acertar um papel menos introspectivo para que exploda perfeitamente, e aqui esse é justamente o maior problema de seu Nic, que mesmo lhe garantindo uma indicação ao Globo de Ouro, tenciona demais os seus momentos, e mesmo comovendo com cenas fortes das aplicações das drogas, das convulsões, e tudo mais que fez perfeitamente com ótimos trejeitos, alguns momentos acabam soando artificiais pelo exagero de introspecção, e isso acaba incomodando um pouco. Quanto aos demais personagens, Maura Tierney deu bom tom para sua Karen, mostrando a forca emotiva mais sóbria de alguém fora da relação, a mãe do garoto vivida por Amy Ryan apareceu pouco, mas teve boas cenas fortes, e até mesmo as crianças vividas por Oakley Bull e Christian Covery foram bem desenvolvidas e chamaram atenção na trama, mas se tenho de dar destaque para algum dos personagens com poucas cenas, certamente isso ficou a cargo de Kaitlyn Dever com sua Lauren nas cenas mais tensas da trama.
No conceito visual a trama foi trabalhada mais na casa do pai cheia de elementos simbólicos para mostrar com fotos, pinturas e até com objetos a relação entre pais e filhos, seja o protagonista, ou até com os pequenos, e indo além, tivemos as boas cenas nos centros de reabilitação, mostrando pouco ali, mas sendo bem efetivo nas cenas, mas certamente o grande elo cênico ficou a cargo das cenas aonde foram mostradas as aplicações das drogas, que foram tão reais que impressionaram muito, mostrando que a equipe pesquisou bastante para dar o maior realismo possível, e o acerto foi incrível. A fotografia trabalhou com tons bem fortes para criar tensão, mas nos momentos felizes do longa foram de um brilhantismo tão bem colocado com imagens em contraluz lindíssimas de ver, o que chamou bastante atenção.
Enfim, diria que o longa tem falhas claras que ficaram bem evidentes na forma escolhida para desenvolver o tema, e que fizeram o longa não estourar nas premiações como era esperado inicialmente quando o roteiro surgiu, mas que ainda assim o resultado final emociona, é bem impactante, e vale a pena ser conferido por todos, sendo assim uma ótima recomendação. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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